O globo, n. 31755, 16/07/2020. País, p. 7
Aliança entre Bolsonaro e Edir Macedo rende frutos, mas há limites
Thiago Prado
16/07/2020
O namoro entre Jair Bolsonaro e a igreja Universal começou às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial de 2018 com o apoio declarado do bispo Edir Macedo ao então candidato do PSL. Casamento mesmo entre as partes só veio em março deste ano, quando o senador Flávio e o vereador Carlos Bolsonaro se filiaram ao Republicanos, partido ligado à mais relevante denominação neopentecostal do país.
Os frutos da aliança já começaram a ser colhidos pela Universal. Na segunda-feira, Bolsonaro se mobilizou para ajudar a igreja em uma crise internacional — ele enviou uma carta ao presidente de Angola, João Manuel Lourenço, demonstrando preocupação e solicitando aumento da proteção a membros da Universal no país. Três dias antes, a polícia angolana havia realizado ações de busca e apreensão contra pastores ligados a Macedo em investigação que apura lavagem de dinheiro.
Na semana passada, mais sinais da prosperidade da parceria entre Planalto e Macedo. Conforme informou o colunista Ancelmo G ois, o governo federal autorizou o bispo e sua esposa, Ester Bezerra, a assumir 100% do Banco Renner através de uma offshore no exterior. Nas eras Dilma e Temer, a União só autorizava Macedo ater 49% da instituição financeira.
Há, contudo, entregas que Bolsonaro não conseguirá fazer do jeito que a Universal deseja. A começar pelo Rio, terra natal da família presidencial e do bispo. Marcelo Crivella está coma cadeira de vice aberta para a indicação de qualquer nome bolsonarista, mas o presidente já disse que não participará de sua campanha para prefeito. Previne-se, assim, do desgaste que Crivella acumula desde que assumiu o mandato em 2017.
Além disso, um dia depois da ação do Facebook contra páginas e perfis bolsonaristas nas redes, surgiu um Carlos Bolsonaro enigmático nas redes dando a entender que não seria mais candidato a vereador. Morar em Brasília para ajudar ainda mais o pai na sua política de comunicação seria um dos objetivos. A desistência, caso confirmada, é um duro golpe nos planos do Republicanos de ter um forte puxador de votos para elevar a bancada na Câmara carioca.
Outra medida ainda mais difícil de ser viabilizada por Bolsonaro para a Universal tem a ver com a sucessão de Rodrigo Maia em Brasília. O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira, mira o cargo. A questão é que o presidente vem sinalizando o embarque na candidatura do deputado Arthur Lira (PP-AL) —em abril, um vídeo dos dois repletos de sorrisos simbolizou a intenção. Como precisa do centrão para sobreviver no Congresso e Lira é hoje um parlamentar de liderança ascendente no bloco, a sigla da Universal não se apresenta como uma opção para o Planalto no momento.