Título: Tombamento reconhecido
Autor: Pompeu, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 15/12/2012, Cidades, p. 37

Pesquisa da Codeplan mostra que 85% dos moradores de Brasília consideram importante o título que protege a capital do país. Dos entrevistados, quase 100% conhecem essa realidade

A maioria dos moradores de Brasília considera o título de Patrimônio Cultural da Humanidade importante. Cerca de 85% das pessoas que residem nas asas Sul e Norte, vilas Planalto, Telebrasília e Weslian Roriz avaliam o tombamento como algo importante para a cidade. O número é ainda maior quando a pergunta é sobre o conhecimento da população quanto à proteção: 94% afirmam conhecer essa realidade brasiliense. No geral, os brasilienses veem o tombamento com bons olhos. Eles acreditam que a preservação do plano urbanístico incentiva o turismo e garante que as próximas gerações conheçam a região protegida como ela foi pensada.

Os dados são da Pesquisa sobre Tombamento de Brasília, realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Residentes da cidade responderam a oito questões relacionadas ao tema. O órgão compilou as informações e apresentou os resultados na manhã de ontem. Uma amostra de 1.769 entrevistas representou os 72.136 moradores da Região Administrativa Brasília (RA 1), foco do trabalho. As informações foram colhidas entre maio e julho deste ano. Ao mesmo tempo em que as pessoas acreditam que o título de Brasília deve ser preservado, a maioria respondeu que o tombamento pode engessar a cidade. Na opinião de Thiago de Andrade, do conselho superior do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-DF), no entanto, os brasilienses têm uma visão distorcida em relação às medidas de proteção. “O tombamento de Brasília é único porque não se trata de edificações, mas de um conjunto de concepções. Muitas coisas que as pessoas colocam na conta do tombamento, na verdade, são regras que devem ser seguidas em qualquer cidade”, avalia.

O bancário Alexandre Oliveira, 35 anos, se diz feliz por morar em uma “cidade-monumento”, mas se preocupa com as limitações envolvidas. “Não dá para mexer nas linhas e contornos urbanísticos, e isso dificulta o desenvolvimento. Mesmo assim, seria uma vergonha perder o título”, pondera.

Defesa Moradora de Brasília há 30 anos, a dona de casa Clarinda Rodrigues, 70, é uma defensora das regras de proteção ao título de Patrimônio Cultural. “Dentro desse contexto, é possível ter melhorias sem alterar tanto a estrutura da cidade e continuarmos com qualidade de vida”, afirma. Entre as mulheres na faixa etária de 70 a 74 anos, 87,5% consideram o título importante. Mais de 93% das moradoras da capital dessa idade também defendem que questões sobre a história de Brasília e do processo que levou ao tombamento devem ser discutidas em salas de aula — o mesmo número corresponde à média da opinião das mulheres. Aproximadamente 91,6% dos homens pensam da mesma forma.

A pesquisa contém apenas as respostas objetivas dos entrevistados separados por sexo, faixa etária e escolaridade. “Não estamos apresentando uma análise do que recolhemos. A ideia é que as entidades façam comentários e estabeleçam um debate”, explicou o presidente da Codeplan, Julio Miragaya. Ainda assim, ele assegura que a intenção da companhia é ampliar o trabalho. “Possivelmente, vamos repetir no Plano Piloto e acrescentar questões como qualificação do que as pessoas entendem por tombamento e levar para cidades mais distantes” detalhou. Miragaya analisa que o DF tem realidades socioeconômicas muito diferentes e que outras cidades poderiam produzir resultados também distintos. Além disso, a visão de pessoas que não moram na região tombada também pode ser outra.