Correio braziliense, n. 21044, 05/01/2021. Economia, p. 7

 

Um comércio pendular

Rosana Hessel 

05/01/2021

 

 

A pandemia da covid-19 colocou o mundo em recessão e fez estragos no comércio internacional em 2020. Pelas estimativas da Organização Mundial do Comércio (OMC), o intercâmbio global deverá crescer 7,2%, em 2021, depois de desabar 9,2% no ano passado. E, no Brasil, o avanço deverá ser mais modesto pelas projeções da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, que estima alta de 5,5% na corrente de comércio — resultado da soma dos embarques e desembarques —, para US$ 389,2 bilhões. Segundo analistas, há muitos desafios para o país ser mais competitivo.

Conforme dados da Secex divulgados, ontem, após as quedas de 6,1%, nas exportações, e de 9,7% nas importações, a balança comercial brasileira registrou superavit de US$ 51 bilhões, o terceiro melhor da série histórica iniciada em 1989, e o maior desde 2018. O resultado, no entanto, ficou levemente abaixo das estimativas do mercado devido, principalmente, ao aumento de quase 40% nas importações de dezembro, fruto de um artifício contábil da nacionalização de cinco plataformas de petróleo, pelo regime especial Repetro, que somou US$ 4,7 bilhões.

Em 2020, a corrente de comércio do país somou US$ 368,8 bilhões, dado 8,4% inferior aos US$ 402,7 bilhões contabilizados em 2019. Para este ano, as projeções da Secex indicam crescimento de 5,3% nas exportações e de 5,8% nas importações, resultando em um superavit de US$ 53 bilhões.

Apesar do saldo positivo na balança comercial em 2020, o Brasil não tem muito o que comemorar, na avaliação de José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "As importações e as importações tiveram queda. O superavit foi uma mera consequência desse quadro que ainda mostra o comércio brasileiro cada vez mais dependente das exportações de commodities e pouco competitivo no mercado de produtos manufaturados e de maior valor agregado", avalia.

Castro destaca que o país perdeu mercado junto a importantes parceiros comerciais, como Estados Unidos, Argentina e União Europeia e o crescimento das exportações brasileiras deste ano será mais um efeito estatístico sobre uma base muito ruim. "Voltamos ao patamar de 2010, com quase US$ 210 bilhões embarcados, ou seja, não houve avanços nessa década", destaca.

A última previsão da AEB estimava saldo positivo de US$ 51,9 bilhões em 2020, e, para 2021, a entidade está mais otimista do que o governo, pois espera um superavit comercial recorde de US$ 69 bilhões, puxado pela alta das exportações, principalmente, para a China, maior parceiro comercial do Brasil. Soja e minério de ferro, principais itens da pauta brasileira, não colocam o país como protagonista no cenário externo. "O Brasil não consegue aumentar sua participação no comércio global há várias décadas. Reforma tributária e mais investimentos em infraestrutura, que ajudariam a melhorar a competitividade, não avançaram", lamenta. Castro lembra que a ineficiência da logística e a elevada carga tributária pesam em 30% no preço final dos produtos nacionais lá fora, o chamado Custo Brasil.

Na avaliação de Wagner Parente, especialista em relações internacionais e CEO da BMJ Consultores Associados, "o que tinha de notícia boa para o agronegócio, que foi o destaque da pauta exportadora brasileira em 2020, já aconteceu".

 

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Acionistas aprovam fusão de Fiat e PSA

05/01/2021

 

 

Os acionistas da Fiat Chrysler e da PSA, holding controladora da Peugeot, aprovaram, ontem, em assembleia extraordinária, a fusão entre os dois grupos. Com o aval, será criada uma nova empresa, a Stellantis, dona das marcas Abarth, Fiat, Jeep, Dodge, Lancia, Ram, Chrysler, Alfa Romeo, Maserati, Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxhall. O acordo foi apoiado pelos principais investidores da PSA, como a família Peugeot, o Estado da França e a chinesa Dongfeng. Conforme dados enviados às autoridades financeiras, o valor da fusão é de 4 bilhões de euros (US$ 4,9 bilhões) e a sinergia entre as deverá economizar 5 bilhões de euros por ano (US$ 6,13 billhões). A Stellantis terá mais de 400 mil funcionários e será a 4ª maior montadora do planeta, com valor de mercado em torno de US$ 50 bilhões. A nova empresa ficará atrás da alemã Volkswagen, da aliança Renault-Mitsubishi-Nissan e da japonesa Toyota. No mês passado, a União Europeia aprovou a fusão e, assim como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) brasileiro.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Mercado reduz previsão do PIB de 2021

05/01/2021

 

 

A expectativa do mercado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano foi revisada para baixo, passando de 3,49% para 3,40%, segundo informações do boletim Focus do Banco Central divulgado, ontem. pela autoridade monetária. A mediana das projeções para o tombo do PIB em 2020 passou de 4,40% para 4,36%. O mercado baixou de 4,39% para 4,38% a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2020 e reduziu de 3,34% para 3,32% a expectativa de alta da inflação oficial deste ano. A confiança de empresários também piorou no mês de dezembro, conforme pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em dezembro de 2020, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuou 0,4 ponto e fechou o ano em 95,2 pontos. Em médias móveis trimestrais, o indicador caiu 0,7 ponto no mês.