Título: Câmara inicia semana decisiva
Autor: Gisele Teixeira, Luciana Otoni e Luiz Orlando Car
Fonte: Jornal do Brasil, 09/02/2005, País, p. A3

Disputa pela presidência da Casa entra na reta fin

BRASÍLIA - A disputa pela presidência da Câmara entra na reta final a partir de hoje. A semana decisiva coincide com as comemorações dos 25 anos do Partido dos Trabalhadores (PT), mas o clima não está para muita festa. Dois integrantes da sigla se engalfinham na luta pelo cargo. A briga entre o paulista Luiz Eduardo Greenhalgh - candidato oficial da bancada - e o mineiro Virgílio Guimarães, que mantém candidatura avulsa, indica que a eleição será acirrada na próxima segunda-feira.

O excesso de concorrentes ao cargo pode levar a disputa para o segundo turno. Além dos petistas, correm por fora os deputados José Carlos Aleluia (PFL-BA), Severino Cavalcanti (PP-PE) e Jair Bolssonaro (PFL-RJ).

Nem bem descansaram do carnaval e os políticos já desembarcam hoje em Brasília para uma série de reuniões decisivas. As bancadas do PT e o PFL têm reuniões previstas para debater a eleição para a Mesa Diretora. No caso do PT, além do cargo de presidente, o partido tem direito ainda a uma das quatro vagas de suplentes. O PFL, por sua vez, quer manter a primeira vice-presidência. Amanhã, os peemedebistas se reúnem para decidir a quem darão apoio formal.

Os candidatos também participam esta semana de um debate na rádio CBN, um fato inédito na disputa pelo cargo e que mostra que a concorrência ultrapassou o perímetro do Congresso.

Para vencer em primeiro turno, é necessário maioria absoluta - metade mais um - dos votos válidos. Até agora, apenas Aleluia não registrou oficialmente sua candidatura na Secretaria-Geral da Câmara. O deputado chega hoje a Brasília, depois de passar o carnaval em Salvador, onde não deixou de fazer contatos políticos. O pefelista aposta que a eleição será decidida no segundo turno e diz que vai bater na tecla de que é a ''única solução para uma Câmara independente, que não se subordine ao Executivo''.

- Na medida em que a crise do governo se aprofunda e as candidaturas dissidentes se desintegram, a minha ganha corpo, porque eu não respiro o oxigênio do governo - afirmou ontem ao JB.

Candidato oficial do PT, Greenhalgh usará os últimos dias da campanha para tentar apagar a imagem a ele atribuída de parlamentar elitista, com pouco trânsito no chamado baixo clero da Câmara. Num esforço para ganhar a simpatia de todas as bancadas, o petista defende um calendário para a liberação das emendas parlamentares e o aumento do salário dos deputados - esta uma medida extremamente impopular em tempos de economia de gastos públicos.

No Senado o clima é menos tenso. Os parlamentares decidiram apoiar a candidatura de consenso em torno do nome de Renan Calheiros (PMDB-AL).

Após a eleição para a presidência da Câmara, o PT, que aposta na vitória de Greenhalgh, tem outro problema a resolver: o destino de Virgílio Guimarães. Ele não será expulso do partido, como já aconteceu com os parlamentares Heloísa Helena, Luciana Genro e João Batista de Oliveira de Araújo, o Babá, mas sairá enfraquecido do episódio.

Virgílio poderá perder a relatoria da reforma tributária por decisão do partido e ser destituído dos demais cargos que assumiu na Câmara, como o de membro da comissão Mista de Orçamento. Além da candidatura avulsa, a aproximação entre Virgílio e opositores do governo, como o ex-governador Anthony Garotinho, irritou ainda mais a cúpula da sigla.

Segundo analistas do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IPEP), este tipo de punição por parte do PT é considerada uma saída ''moderada'' para evitar novos problemas dentro do partido e junto aos aliados.