O globo, n. 31840, 09/10/2020. País, p. 12

 

Sem acordo na base, ministra é cotada para presidir a Câmara

Bruno Góes

Naira Trindade

09/10/2020

 

 

Nome de Tereza Cristina surge como opção em meio à disputa entre nomes próximos a Maia e outros alinhados a Bolsonaro

Diante do desentendimento entre partidos pela sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados, um novo nome surgiu como alternativa: o da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Embora conte com a simpatia de ruralistas e bolsonaristas, a deputada federal do DEM, licenciada do mandato para tocar a pasta, não demonstra, até agora, interesse em entrar na embaralhada disputa política.

Há alguns meses, dirigentes do DEM chegaram a cogitar o nome de Tereza como opção para ocupar esse espaço. Mas, frente à incerteza sobre a possível reeleição de Maia, a conversa não avançou. Integrantes do partido também não viram disposição de Tereza em deixar o ministério para trabalhar por uma candidatura na Câmara. Parlamentares ruralistas também interferiram, em diversas ocasiões, para convencê-laa participar da eleição.

Agora, há um novo movimento para colocá-la em evidência, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO. No entanto, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PPPR), é enfático ao avaliar que o presidente Jair Bolsonaro não vai entrar em “bola dividida”, ressaltando que as quatro opções já colocadas atenderiam às pautas do governo: Arthur Lira (PP-AL), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Marcos Pereira (PRB-SP) e Baleia Rossi (MDB-SP).

—Hoje, temos quatro nomes de candidatos reformista seque compõem abas e.Op residente não vai arriscar entrar na bola dividida e correr o risco deperder, já que pode ter apoio de qualquer um desses —disse.

Para que seja uma candidata viável, a ministra precisaria do aval de Maia, colega departido e um dos responsáveis pela sua ida para a legenda em 2017, ou até mesmo de um movimento explícito de Bolsonaro, o que interlocutores acreditam que não acontecerá. Hoje, a tendência é que o presidente da Câmara apoie Baleia Rossi ou dispute a reeleição, caso haja aval do Judiciário.

— O presidente não vai ter esse protagonismo na eleição da Câmara. Nós não aprendemos nada com a história? A única interferência que houve deu zebra — frisou Barros, referindo-se à eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) em 2005, quando o então presidente Lula se empenhou por Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).

ESPERA PELO STF

Líderes no Congresso esperam que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida sobre a possibilidade de reeleição no comando da Câmara e do Senado. Eles aguardam o posicionamento da Corte em relação a uma ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo PTB, de Roberto Jefferson, que argumenta que a Constituição proíbe a reeleição para as Mesas Diretoras de ambas as Casas inclusive em legislaturas diferentes, o que hoje é permitido.

Com o cenário do STF ainda indefinido, Maia tem evitado manifestar opiniões em relação a uma eventual candidatura à reeleição ou sobre o apoio a outros candidatos. Porém, na terça-feira, o presidente da Câmara fez questão de levar o deputado Baleia Rossi ao jantar de reaproximação com o ministro da Economia, Paulo Guedes, na casa do ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU).

A possível candidatura de Tereza já foi debatida por líderes do centrão e também por parlamentares da bancada ruralista. Entre bolsonaristas, é um nome bem visto para disputar o cargo.

—Temos que ter um presidente da Câmara afinado com o presidente Bolsonaro e que tenha um nome limpo. A Tereza é um ótimo nome — diz o deputado Bibo Nunes (PSL-RS).

A aliados, a ministra nega que esteja participando de qualquer movimentação no sentido de deixar o ministério ou de trabalhar por uma candidatura à presidência da Câmara. Seus interlocutores repetem que ela se diz satisfeita com o trabalho na pasta.

Apesar disso, a informação de uma eventual volta dela à Câmara, publicada pela colunista Maria Cristina Fernandes, no jornal “Valor”, fez com que surgissem nomes de candidatos ao ministério. Alceu Moreira (MDB-RS), Marcos Montes (PSD-MG) e até mesmo o secretário de assuntos fundiários, Nabhan Garcia, foram citados como interessados em assumir a Agricultura.

Durante a semana, a disputa pela sucessão de Maia foi a causa da tentativa frustrada de instalação da Comissão Mista de Orçamento. A falta de acordo paralisou os trabalhos da Câmara. Lira queria indicar Flávia Arruda (PLDF) para a presidência do grupo. Já Elmar Nascimento (DEM-BA) alegava que havia acordo sobre seu nome.