O Globo, n.32000 , 18/03/2021. País, p.6

 

OCDE cria grupo para monitorar combate à corrupção no Brasil

18/03/2021

 

 

Iniciativa é inédita e foi motivada por preocupação com retrocessos

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) criou um grupo permanente de monitoramento sobre o combate à corrupção no Brasil. A decisão, revelada pela “BBC Brasil”, foi tomada no fim do ano passado diante do que a entidade sediada em Paris viu como um recuo no combate à corrupção no país.

Segundo informações do jornal “Valor Econômico”, o grupo de monitoramento do combate à corrupção no Brasil é formado por Estados Unidos, Itália e Noruega e teve sua primeira reunião na semana passada, em Paris. De acordo com declarações à imprensa do chefe do Grupo de Trabalho sobre Suborno (WGB, em inglês) da OCDE, Drago Kos, é a primeira vez que a organização cria um grupo específico para monitorar um país.

Entre os motivos que levaram o Brasil a entrar no radar da OCDE estão o desgaste e o encerramento das forças-tarefa da Lava-Jato, que foram incorporadas ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Outro motivo é a lei contra abuso de autoridade, aprovada pelo Congresso em 2019 e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, contra a vontade do então ministro da Justiça Sergio Moro. Criticada por associações de juízes, procuradores e delegados, a lei prevê punições a servidores públicos dos três Poderes e inclui entre as ações criminalizadas, por exemplo, “abrir investigação sem indícios de crime” e “determinar prisão que não esteja em acordo com situações previstas em lei”.

Desde 2019, o país é alvo de alertas públicos do grupo de trabalho, que chegou a enviar missão de alto nível para encontros com autoridades brasileiras. Em novembro daquele ano, após a visita, a entidade declarou que, apesar de o Brasil ter sido reconhecido por seus significativos esforços no combate à corrupção após sua avaliação anterior, em 2014, “há agora preocupações de que o Brasil, devido às recentes ações tomadas pelos Poderes Legislativo e Judiciário, corra o risco de retroceder nos progressos feitos”.

POLÍTICA EXTERNA

A entrada do Brasil na OCDE é uma das principais bandeiras do governo Bolsonaro na política externa. Em nota enviada à “BBC Brasil”, o Itamaraty afirmou que “desde 2019, nunca houve por parte da OCDE qualquer manifestação oficial ao Governo Brasileiro sobre suposto retrocesso do país no combate à Corrupção” e que a criação do grupo de monitoramento não é iniciativa inédita, mas uma “prática” da entidade.

A OCDE, no entanto, reafirmou que é a primeira vez que um grupo de monitoramento de um país é criado. Os alertas públicos do Grupo de Trabalho sobre Suborno sobre o Brasil estão disponíveis em seu portal.

O Itamaraty também afirmou que “o Governo Brasileiro está comprometido com o processo de acessão à OCDE” e que “é o país nãomembro mais aderente aos instrumentos da Organização, sendo 99 de 245 instrumentos, um crescimento de 50% nos dois primeiros anos de governo”.