Correio Braziliense, n.21124 , 26/03/2021. Política, p.2

 

Gesto de assessor será investigado

Renato Souza

26/03/2021

 

 

 Recorte capturado

O presidente Jair Bolsonaro avisou a interlocutores que vai afastar do governo o assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins. Na quarta-feira, ele fez um gesto obsceno, ligado a grupos supremacistas brancos nos Estados Unidos e na Austrália, durante sessão do Senado em que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, expôs as dificuldades para a compra de vacinas contra a covid-19.

O ato aconteceu enquanto o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), discursava. A cena foi transmitida ao vivo pela TV Senado para todo o país. A pessoas próximas, Bolsonaro afirmou que o caso provocou enorme desgaste com o Congresso, que já está incomodado com a forma como o governo tem enfrentado a pandemia da covid-19.

O gesto de Martins foi notado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que pediu que a Polícia Legislativa fosse acionada para expulsar o assessor presidencial do prédio, o que não ocorreu.

Martins integra a ala ideológica do governo, que vem perdendo força para o Centrão, e já tinha seu espaço reduzido com a entrada de militares. Em sua defesa, ele alegou que estava arrumando o microfone do tipo lapela, preso ao terno, e negou ações supremacistas ou nazistas. “Um aviso aos palhaços que desejam emplacar a tese de que eu, um judeu, sou simpático ao ‘supremacismo branco’ porque, em suas mentes doentias, enxergaram um gesto autoritário numa imagem que me mostra ajeitando a lapela do meu terno: serão processados e responsabilizados; um a um”, ameaçou, em postagem no Twitter.

O gesto é usado por extremistas e associado a símbolos de ódio. Foi feito, por exemplo, por um atirador que atacou mesquitas na Austrália. Também é utilizado por grupos de supremacia branca nos Estados Unidos. Eles pregam que brancos são melhores, mais evoluídos e mais “puros” do que negros.

Ontem, Pacheco disse que a Polícia Legislativa vai investigar o gesto de Martins. “Imediatamente, determinei à Secretaria-Geral da Mesa que colhesse as imagens e as encaminhasse à Polícia Legislativa, para que, através de um procedimento próprio, investigue o fato, materialize a conduta através das provas a serem constituídas, identifique a autoria e avalie a tipicidade penal do fato”, afirmou. (Com Agência Estado)