Título: Aécio busca apoio do tucanato de São Paulo
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2013, Política, p. 4

Com aval de FHC, o pré-candidato tenta romper a desconfiança dos aliados de José Serra. Mas o PSDB paulista reluta em entregar o comando da legenda ao senador mineiro

Em uma semana que será marcada pelas negociações intensas em busca de apoios para a eleição presidencial do ano que vem, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) esteve ontem em São Paulo para tentar construir uma unidade em torno de seu nome junto aos tucanos paulistas. O principal objetivo do senador é buscar um acordo com o ex-governador José Serra, que se sente alijado dos processos decisórios do partido.

Com o caminho bem mais tranquilo, pelo menos até o momento, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deve seguir a rotina de reuniões com empresários e, na quinta-feira, ratificará as pazes com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) — seladas durante a campanha municipal de 2012 — comendo o tradicional cozido oferecido pelo senador peemedebista, na casa dele, em Paulista, na região metropolitana de Recife. “Enquanto o PSDB briga internamente, Eduardo posa de moderno e vai construindo a própria candidatura”, disse um interlocutor do tucanato.

A ideia inicial do comando do PSDB era que Aécio se encontrasse com Serra e com o governador Geraldo Alckmin daqui a uma semana, em um ato estadual do partido marcado para o dia 25. Mas os sinais emitidos pelo grupo de Serra, indicando que ele só aceitaria permanecer no partido se assumisse a presidência da legenda em maio, fizeram Aécio mudar os planos e antecipar o encontro.

Publicamente, Serra desmentiu que esteja interessado na presidência da agremiação. Mas aliados dele garantem que a possibilidade de assumir o cargo de secretário-geral do partido, ofertado pela ala mineira da legenda, não o atrai nem um pouco. “Ele foi candidato a presidente da República duas vezes, recebeu quase 44 milhões de votos em 2010. Foi governador, prefeito e ministro duas vezes. O que ele ganha tornando-se braço direito do futuro presidente do PSDB?”, perguntou um aliado de Serra.

Estimulado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador mineiro tenta acertar uma trégua com os correligionários paulistas. As conversas com o governador de São Paulo têm sido mais frutíferas, embora Alckmin tenha dito, em jantar dos governadores tucanos com Aécio, na semana passada, em Brasília, que não “há necessidade de Aécio acumular a presidência do PSDB com a pré-candidatura ao Palácio do Planalto no ano que vem”.

O receio de aliados do senador mineiro é que, contrariado, Serra jogue contra a candidatura. Mas a situação não ficaria mais tranquila caso a presidência do partido fosse assumida pelo ex-governador de São Paulo, pois ele teria condições de controlar a máquina partidária. “Se ele está, de fato, tão incomodado com os movimentos pró-Aécio, pode sair para filiar-se a outra legenda”, desafiou um integrante da burocracia do PSDB.

Se isso acontecer, um caminho possível seria a futura legenda que está surgindo da fusão do PPS com o PMN e que deverá ser batizada de Partido da Esquerda Democrática. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), admite que tem conversado sobre o novo partido com Serra — de quem é amigo pessoal e aliado político —, mas adianta que não pode fazer qualquer convite antes que a situação do PSDB esteja resolvida. “Não posso me envolver em um debate interno de outra legenda”, justificou o presidente do PPS.

Apesar do discurso, Freire tem se movimentado intensamente para construir uma alternativa à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Na segunda-feira da semana passada, participou de um seminário do PSDB para discutir os problemas do país e, um dia depois, reuniu-se secretamente com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

43,7 milhões Número de votos que José Serra recebeu no segundo turno das eleições presidenciais de 2010