Título: Dengue ainda ameaça o Rio
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2005, Rio, p. A13

Bairros apresentam índice de infestação de até 9,3%. Organização Mundial de Saúde diz que o aceitável é 1%

O alto índice de infestação do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, no Rio, pode contribuir para a disseminação de nova epidemia da doença. Especialistas alertam para o risco de os vírus tipo 4 da dengue, que está na Venezuela, e o tipo 2, circulando no Espírito Santo, atingirem a cidade. A proliferação do mosquito pode causar uma explosão de casos de dengue ainda este ano. Análise feita pelas autoridades de saúde, em seis bairros do município, aponta índice de infestação de até 9,3%. O limite estabelecido como aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 1%. O levantamento constatou que a média de infestação na cidade é de 5,5%. O Índice Rápido de Infestação foi feito pelas autoridades municipal, estadual e federal através de amostragem no dia 21 de dezembro. A análise revelou infestação de 9,3% no Méier, seguido por Marechal Hermes com 7,3%, Bonsucesso 6%, Bangu 5,4%, além de Santa Cruz e Campo Grande com 3,1% e 3%, respectivamente. De acordo com a subsecretária estadual de Saúde, Alcione Athayde, além da alta infestação, o município conta com número insuficiente de agentes de endemias. São 1.400 os mata-mosquitos, quando o necessário, segundo Alcione, seria o dobro.

- As chances da chegada dos vírus tipos 2 e 4 no Rio aumentam com a circulação de turistas. Enquanto isso, o número de pendências - casas não visitadas pelos agentes - continua alto - compara Alcione.

O Rio deve receber mais de 2 milhões de turistas até o fim do verão. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), 1,61% dos visitantes estrangeiros é da América do Sul. Dos turistas brasileiros, 0,96% vem do Espírito Santo.

Segundo o médico Roberto Medronho, diretor do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ, se o quadro de infestação não for alterado, novos casos da doença devem eclodir entre os meses de novembro e dezembro, deste ano, ou início de 2006. De acordo com Medronho, quando uma pessoa já está imunizada por um dos vírus e adquire outro tipo da doença, ela age de forma mais agressiva no organismo, podendo ocorrer a dengue hemorrágica e até a morte.

- Uma vez contaminada seja pelo vírus tipo, 1, 2 ou 3, a pessoa fica imune apenas àquele tipo de vírus - explica Medronho.

No Rio, a última epidemia foi provocada pelo vírus tipo 3, mais agressivo. O tipo 2, também considerado grave, foi registrado nas epidemias dos anos 1990 e 1991. O tipo 4 ainda não foi registrado no município.

- No ano passado, tivemos 504 casos da doença no Rio. Comparado com o ano de 2003, quando foram notificados 1.400 casos, houve redução nos registros - informa a coordenadora de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Meri Baran.

Para acabar com os focos do Aedes aegypti na cidade, a prefeitura vem mobilizando agentes de endemias, educadores, garis comunitários e mutirões de limpeza. Segundo Meri Baran, também está sendo feito o monitoramento da circulação do vírus no mosquito e no homem.

- No Rio, há quase 3 milhões de residências. Cobri-las com a visita dos agentes é quase impossível. Mas a estratégia da prefeitura está dando certo, não ter detectado a presença do vírus no monitoramento é um exemplo - anima-se Meri.