Título: Aécio: PT governa com a lógica da reeleição
Autor: Almeida, Amanda; Colares, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 21/02/2013, Política, p. 4

Em tom de campanha, o senador mineiro e provável candidato do PSDB ao Planalto lista "13 fracassos" das gestões petistas

Cobrado por correligionários a assumir uma postura mais “presidenciável”, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) aproveitou o aniversário de 33 anos do PT e de uma década na Presidência da República para atacar o partido. Na tribuna do Senado, ele listou, ontem, “13 fracassos” dos petistas (veja quadro), acusou a legenda adversária de não ter “autocrítica” ou “humildade”, e disse que quem governa o país hoje é a “lógica da reeleição”. Sem destacar a área social, Aécio preferiu bater na tecla das dificuldades econômicas, principal fragilidade da presidente Dilma Rousseff aos olhos da oposição.

O discurso de Aécio foi considerado por aliados e adversários como uma largada para a corrida presidencial tucana em 2014. Com expectativa sobre o discurso do senador, os demais parlamentares deixaram as usuais conversas de lado e fizeram silêncio para ouvi-lo. Além de senadores oposicionistas, deputados do PSDB e do DEM fizeram questão de marcar presença no plenário do Senado para valorizar o pronunciamento como um grande ato da oposição.

Aécio disse que a cartilha preparada pelos petistas para o aniversário da legenda — com comparações entre os governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff — o deixava à vontade para fazer uma “colaboração crítica” ao PT. O tucano ainda brincou ao afirmar que foi difícil resumir os “fracassos” da sigla em apenas 13 tópicos, e fez uma série de perguntas em que opôs discursos e práticas do Partido dos Trabalhadores desde a fundação.

“Mas afinal, qual é o PT que celebra aniversário hoje? O que fez do discurso da ética, durante anos, a sua principal bandeira eleitoral ou o que defende em praça pública os réus do mensalão?”, questionou Aécio. Nas alfinetadas, o senador mineiro disse que, todas as vezes em que o PT precisou escolher entre o próprio partido e o Brasil, ficou com o primeiro, lembrando que a legenda se posicionou contrária à Lei de Responsabilidade Fiscal.

O parlamentar afirmou, ainda, que Dilma chega à metade do governo “longe” de cumprir as promessas de campanha. O tucano, no entanto, deixou escapar um elogio às gestões petistas ao dizer que o partido “jamais reconheceu a enorme contribuição dada ao governo do PSDB na construção das bases que permitiram importantes conquistas alcançadas no período de governo do PT”.

Área econômica Ao enumerar os fracassos do PT, Aécio destacou os problemas na área econômica. Oito dos 13 itens citados tratavam direta ou indiretamente do tema — esse foi um dos motivos que levou o colega Lindbergh Farias (PT-RJ) a interromper o pronunciamento. Segundo o parlamentar fluminense, faltou a palavra “povo” nas declarações de Aécio. “Acho que vossa excelência não constrói um discurso competitivo para quem é candidato a presidente da República. Em mais de meia hora de discurso, em nenhum momento citou as palavras ‘povo’, ‘pessoas’, ‘gente’, ‘emprego’, ‘miséria’ ou ‘inclusão social’”, destacou Lindbergh.

O aparte do senador petista incluiu, ainda, números sobre a ascensão social dos brasileiros nos últimos anos, destacando que mais de 40 milhões de pessoas deixaram a pobreza para ingressar na classe média. O petista foi rebatido por Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). O senador da Paraíba disse que Lindbergh não escutou bem o pronunciamento de Aécio. “Não ouviu o discurso do senador Aécio, que falou de seca. E seca é povo, é gente brasileira que sofre hoje no Nordeste, com a omissão absoluta do governo federal”, afirmou, acrescentando que “o PSDB vai continuar debatendo, e o PT vai continuar sem ouvir”.

O debate só não se prolongou porque o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), citando o Regimento Interno, disse que o tempo do tucano estava esgotado. Vários senadores reclamaram da interrupção. O tempo do pronunciamento de Aécio foi 23 minutos, além dos apartes, que duraram 13 minutos.

O discurso do senador Veja os termos mais empregados por Aécio Neves no plenário ontem:

Confira as grandes falhas dos governos petistas enumeradas pelo senador tucano:

1 - O comprometimento do nosso desenvolvimento » “Tivemos um biênio perdido, com o PIB per capita avançando minúsculo 1%. Superamos em crescimento na região apenas o Paraguai, um quadro inimaginável há alguns anos”

2 - A paralisia do país: o PAC da propaganda e do marketing » “O crítico problema da infraestrutura permanece intocado. As condições de nossas rodovias, portos e aeroportos nos empurram para as piores colocações nos rankings mundiais de competitividade” 3 - O tempo perdido: a indústria sucateada » “Estamos voltando à era JK, quando éramos meros exportadores de commodities”

4 - Inflação em alta: a estabilidade ameaçada » “O PT nunca valorizou a estabilidade da moeda. Na oposição, combateu o Plano Real. O resultado é que temos hoje inflação alta, persistentemente acima da meta, com baixíssimo crescimento” 5 - Perda da credibilidade: a contabilidade criativa » “A má gestão econômica obrigou o PT a malabarismos inéditos e a manobras contábeis que estão jogando por terra a credibilidade fiscal duramente conquistada pelo país. Para fechar as contas, instaurou-se o uso promíscuo de recursos públicos, do caixa do Tesouro, de ativos do BNDES, de dividendos de estatais, de poupança do Fundo Soberano e até do FGTS dos trabalhadores”

6 - A destruição do patrimônio nacional: a derrocada da Petrobras e o desmonte das estatais » “Em poucos anos, a Petrobras teve perda brutal no seu valor de mercado. É difícil para o nosso orgulho brasileiro saber que a Petrobras vale menos que a empresa petroleira da Colômbia”

7 - O eterno país do futuro: o mito da autossuficiência e a implosão do etanol » “(O PT) Anunciou, em 2006, com as mãos sujas de óleo, que éramos autossuficientes na produção de petróleo e combustíveis. Pouco tempo depois, porém, não apenas somos importadores de derivados como compramos etanol dos Estados Unidos”

8 - Ausência de planejamento: o risco de apagão » “No ano passado, especialistas apontavam que o governo Dilma foi salvo do racionamento de energia pelo péssimo desempenho da economia, mas o risco permanece”

9 - Desmantelamento da Federação: interesses do país subjugados a um projeto de poder » “O governo federal não assume, como deveria, o papel de coordenador das discussões vitais para a Federação como as que envolvem as dividas dos estados, os critérios de divisão do FPE e os royalties do petróleo, assistindo passivamente à crescente conflagração entre as regiões e os estados brasileiros”

10 - Brasil inseguro: insegurança pública e o flagelo das drogas » “Os gastos (com segurança pública) são decrescentes e insuficientes. No ano passado, apenas 24% dos R$ 3 bilhões previstos no Orçamento foram investidos”

11 - Descaso na saúde, frustração na educação » “O descompromisso e as sucessivas manobras com investimentos anunciados e não executados na área (da educação) agridem milhões de brasileiros”

12 - O mau exemplo: o estímulo à intolerância e o autoritarismo » “A grande verdade é que o governo petista não dialoga com essa Casa, mantendo-o subordinado a seus interesses e conveniências, reduzindo-o a mero homologador de medidas provisórias”

13 - A defesa dos malfeitos: a complacência com os desvios éticos » “Não falta quem (do PT) chegue a defender em praça pública a prática de ilegalidades sobre a ótica de que os fins justificam os meios. Ao transformar a ética em componente menor da ação política, o PT presta enorme desserviço ao país, em especial às novas gerações”