Valor econômico, v. 21, n. 5184, 08/02/2021. Brasil, p. 2

 

Missões diplomáticas ficam sem verba para aluguel

Daniel Rittner

08/02/2021

 

 

Embaixadas e consulados receberam em janeiro apenas 15% do valor previsto para o mês

As embaixadas e consulados do Brasil sofreram um corte inesperado de recursos em janeiro. Sem a aprovação do Orçamento geral de 2021, que até agora nem sequer teve comissão mista instalada no Congresso, os repasses às representações diplomáticas no exterior corresponderam a cerca de 15% do valor esperado, segundo relataram ao Valor três chefes de diferentes missões brasileiras.

Normalmente, quando o Orçamento não é aprovado a tempo, os ministérios costumam receber por mês 1/12 do que está previsto no ano todo. Desta vez, no entanto, o procedimento mudou e os diplomatas foram pegos de surpresa.

Com isso, várias contas estão sendo atrasadas: pagamento de aluguel da sede das embaixadas ou consulados (quando o imóvel não é próprio), contratos com fornecedores ou terceirizados, até mesmo faturas de luz e água.

No dia a dia de trabalho, conforme os relatos recebidos pelo Valor, também houve mudanças: viagens dentro de outros países para contatos com autoridades e empresários, bem como almoços e jantares de aproximação com representantes de governos estrangeiros, estão sendo pagos do próprio bolso dos embaixadores.

Muitos ouviram de Brasília a orientação de pedir aos donos dos imóveis, bem como para as empresas concessionárias de água e energia, uma postergação dos pagamentos para março. É quando, na visão do governo, o Orçamento deverá ter sido finalmente aprovado pelo Congresso e a situação se regularizaria.

Não é a primeira vez que o Itamaraty vive uma situação de penúria. Em 2014, a falta de Orçamento foi tão grave que faltava dinheiro para tudo - de passagens aéreas para compromissos oficiais a sabão nos banheiros do ministério em Brasília. À época, foi um dos principais fatores de desgaste do então chanceler Luiz Figueiredo.

A falta de dinheiro se reflete ainda na dívida com organismos internacionais. Neste ano, a proposta orçamentária prevê R$ 2,2 bilhões para pagamentos - seriam necessários R$ 10,1 bilhões.