Título: Itália não se conforma com refúgio
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2009, País, p. A5

Embaixador é convocado para dar detalhes do caso Battisti. Itamaraty entra na briga

BRASÍLIA

A Itália decidiu chamar seu em- baixador no Brasil, Michele Valensise, para consultas em relação à decisão do governo brasileiro de conceder status de refugiado político ao ex-ativista Cesare Battisti. Condenado na Itália por quatro homicídios, Battisti conseguiu o status de refugiado por decisão do ministro Tarso Genro (Justiça).

A decisão italiana surgiu depois que a Procuradoria-Geral da República recomendou ao Supremo Tribunal Federal, em parecer, o arquivamento do pedido de extradição de Battisti. Após pronunciamento do governo brasileiro, o STF deve julgar a causa de Battisti, que aguarda em uma penitenciária de Brasília libertação.

O ministro italiano para Assuntos Europeus, Andrea Ronchi, afirmou ontem concordar "100%" com a iniciativa de chamar o embaixador. Ronchi classificou como "vergonhosa" a decisão do governo brasileiro de conceder refúgio político a Battisti. Ronchi declarou que é "intolerável que o assassino de quatro cidadãos italianos possa ficar em liberdade e viver tranquilo no Brasil".

O subsecretário italiano de Relações Exteriores, Alfredo Mantica, foi além e afirmou que Brasil e Itália precisam analisar a hipótese de cancelar o amistoso marcado para o dia 10 de fevereiro, em Londres, em virtude da tensão entre os dois países causada pela decisão brasileira.

Reação

Em nota divulgada ontem, o Ministério de Relações Exteriores reagiu às críticas e defendeu a posição do governo brasileiro. Na nota, o ministério afirma que tomou conhecimento da decisão do governo italiano e ressalta que "todos os procedimentos sobre a questão estão sendo seguidos de acordo com a legislação brasileira". O governo brasileiro afirma, ainda, que reitera a confiança manifestada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em carta encaminhada ao presidente italiano, Giorgio Napolitano, na qual defende o estreitamento das relações entre os dois países.

O advogado de Battisti, Luiz Eduardo Greenhalgh, criticou ontem a reação italiana. ­ Não entendo a pressão descabida, desmedida, desproporcional e ofensiva do governo italiano sobre as autoridades brasileiras. É um desrespeito. É uma vergonha ­ disparou. O advogado prometeu ingressar com novo pedido de liberdade para o italiano. (Com agências)