O Globo, n. 32041, 28/04/2021, Economia, p. 22

 

Waldery: “fizemos o processo de gestão fiscal responsável” 
Manoel Ventura
Geralda Doca
28/04/2021

 

 

Ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, Waldery Rodrigues Júnior disse ontem que fez o processo de gestão orçamentária de forma “responsável” e que cumpriu orientação do chefe da pasta.

— Nós fizemos todo o processo de gestão fiscal responsável. Essa é a orientação do ministro, e nós seguimos, por exemplo, com a solicitação de vetos de R$ 29 bilhões — disse ele, ainda como secretário especial de Fazenda, antes de se tornar assessor especial de Guedes.

Waldery se referiu aos vetos do Orçamento de 2021 para resolver a crise causada com a aprovação da proposta. Para solucionar o problema, e recompor os gastos obrigatórios, Bolsonaro vetou R$ 19,8 bilhões em gastos e bloqueou outros R$ 9,2 bilhões. Com isso, encaminhou ao Congresso um ajuste de R$ 29 bilhões nos gastos obrigatórios. Tudo isso para manter R$ 18,5 bilhões em emendas extras para parlamentares aliados.

Na crise do Orçamento deste ano, Waldery foi criticado dentro eforado governo. Do la dodos parlamentares, acrítica foi com relação a oque consideram a dificuldade dearticulação junto ao Congresso. No governo, a decisão de não encaminhar uma “mensagem modificativa” ao Congresso foi creditada a ele. Ot ex toé enviado quando há uma mudança muito grande nos parâmetros macroeconômicos, que indicam a necessidade de, por exemplo, recalcular as despesas obrigatórias. O texto não foi enviado, e ocorreram mudanças significativas na inflação e no salário mínimo.

A saída dele da Secretaria de Fazenda coincide com a assinatura da medida provisória (MP) que permite a redução de jornada e salário dos trabalhadores, com parte da renda sendo complementada pelo governo. Dentro do ministério, Waldery era visto como um entrave à edição de medidas como esta.

No Ministério da Economia, uma crítica comum era que uma série de pautas travava na Secretaria de Fazenda. Discutidas desde o início do ano, as medidas para preservação de emprego esbarraram em restrições orçamentárias apontadas pela equipe de Waldery.

As questões jurídicas foram resolvidas após o Congresso aprovar uma alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano que retirou a MP da meta de resultado das contas públicas de 2021, além de fazer outras alterações que permitiram a edição do texto. Ontem, Waldery ressaltou essa mudança na lei.

‘CARTÃO VERMELHO’

A saída de Waldery era cobrada pela ala política há meses e, segundo integrantes da equipe econômica, o desgaste causado pelo Orçamento evidenciou a necessidade de antecipar a mudança.

No ano passado, o próprio presidente Bolsonaro fez críticas a políticas sugeridas pelo secretário, que propôs o congelamento das aposentadorias — medida que tinha apoio de outros integrantes do Ministério da Economia. Bolsonaro afirmou que havia dado “cartão vermelho” à possibilidade.

Ferrenho defensor do ajuste fiscal, Waldery é um dos idealizadores da chamada PEC Emergencial, que prevê o controle de despesas públicas em caso de crise e também estabeleceu um limite de R$ 44 bilhões para o auxílio emergencial em 2021.