Correio Braziliense, n.20740, 05/03/2020. Economia. p.7

Analistas reveem projeções


Os dados fracos do PIB e o cenário adverso no setor externo por conta da epidemia do coronavírus provocaram revisões para baixo das estimativas de crescimento da economia em 2020. Algumas, para menos de 1,5%.

O economista William Jackson, da consultoria britânica Capital Economics, disse que a instituição mudou a projeção de 1,5% para 1,3%. “O número do quarto trimestre oculta uma desaceleração acentuada no final do ano. O indicador de atividade econômica do Banco Central aumentou acentuadamente em outubro, mas contraiu-se em novembro e dezembro”, explicou.

A XP Investimentos reduziu a projeção de 2020 de 2,3% para 1,8%. Para Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, a queda nos investimentos de um trimestre para o outro “projeta um quadro ruim para 2020”. “Nós revisamos de 2,4% para 1,7% a expansão do PIB este ano, por conta do coronavírus e do arrasto de 2019”, disse.

Mais otimista, Flavio Serrano, economista-chefe do Banco Haitong, destacou como ponto positivo a resiliência dos setores de serviços e o consumo das famílias. “Esperaria recuperação no início deste ano, com dados melhores de vendas. Em contrapartida, o consumo pode desacelerar ao perder o efeito do FGTS”, ponderou. Segundo ele, o primeiro semestre será afetado, mas deve haver recuperação no segundo. “A confiança está subindo há seis meses”, justificou. Ainda assim, o Haitong revisou de 2,3% para 2% o crescimento da economia em 2020. “Basicamente, por conta da incerteza do coronavírus na indústria”, explicou.

Surpresa

Luana Miranda, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), considerou surpreendente a queda forte do investimento no quarto trimestre do ano passado. “O crescimento baseado no consumo e não no investimento não é sustentável, nem de fácil aceleração”, afirmou. O Ibre-FGV também revisou sua estimativa para 2020, de 2,2% para 2%. “Mas estamos sendo conservadores no tamanho da nossa revisão, porque é muito cedo”, acrescentou.

O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, afirmou que os dados vieram um pouco abaixo da expectativa. “Houve algumas externalidades, mas, em termos internos, o governo queimou na largada com a política, tirando o ímpeto do ânimo que se desenhava”, observou. A Infinity mantém projeção de 2,2% para 2020. “O cenário do coronavírus ainda não se definiu. O nível de incertezas é muito alto para fazer nova projeção.” (SK, com colaboração de Rosana Hessel)