O Globo, n. 31544, 18/12/2019. Sociedade, p. 31

Agressão a youtuber é investigada como homofobia
Paolla Serra


A Polícia Civil investiga como homofobia as agressões sofridas pela youtuber Karol Eller na manhã de domingo, em um quiosque na orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Ela estava com a namorada quando se envolveu em uma confusão com outras três pessoas. O caso foi registrado na 16ª Delegacia de Polícia como lesão corporal e injúria por preconceito. Os dois suspeitos negam as acusações.

Karol ganhou fama por ser defensora do governo Bolsonaro,e o caso repercutiu na família do presidente, de quem ela é próxima. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) se pronunciou no Twitter sobre: “Deixo aqui minha solidariedade a Karol Eller. As fotos são bizarras! Lésbica e apoiadora do presidente Bolsonaro, ela já superou muitas situações difíceis, oro pra que logo se recupere. Pela direita, o agressor teria pesada prisão. Será que a esquerda apoia tal medida?”.

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) também se manifestou nas redes sociais: “Nosso mais absoluto repúdio à agressão praticada contra Karol Eller (...) Exigimos que as autoridades punam severamente o responsável! #SomosTodosKarolEller”.

Provocações

Em depoimento, a policial civil Suellen Silva dos Santos, namorada de Karol, disse que, no dia do ataque, as duas conheceram no quiosque um casal que estava com um amigo. Ao longo da conversa com o grupo, diz ela, um dos dois suspeitos, o supervisor de manutenção Alexandre da Silva, 42, passou a se referir a Karol como “ele” e disse que ela “não era mulher, era homem”.

Suellen narrou ainda que, quando a namorada disse que iria ao banheiro, Alexandre teria sugerido que “ela fosse atrás do quiosque mesmo”, já que, como homem, “não precisava usar o sanitário”. A agente disse também que o supervisor a teria elogiado e questionado: “Está fazendo o quê com isso? Isso é um homem?”. Alexandre teria, então, empurrado Karol de um jeito provocativo, tendo “desferido soco na mesma até derrubá-la no chão e deixá-la desacordada”.

— Trata-se de um caso típico de homofobia, sem ligação com a militância da vítima. De acordo com os depoimentos, os agressores chamavam a Karol o tempo todo de sapatão e demonstravam claramente preconceito — afirmou a delegada Adriana Belém, titular da 16ª DP.

— Já requisitamos os exames de corpo de delito de todos os envolvidos e vamos fazer diligências para localizarmos câmeras que possam ter flagrado a confusão e possíveis testemunhas do fato.

Liberada na segunda-feira do Hospital Lourenço Jorge, Karol também prestou depoimento ontem na delegacia.

— Não estou conseguindo falar nem ler direito. Estou com fortes dores na cabeça. Só quero agradecer a todo carinho que tenho recebido dos meus amigos e seguidores — disse à reportagem.

‘Não sou homofóbico’

Também em depoimento, os suspeitos negaram a versão de Suellen. Alexandre contou que, ao chegar ao quiosque, teriam percebido que uma pessoa (Karol), estava com uma arma na cintura,“fato que chamou a atenção”. Em determinado momento, Karol teria deixado a arma cair no chão, além de ter se apresentado como delegada federal.

Ainda segundo ele, o amigo tentou alertá-la sobre o risco do manuseio da arma, que é de Suellen. E declarou também que a youtuber teria ingerido cocaína no banheiro, apresentando sinais de alteração. Alexandre registrou ainda que a briga teve início quando Karol deu um soco no rosto do amigo e o agarrou, fazendo com que ambos caíssem no chão. Ele contou que a agrediu somente para se defender.

— Não sou homofóbico, não aconteceu nada disso que ela está dizendo. Eu e minha família estamos sendo ameaçados na rua por uma mentira absurda que essa menina inventou. Tenho certeza de que vamos provas que estamos falando a verdade —, disse à reportagem.

Apoio a Bolsonaro

Karol Eller tem 79 mil seguidores no YouTube e 239 mil no Instagram. Nas fotos, vídeos e textos, a youtuber aparece posando com o presidente, Jair Bolsonaro, seu filhos Eduardo e Jair Renan, além dos ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), Paulo Guedes (Economia) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos).

Recentemente, defendeu o presidente em entrevista à atriz Antônia Fontenelle. “Para mim, ele foi a única pessoa que defendeu minha história. Me sentia suja, errada. Ele (Bolsonaro) pode ser o Shrek, aquele ogro que o Brasil precisa. Você ser um político bonzinho, para abraçar, isso aí o Lula já foi”, disse.