O Estado de S. Paulo, n. 46903, 02/03/2022. Economia & Negócios, p. B12

Exportações podem crescer US$ 53 bilhões

Eduardo Laguna


 

A escalada recente das commodities tem potencial de gerar um impulso extra de até US$ 53 bilhões às exportações brasileiras deste ano, ajudando a amortecer o impacto na economia do choque de oferta com a invasão russa à Ucrânia.

Mesmo que a guerra tenha reforçado a tendência de desaceleração da economia global, o Brasil, vendendo seus principais produtos ao exterior a cotações mais altas, não terá de aumentar muito o volume das exportações para renovar o recorde na balança comercial. Se as previsões refeitas nos últimos dias por economistas estiverem corretas, os novos preços das commodities podem colocar pela primeira vez acima dos US$ 70 bilhões o superávit comercial.

Após a diferença das exportações para as importações alcançar o recorde de mais de US$ 61 bilhões no ano passado, 2022 começou com a perspectiva de menor tração do comércio internacional em razão da retirada dos estímulos monetários e fiscais lançados na pandemia para socorrer a economia global. Economistas passaram, porém, a revisar para cima projeções de balança comercial depois que os bombardeios na Ucrânia, com as consequentes sanções contra a Rússia, apertaram ainda mais a oferta global de commodities.

Ainda que o Brasil também tenha de pagar mais caro a partir de agora pelos produtos que traz do exterior, a avaliação é de que o saldo final será positivo, já que o País mais exporta do que importa. Mais de 70% das exportações brasileiras são commodities, conforme cálculo do Credit Suisse.

Perspectivas. Ao atualizar o cenário neste mês, o departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco elevou de US$ 286 bilhões para US$ 339 bilhões a expectativa às exportações deste ano. Ou seja, US$ 53 bilhões entraram na conta por causa da guerra, evento até então fora do radar.

O impulso ao comércio, com os investimentos decorrentes, pode não ser suficiente para anular os estragos, de dimensão incerta, da crise no Leste Europeu no Brasil, sendo o primeiro deles a puxada na inflação, que contrata mais juros e condições financeiras mais restritivas. É de se esperar, no entanto, uma melhora das contas externas, em que o déficit das transações correntes com o exterior pode se aproximar do zero, bem como um alívio nas finanças públicas em meio aos movimentos de desoneração dos combustíveis.

Com a inflação doméstica mais alta do que o esperado, o salto das commodities indica que a arrecadação do governo seguirá elevada. Nas previsões tanto do Bradesco quanto do Itaú Unibanco, o déficit das contas públicas – incluindo União, Estados, municípios e estatais, exceção a Petrobras e Eletrobras – deve terminar o ano em 0,3% como proporção do Produto Interno Bruto (PIB).

Na revisão de cenário do Bradesco, a previsão ao déficit nas transações correntes com o exterior – aquelas que, além do comércio de produtos, incluem contratações de serviços e remessas de lucro – foi reduzida de 0,9% para 0,3% do PIB. Economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa diz que os prognósticos do banco têm como base as cotações atuais das commodities porque, mesmo que a guerra tenha um desejado fim rápido, as matérias-primas não devem retornar tão rápido aos preços de antes. "Os efeitos (sobre os preços) tendem a ser duradouros", comenta o economista. 

Aumento

US$ 339 bi

é a estimativa de receita para as exportações deste ano feita pelo Bradesco

US$ 61 bilhões 

foi o saldo do comércio exterior do Brasil em 2021