O Estado de São Paulo, n. 46827, 01/01/2022. Economia, p. D4

Um 2022 vitaminado
Adriana Fernandes
01/01/2022



Na virada para o ano-novo, o Brasil entra em 2022 com um acúmulo de tantos problemas que a sensação é uma só: cansaço. O desgaste com batalhas que nem deveriam ter sido travadas, como o direito à vacina e à democracia, tirou o foco de outras lutas essenciais.

O Brasil tem sido pródigo em fazer o diagnóstico dos problemas e apontar seus culpados. E o que falta mesmo são soluções simples. A referência do "simples é mais" é exemplo do que deveria ser seguido nas políticas públicas.

O governo de plantão, Congresso e os grupos políticos que querem ser poder em 2023, ao contrário, continuam prometendo soluções milagrosas para os problemas do País quando vencerem as eleições.

No Brasil, quanto mais complicado melhor. Na maioria das vezes, as propostas "revolucionárias"

Na economia, o ano de 2022 é de pouco espaço para erros e muitos riscos por causa das eleições

para o governo federal dão errado pela falta de planejamento, desconhecimento das leis, da burocracia em Brasília, desejo em deixar uma marca espetaculosa sem diálogo e deslumbramento pelo poder.

Exemplos marcantes na área econômica podem ser enumerados. Vejamos cinco deles: a criação de um "superministério" da Economia para destravar as

decisões, a desoneração ampla dos salários, a abertura do País para o exterior, a reforma tributária e privatizações. Sejamos realistas, são poucas as chances dessa agenda avançar em 2022. Avanço mesmo será evitar novos desmontes e retrocessos.

Na economia, o ano de 2022 é de pouco espaço para erros e muitos riscos por causa das eleições. Seria muito mais fácil listar os problemas, desfiar um novelo de desgraças e oportunidades perdidas para desenhar o quadro econômico que o próximo presidente "com certeza" irá receber.

Os riscos econômicos para 2022 já têm sido alertados por economistas. A experiência de quem acompanha as reviravoltas econômicas e políticas mostram, porém, que muita água deve rolar no meio do caminho. O roteirista da novela Brasil já mostrou do que é capaz. Num país como o Brasil, com tantos problemas, não temos o direito de apostar na máxima de "quanto pior é melhor".

Podemos exigir mais, cobrar, pedir respostas e sair do modus operandi da "reclamação" – e da procrastinação – no qual muitos críticos ficam imersos em meio à certeza de que têm a respostas certas. Não podemos deixar que se repita o que aconteceu na eleição de 2018, marcada pelo nãodebate na área econômica.

Como aconteceu na pandemia da covid-19 e no combate às informações falsas, a imprensa terá um papel importante e precisará se renovar. Não será com listinha de perguntas genéricas aos candidatos, enviadas e respondidas por e-mails pelos assessores, que o debate econômico nas eleições será efetivo.