O Estado de São Paulo, n. 46514, 22/02/2021. Metrópole, p. A11

Fiocruz confirma mais doses importadas
Marcio Dolzan
Marlla Sabino
Célia Froufe
22/02/2021



São previstas 2 milhões de unidades esta semana; Saúde cobra publicamente orientação do Planalto sobre propostas de Pfizer e Janssen

A Fiocruz confirmou que receberá mais dois milhões de doses prontas da vacina Astrazeneca/oxford da covid19, que virão do Instituto Serum, da Índia. O lote deve chegar até o fim da semana. Em algumas cidades, como o Rio, a campanha parou por falta de imunizante. Já o Ministério da Saúde pediu ontem ajuda ao Planalto para destravar as negociações com as farmacêuticas Pfizer e Janssen.

O acordo firmado entre Fiocruz, a farmacêutica britânica Astrazeneca e o Serum prevê a aquisição de dez milhões de vacinas importadas. Os outros oito milhões serão importados ao longo dos próximos dois meses, mas ainda não há datas.

Cobrado por vários países, o CEO do Serum, Adar Poonawala, pediu no sábado paciência aos governos e disse priorizar a demanda da Índia, de 1,3 bilhão de habitantes. Em janeiro, o Serum já havia enviado dois milhões de doses ao Brasil, em complica negociação diplomática da gestão Jair Bolsonaro.

Na última semana, capitais – como Rio, Salvador e Cuiabá – anunciaram interrupção da aplicação da 1ª dose da vacina. A escassez tem elevado a pressão sobre Bolsonaro e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

A Fiocruz também recebeu, no último dia 6, a matéria-prima necessária para a fabricação do imunizante de Oxford no Brasil. A previsão de entrega desse lote, de 2,8 milhões de doses, é entre 12 e 15 de março.

Já o Instituto Butantan prevê, a partir de amanhã, o início da distribuição de novo lote da Coronavac, com 3,4 milhões de doses. Essa entrega, porém, deve levar oito dias. A demora na liberação dos insumos pela China atrasou o processo de fabricação nacional da Coronavac.

Pfizer e Janssen. Em ação rara, o Ministério da Saúde resolveu pedir de forma pública ao Planalto auxílio na negociação de vacinas com as farmacêuticas Pfizer e Janssen. Além de pedir orientação publicamente, a pasta disse esperar resposta do Planalto entre hoje e sexta. Segundo a Saúde, as transações estão "emperradas" por falta de flexibilidade das empresas.

O ministério detalhou ao Planalto que minutas de contrato preparadas por Janssen e Pfizer estão sob análise da consultoria jurídica da pasta. Profissionais da área enviarão parecer à Casa Civil "na expectativa de que esta possa indicar soluções". Entre os impasses com os laboratórios citados pelo secretário executivo da Saúde, Élcio Franco, está a solicitação de garantias de pagamento ao Brasil ao mesmo tempo em que se resguardam de eventuais efeitos graves que as vacinas possam causar.

Em janeiro, o governo chegou a divulgar nota pública com crítica à proposta da Pfizer para venda de 70 milhões de doses da vacina, que tem mais de 90% de eficácia. A gestão Bolsonaro disse que o contrato tinha cláusulas "leoninas" e "absurdas" e afirmou que o pequeno número de unidades colocado à disposição para o 1º trimestre traria "frustração" ao País. A Janssen também é considerada boa aposta por especialistas, pois demanda só uma dose.

Diante da lentidão do governo, o Congresso também se mobiliza. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), sinalizou que pretende ajudar a mediar a negociação com as fabricantes. Ele deve se reunir hoje, de forma virtual, com representantes da Pfizer e da Janssen. Segundo ele, o Senado tem uma proposta para que a União assuma a responsabilidade por eventos adversos da vacina, sem repercussão jurídica.

Sob pressão e lobby de laboratórios, a Saúde ainda autorizou anteontem a compra da vacina russa Sputnik V e da indiana Covaxin, ainda sem aval da Anvisa.

ESTA SEMANA

• Vacina de Oxford

A Fiocruz prevê receber 2 milhões de doses trazidas da Índia esta semana. No total, a compra envolve 10 milhões de doses, que chegarão nos próximos dois meses. Já as vacinas fabricadas na Fiocruz devem ser entregues entre 12 e 15 de março.

• Coronavac

O Butantan prevê iniciar, a partir de amanhã, a entrega de 3,4 milhões de doses, o que deve ocorrer ao longo de oito dias.

• Pfizer e Janssen

O Ministério da Saúde disse ter cobrado orientação do Palácio do Planalto, ainda esta semana, sobre questões jurídicas das propostas das duas farmacêuticas