O Globo, n. 32026, 13/04/2021, Mundo, p. 19

 

Lasso terá que buscar aliados para governar Equador

Marina Gonçalves

13/04/2021

 

 

Eleito no domingo presidente do Equador, o ex-banqueiro Guillermo Lasso governará um país polarizado, em meio à crise sanitária e econômica causada pela Covid-19. Sua coalizão, porém, contará com uma base minoritária no Congresso, o que o obrigará a buscar aliados para governar. Lasso, de 65 anos, prometeu imunizar nove milhões dos 17,3 milhões de equatorianos nos primeiros 100 dias de governo e impulsionar o livre comércio para criar empregos. Analistas, porém, acreditam que ele terá dificuldades para pôr as metas em prática.

Lasso começou a trabalhar aos 15 anos na Bolsa de Valores e ascendeu até se tornar presidente do Banco de Guayaquil por quase 20 anos. Em 1999, ano em que o Equador adotou o dólar como moeda — o que não foi modificado nem nos 10 anos de governo de Rafael Corre a,umn acionalista de esquerda—foi nomeado ministro da Economia, mas renunciou um mês depois.

O futuro presidente, um conservador da Opus Dei, conseguiu quase 2,6 milhões de votos a mais do que no primeiro turno, chegando a 52,4% dos válidos e superando o economista de esquerda Andrés Arauz, aliado de Correa, que teve 47,6%. Ele contou em parte com o eleitorado do terceiro colocado no primeiro turno de fevereiro, Yaku Pérez, do Pachakutik, partido da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie). Pérez, rival do correísmo, pregou o voto nulo no segundo turno, que teve 17% de votos nulos e brancos, o maior índice já registrado no país.

No Congresso, o partido de Lasso, o Movimento Criando Oportunidades (Creo), contará com apenas 12 dos 137 assentos, além dos 18 da principal sigla aliada, o Partido Social-Cristão (PSC). O correísmo elegeuemfevereiro51deputados, o Pachakutik, 26, e a Esquerda Democrática, 18. Com isso, onovop residente, que assume em 24 de maio, será obrigado afazer concessões.

—Comum a estrutura política frágil, com apoio basicamente do P SC, será difícil alcançara maioria para legislar. —pontua Alfredo Serrano, diretor do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica  (Celag). —Não acredito que o Pachakutik dará apoio oficial a Lasso. Pelo contrário, será uma oposição ferrenha.

ALIANÇAS POSSÍVEIS

No entanto, María Villarreal, professora de Ciência Política da UniRio, observa que o movimento indígena não é homogêneo, e isso permitirá a Lasso fazer acordos.

— Há setores propensos ao diálogo e ao trabalho conjunto. A votação deste segundo turno é resultado desse diálogo e colaboração incipiente — afirma ela.— Além dos seus aliados tradicionais, ele terá o apoio de grupos políticos como a Esquerda Democrática.

— O desafio será implantar sua agenda neoliberal em um contexto de crise, quando há uma maior necessidade de participação do Estado na economia — diz Fabio Borges, da Universidade Federal da Integração Latino-americana.