Valor econômico, v. 21, n. 5125, 11/11/2020. Política, p. A11

 

Candidatos de Bolsonaro não decolam

Ricardo Mendonça

11/11/2020

 

 

Nomes apoiados pelo presidente estão em queda nas pesquisas ou estagnados e distantes da liderança

Jair Bolsonaro não tem se mostrado um bom puxador de votos. Candidatos a prefeito apoiados explicitamente por ele enfrentam dificuldades, mostram as pesquisas. Os escolhidos são figuras de diferentes partidos que passaram a ser citados nominalmente pelo presidente em “lives” ou vídeos gravados. No grupo, quem não apresenta tendência de queda está estagnado na disputa. Quase todos distantes do primeiro colocado.

O caso mais vistoso é o do deputado Celso Russomanno (Republicanos), que passou semanas como líder em São Paulo. Ele chegou a ter 29% num levantamento do Datafolha em setembro. No fim de outubro, recebeu apoio de Bolsonaro numa transmissão: “Estamos aqui com CR10, Celso Russomanno, em São Paulo. Eu conheço ele há muito tempo. Foi deputado federal comigo. E eu sou capitão do Exército, né? Ele é tenente R2 da Aeronáutica. Então, um capitão do Brasil e um tenente na Prefeitura de São Paulo. Celso Russomanno é minha pedida para São Paulo”.

Quando o vídeo foi divulgado, Russomanno já dava sinais de desgaste, mas ainda em empate técnico com Bruno Covas (PSDB) na liderança. Agora, no estudo mais recente, caiu para 12%. Está numericamente atrás de Guilherme Boulos (Psol), com 13%, e pouco à frente de Márcio França (PSB), 10%.

No Rio, o apadrinhado é o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Ao pedir voto a ele, Bolsonaro fez um discurso parecido com o usado para Russomanno: “Estou aqui com Crivella. Conheço ele há muito tempo. Foi deputado comigo, depois foi ser senador, prefeito do Rio”, disse, citando também que Crivella serviu no Exército.

O prefeito tinha 14% numa pesquisa Ibope divulgada naquela semana, 18 pontos atrás de Eduardo Paes (DEM). Agora tem 15%, mas continua 18 pontos atrás de Paes. Com 14% e 9%, Delegada Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT) ameaçam crescer e deixar Crivella fora do segundo turno.

Bolsonaro abraçou candidatos nanicos em Belo Horizonte e Manaus. Nos dois casos, o apoio não pareceu surtir efeito. Já faz quase um mês que ele anunciou que o deputado estadual Bruno Engler (PRTB) terá “linha direta com a Presidência da República” se for eleito na capital mineira. Engler só oscilou de 2% para 4% desde então. Na capital do Amazonas, o escolhido é Coronel Menezes (Patriotas). Nas última pesquisa Ibope, ele apareceu em sexto lugar, com 5%.

Outros dois adotados por Bolsonaro são Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza, e Delegada Patrícia (Podemos), no Recife. Ambos apresentam tendência de queda nas pesquisas. O primeiro era líder, agora está numericamente atrás de José Sarto PDT), nome apoiado pelo grupo político do ex-ministro Ciro Gomes. Patrícia chegou a 16%, mas recuou para 12%, o que lhe coloca na quarta posição.

Bolsonaro deu sinais contraditórios sobre sua participação eleitoral. Em agosto, disse que não atuaria. “Decidi não participar, no 1º turno, nas eleições para prefeito. Tenho muito trabalho na Presidência e tal atividade tomaria todo o meu tempo num momento de pandemia e retomada na nossa economia”. No sábado, porém, anunciou que passaria a fazer “lives” diárias para apresentar os seus preferidos. Chamou isso de o “nosso horário eleitoral gratuito”.

Nos últimos dias, também pediu voto para oito candidatos a vereador; aos candidatos a prefeito Ivan Sartori (PSD), em Santos, e Mão Santa, em Parnaíba (PI); e ainda à candidata a senadora Coronel Fernanda (Patriotas) na eleição suplementar do Mato Grosso.

 Ontem, falando a um fã no Alvorada, já parecia estar se vacinando ante a possíveis derrotas: “Não vai ser um vídeo meu que vai mudar a situação de um candidato a prefeito. Eleição para presidente é bem diferente. Prefeito e governador é localizada, regionalizada”.