O Globo, n. 32020, 07/04/2021, Economia, p. 19

 

Guedes pede cooperação mundial para vacinas

Manoel Ventura

07/04/2021

 

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu cooperação internacional, pública e privada, para ajudar a reduzir as desigualdades no financiamento e distribuição de vacinas contra a Covid-19. Em declaração por escrito ao Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgada ontem junto com o Panorama Econômico Global, Guedes afirma que o acesso equitativo às vacinas é o investimento de maior retorno global.

“A disponibilidade e o ritmo da vacinação são um fator chave para acelerar a recuperação e, portanto, o reequilíbrio fiscal. Diferentes ritmos de implementação de vacinas aumentam as assimetrias entre países em desenvolvimento, especialmente de baixa renda, enfrentando maiores desafios”, disse o ministro.

Apesar da fala do ministro, o governo Jair Bolsonaro tem adotado uma postura que pode dificultar o acesso igualitário à vacinação no mundo. O Brasil, por exemplo, foi contra a proposta, apresentada por cem países em desenvolvimento, de suspender a propriedade intelectual sobre as vacinas enquanto durar a crise.

‘OTIMISMO CAUTELOSO’

Ao FMI, Guedes defendeu a cooperação internacional e a transferência voluntária de tecnologia:

“A cooperação internacional é fundamental para garantir que as vacinas se tornem adequadamente disponíveis em cada país. Apelamos  aos setores público e privado, bem como às organizações multilaterais e cooperação bilateral, para ajudar a preencher as lacunas de financiamento e distribuição, inclusive incentivando transferência de tecnologia e licenciamento voluntário de propriedade intelectual.”

Sobre a economia global, o ministro afirmou que a ação política mitigou o impacto da pandemia e permitiu a melhora das previsões de crescimento. Para Guedes, há motivos para um “otimismo cauteloso”, mas a recuperação tem sido desigual e carregada de incertezas. Isso se deve ao surgimento de novas variantes do coronavírus e aos diferentes ritmos de vacinação entre os países, explicou.

Guedes observou ainda que a economia do Brasil se “recuperou acentuadamente” no segundo semestre de 2020.

BC: DESAFIO FISCAL

No mesmo evento, em discurso gravado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que os grandes desafios do Brasil estão sempre ligados ao controle das contas públicas:

— Os grandes desafios do Brasil estão sempre ligados ao fiscal. O país precisa transmitir credibilidade na área fiscal.

Ele recordou que, no ano passado, os países com maior débito fiscal tiveram as maiores desvalorizações cambiais. O real perdeu 22,4% em 2020, atrás somente das divisas de Venezuela, Seychelles, Zâmbia, Argentina e Angola, segundo levantamento da Austin Rating.