Título: Rio, capital do trabalho precário
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2005, Economia & Negócios, p. A23

Indicadores do mercado fluminense sofrem deterioração há 20 anos, aponta professor da UFRJ

Os números mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre emprego e renda trazem más notícias para os trabalhadores do Rio de Janeiro. Há uma deterioração de diversos indicadores desde 2002, em ritmo superior à média nacional. As condições adversas no estado, no entanto, vêm produzindo números negativos há pelo menos 20 anos, resultado, segundo estudiosos, de problemas gerados quase meio século atrás.

Os moradores da região metropolitana do Rio que comemoram a redução na taxa nacional de desocupação de 12,3% para 11,5% entre 2003 e 2004, certamente não sabem que, no mercado fluminense, o índice não se moveu. O professor de economia da Faculdade de Direito da UFRJ Mauro Osório da Silva, com base em dados do Ministério do Trabalho, constatou que, de 1985 a 2002, os empregos formais avançaram apenas 9,3% na região metropolitana. A média nacional atingiu 39,98%. São Paulo e Minas Gerais registraram 27,4% e 65,9%, respectivamente. Para ele, a perda da força no mercado de trabalho, assim como em toda a economia do estado, tem razões históricas.

- Quando era capital, o Rio de Janeiro, envolvido com questões nacionais, não discutia políticas regionais de desenvolvimento. Depois de 1960, demorou-se a perceber que a capital já não era mais aqui, retardando o surgimento de uma preocupação local. Antes disso, houve programas equivocados de desenvolvimento industrial. A economia foi perdendo força e o resultado é que isso contamina a economia - afirma o professor, que defendeu tese de doutorado com o tema ''Rio Nacional, Rio Local: especificidades da crise carioca e fluminense''.

Os dados do IBGE mostram que a queda na renda foi mais acentuada no Rio. Desde 2002, o rendimento médio do brasileiro caiu 13,27%, e, no Rio, despencou quase 16%. Em Minas e São Paulo, as perdas foram, respectivamente, de 8,12% e 12,8%.

- Isso tem relação com o fato de a ocupação ter ficado mais informal, com maior participação do emprego sem carteira assinada e trabalho por conta própria, com baixa capacidade de gerar renda - comenta Adriana Fontes, pesquisadora do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).

Em 2004, o Rio teve a maior expansão no trabalho por conta própria: 2,9%. Em São Paulo, houve queda e, em Minas, alta de 1,5%.

A angústia na busca de uma vaga também castiga mais no Rio, onde apenas 7% dos desempregados se recolocam em 30 dias. A média é de 20% nas demais regiões e, em Minas, chega a 65%. Tatiana Menezes, 24 anos, passou um ano desempregada, até ser contratada como balconista em uma papelaria na Tijuca.

- Foi muito difícil. E sinto que hoje compro muito menos com meu salário do que antigamente.