Título: O 'ouro de tolo' do emprego no estado
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2005, Economia & Negócios, p. A23

O processo que deteriorou o mercado de trabalho no Rio nas últimas décadas correu em sentido oposto a um dos mais significativos indicadores econômicos, o Produto Interno Bruto (PIB). A preço de mercado corrente, verifica-se avanço de 128% do PIB fluminense entre 1995 e 2002, contra 108% no país, 99,12% em Minas e 91,2% em São Paulo. Mesmo sem desconto da inflação no período, os números permitem visualizar que a produção de riquezas no Rio não foi afetada pela falta de política detectada pelo professor Mauro Osório, da UFRJ. Mas por que esse vigor não se transmite para o mercado de trabalho?

- O setor da economia que mais cresce no Rio é o de petróleo, intensivista em capital mas não em trabalho - diz Adriana Fontes, do Iets.

O petróleo também provoca distorções nos dados da indústria e explica por que o setor contrata cada vez menos gente, apesar de uma produção que aparentemente não tem patinado tanto em relação à média nacional nos últimos dez anos. Tirando a indústria extrativa, a variação anual é bem inferior à média em nove anos desde 1995. Resultado: demissões nas indústrias em ritmo mais intenso que no resto do país.

- Sem política de desenvolvimento, a indústria do Rio não se modernizou, ao contrário de São Paulo - afirma Osório. O dinamismo industrial de outros estados como São Paulo se traduziu num parque industrial de produção de máquinas e equipamentos e eletroeletrônicos, setores que estão se beneficiando da melhora recente de alguns indicadores econômicos, explica o professor.

Mas o petróleo das distorções deverá, no futuro, intensificar sua participação como gerador de empregos, aposta Gilnei Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas.

- A licitação de novas áreas de prospecção vai trazer inúmeras empresas. Gradualmente, o petróleo será grande fonte do emprego, mas apenas para pessoas qualificadas - alerta Teixeira.

Pelo menos, o movimento se iniciou. O engenheiro Fernando Moura, de 35 anos, trabalha há sete em uma empresa de projetos de automação. A companhia criou uma área voltada ao setor de petróleo e convocou o funcionário, mesmo sendo de outra área. Fernando foi buscar qualificação em um curso do Senai.

- A virada no mercado de trabalho já está acontecendo - aposta Moura. - O setor vai crescer tanto que acho difícil sair dele.

O desafio, então, é fazer com que essa locomotiva econômica conduza o processo de recuperação do emprego e da renda, acredita o coordenador acadêmico do Ibmec, Ruy Quintans.

- O petróleo precisa de uma gestão política séria, de longo prazo - atesta.

Mas, para ele, a solução para o mercado de trabalho no Rio passa pela extensão do conceito de indústria.

- A indústria teve e ainda tem papel relevante na economia, mas tende a perder essa importância. Indústria não é só manufatura, mas serviços, turismo, entretenimento. Por incompetência, não se procurou descobrir as potencialidades do Rio, o que já poderia ter se traduzido em melhor nível de emprego. Precisamos estudar a fundo nossas vocações.