Título: Aposta nos jovens
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2013, Mundo, p. 22

Falando a universitários, presidente dos EUA desafia israelenses a "olhar para o mundo com os olhos dos palestinos"

Depois de se reunir com veteranos líderes de Israel e da Palestina, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, encerrou ontem o segundo dia de visita ao Oriente Médio com um apelo direto a universitários israelenses — para que façam da paz uma exigência aos políticos, em nome do futuro de ambos os povos. “Coloquem-se no lugar deles (os palestinos). Olhem para o mundo com os olhos deles. Não é justo que uma criança palestina não possa crescer em um Estado próprio e tenha de viver com a presença de um exército estrangeiro, que controla os movimentos de seus pais todos os dias”, convidou Obama em discurso no Centro de Convenções de Jerusalém. Mais cedo, em breve visita a Ramallah, no território da Cisjordânia, ele se encontrara com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, e com o premiê Salam Fayyad. O visitante, porém, não apresentou nenhuma proposta concreta para a retomada das negociações.

Considerado o ponto alto de sua primeira viagem como presidente a Israel e à Palestina, o discurso de Obama foi visto como contraponto ao feito no Cairo (Egito), no início do primeiro mandato. Na ocasião, ele propôs um “recomeço” nas relações entre os EUA e o mundo islâmico. Desta vez, reafirmou a “aliança eterna” entre EUA e Israel. Ontem, o presidente mencionou a colonização judaica na Cisjordânia, apontada pelos palestinos como obstáculo ao processo de paz, mas não endossou a exigência de que seja congelada a ampliação das colônias. “Os israelenses devem reconhecer que a continuada atividade de assentamento é contraproducente à causa da paz, e que uma Palestina independente deve ser viável.” Dirigindo-se à plateia, Obama encorajou os jovens a exigir que os políticos “assumam riscos pela paz”.

Horas antes, Obama tinha se reunido por três horas com Abbas e Fayyad na Muqata, sede do governo palestino, e pediu a eles que deixem de colocar o congelamento como condição para voltar à mesa de negociação. No mesmo tom que adotara na véspera, o presidente americano reafirmou seu “profundo compromisso” com a solução de dois Estados — com uma Palestina independente vizinha a Israel. Como esperado, a visita motivou protestos em Ramallah. Contidos por policiais da AP, os manifestantes exibiram cartazes e gritaram lemas, mas não conseguiram se aproximar dos líderes. Já pela manhã, um grupo armado baseado na Faixa de Gaza, chamado Guardiões de Jerusalém, assumiu a autoria do disparo de dois foguetes que caíram em Sderot, no sul de Israel, sem deixar feridos.

O professor Houchang Hassan-Yari, da Royal Military College of Canada, iraniano e especialista em Oriente Médio, compara os dois momentos — o início do primeiro e do segundo mandato de Obama — e lembra que havia grande expectativa de que o presidente usasse poder e influência para ajudar a resolver o conflito entre israelenses e palestinos. “Tirando Israel, todos os países da região estão desiludidos com as políticas desse governo (dos EUA)”, opinou, em entrevista ao Correio. “Quando ele chega a Ramallah e diz que os EUA são a favor da solução de dois Estados, isso faz parte de uma retórica”, criticou.

A viagem de Obama tem sido vista com ceticismo por ambas as partes. Em comunicado, o chefe do governo no território palestino de Gaza, Ismail Haniyeh, do movimento islâmico Hamas, indicou que “não espera qualquer avanço”. Mesmo entre os estudantes que assistiram ao discurso do visitante em Jerusalém, alguns afirmaram estar descontentes com a postura do líder norte-americano. “Não vejo nenhuma mudança na política americana para o Oriente Médio desde o discurso do Cairo”, disse à agência Reuters Mayada Mohammad Yousef.

Gritos na plateia

O pronunciamento de Obama aos universitários chegou a ser interrompido por gritos de um homem no fundo do auditório. Esforçando-se por entender o que dizia o manifestante, Obama brincou e disse que não se sentiria “confortável” se não tivesse pelo menos uma manifestação como aquela. “Isso faz parte dos vívidos debates de que estamos falando”, brincou. Segundo a Casa Branca, o jovem, falando em hebraico, “presumivelmente” pediu a libertação de Jonathan Pollard, analista de inteligência judeu americano condenado à prisão perpétua em 1987, por espionar para Israel.

Khamenei ameaça “arrasar” Tel Aviv No dia seguinte às declarações de Barack Obama e Benjamin Netanyahu, que reafirmaram a opção de um ataque preventivo para impedir que o Irã desenvolva armas nucleares, o líder do regime iraniano ameaçou arrasar duas das principais cidades israelenses em represália. “Em alguns momentos, as autoridades do regime sionista ameaçam lançar uma invasão militar, mas eles mesmos sabem que, se cometerem o menor erro, a República Islâmica vai reduzir Tel Aviv e Haifa a ruínas”, disse guia religioso supremo, aiatolá Ali Khamenei, em discurso transmitido pela TV estatal. O Irã desmente que seu programa nuclear tenha fins militares, mas está sob sanções das Nações Unidas por não acatar resoluções do Conselho de Segurança relativas ao impasse.

Coloquem-se no lugar deles (os palestinos). Não é justo que uma criança palestina não possa crescer em um Estado próprio e tenha de viver com a presença de um exército estrangeiro”

Barack Obama, presidente dos EUA