Correio Braziliense, n. 20663, 19/12/2019. Política, p. 3

Contratos de R$ 6 bi sob suspeita
Renato Souza


Operação Lava-Jato chegou à 70ª fase mirando negociações da Petrobras para o afretamento de navios-sonda. Alguns dos convênios firmados têm validade até 2028 e, de acordo com as investigações, empresas que participaram das licitações tiveram acesso a informações privilegiadas. Os contratos investigados somam R$ 6 bilhões. Foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão expedidos pela 13ª Vara Federal de Curitiba. As diligências, deflagradas ontem, remetem a fatos que ocorrem nas primeiras etapas da Lava-Jato, quando o esquema de corrupção na estatal começava a ser desbaratado.

De acordo com o Ministério Público Federal, as fraudes ocorriam desde o afretamento dos navios, passava pelo abastecimento e continuava mesmo no serviço de transporte das cargas. O esquema teria sido montado na Diretoria de Abastecimento da companhia de petróleo, comandada por Paulo Roberto Costa, que atualmente é delator do caso. Os envolvidos podem responder pelos crimes de corrupção de agentes públicos, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Os primeiros indícios dos delitos foram encontrados após a apreensão do celular do ex-tesoureiro do Progressistas João Cláudio Genu, em 2015. Ele foi condenado no âmbito da operação.

No celular de Genu, foram encontradas diversas conversas que detalhavam as irregularidades e seus contatos com Roberto Costa. “Chama a atenção que um ex-tesoureiro de um partido estaria dando pitaco, vamos dizer assim, em contratos da Petrobras. Ele gerenciava um esquema de corrupção na área de afretamento de navios”, afirmou o procurador do Ministério Público Federal do Paraná Athayde Ribeiro Costa, um dos que atuam no caso.

A defesa de Genu informou que não vai se manifestar até ter conhecimento dos autos. O MPF vê indícios do pagamento de propina por empresas de transporte marítimo para diretores da Petrobras, com a finalidade de serem beneficiadas nas licitações realizadas pela companhia. “Existem contratos intermediados pelas empresas Tide e Ferchem que vão até 2020, alguns até 2027, alguns até 2028”, disse Ribeiro.

Em uma das conversas apreendidas, existem indícios de que o esquema continuou após 2012, quando Paulo Roberto Costa deixou a Diretoria de Abastecimento da empresa. “Nesse diálogo, Genu fala da estruturação da diretoria, notadamente a área de afretamentos, após a saída de Paulo Roberto Costa, o que nos chama a atenção para uma possível atualidade do esquema”, completou Ribeiro Costa.

Em nota, a Maersk Brasil, uma das empresas citadas na investigação, afirmou que “cooperará plenamente com as autoridades em relação ao caso em andamento”. A companhia confirmou que seus escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo foram alvos de buscas. As demais empresas não se manifestaram.

A Petrobras informou que é reconhecida como vítima do esquema que está sendo investigado. “A Petrobras trabalha em estreita colaboração com as autoridades que conduzem a Operação Lava-Jato e é reconhecida pelo próprio Ministério Público Federal e pelo Supremo Tribunal como vítima dos crimes desvendados”, informa um trecho da nota divulgada pela empresa. A assessoria da estatal informou ainda que “a Petrobras já recebeu mais de R$ 4 bilhões, a título de ressarcimento, incluindo valores que foram repatriados da Suíça por autoridades públicas brasileira”.