Título: Ataque contra as passarelas
Autor: Vasconcelos, Bárbara
Fonte: Correio Braziliense, 06/12/2012, Cidades, p. 26

Menos de dois meses após o fim das obras de revitalização, as passagens subterrâneas sofrem pichações e destruição

Desrespeito e falta de educação: na 203/204 Norte, a iluminação instalada recentemente resistiu à ação de vândalos, mas as paredes estão todas pichadas

Sobre a tinta nova, aparecem rabiscos, desenhos e pichações. Nas luminárias, lâmpadas quebradas ou inexistentes. As passagens subterrâneas sob o Eixão mal passaram por trabalho de revitalização — a reforma foi encerrada em outubro — e estão, outra vez, depredadas. Na travessia da 109/209 Norte, por exemplo, além de as paredes terem sido sujas por garranchos em spray, a iluminação acabou alvo de vândalos. Na 115/215 Sul, quem passa pelo local à noite precisa se aventurar por trechos completamente escuros.

A situação se repete em vários pontos das asas Norte e Sul, como na 107/207 Norte e na 111/211 Sul. "É triste isso. Acabou de ser reformado e já está assim de novo", reclama a estudante Luane Barbosa, 18 anos, moradora da Asa Norte e usuária das passagens. A jovem caminha diariamente pelos locais para poder se deslocar entre a casa, o trabalho e a escola. A dona de casa Maria Luciana Fernandes, 38, endossa a opinião da moça. "É uma vergonha, um absurdo o que fizeram aqui na passarela", comenta.

A ação dos vândalos põe a perder um investimento de mais de R$ 40 mil, realizado em cada passagem subterrânea a fim de dar melhores condições para os pedestres. Ao todo, o GDF gastou R$ 453 mil nas 11 passarelas reformadas, segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). Só não foram contempladas as travessias da 105/205 e 109/209 Norte e da 105/205, 109/209 e 113/213 Sul, já que elas serão reconstruídas devido às obras nas vias de acesso ao Eixo, as chamadas agulhinhas.

Esse trabalho, porém, ainda não diz respeito ao plano de remodelação das passarelas, lançado em fevereiro pelo GDF. A pintura e a limpeza das áreas, assim como a recuperação da iluminação, foram apenas ações paliativas da vice-governadoria, da Novacap e da Companhia Energética de Brasília (CEB) para tentar estimular as pessoas a utilizarem os caminhos e, assim, diminuir as sucessivas mortes por atropelamento registradas no Eixão.

"As obras de recuperação das passagens subterrâneas do Eixão, embora em caráter provisório, foram realizadas dentro do prazo e de acordo com o que estava previsto no contrato de número 564/2012", informou a Novacap, por meio de comunicado. Ainda em nota, o governo lamentou a agressão. "O GDF pede a colaboração dos veículos de comunicação e da população em geral para que denunciem qualquer ato de vandalismo e ajudem a preservar esse importante patrimônio da nossa cidade."

O projeto de reestruturação das travessias subterrâneas está em análise pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em abril, o GDF anunciou a empresa ganhadora do concurso, que apresentou, 60 dias depois, o projeto de engenharia e arquitetura. Entre as mudanças previstas estão a construção de pontos de convivência e de ciclovias. Até março, o governo deve abrir a licitação para a execução das obras.

Em fevereiro, quando foram anunciadas as ações paliativas que melhorariam as condições das passagens subterrâneas , um dos itens previstos no plano tratava da segurança dos pedestres. A ideia era manter o policiamento 24h nas passarelas. Segundo a PM, a vigilância foi reforçada em toda a Asa Norte desde o início do ano. Na 102/202 Norte, foram colocados policiais fixos, enquanto, nas demais, equipes de moto cobrem a área. Na Asa Sul, existe patrulhamento permanente em três passarelas.

Não é de hoje que as passagens subterrâneas são alvo de vandalismo e descaso. Casos de violência nas passarelas, por falta de policiamento e vigilância eletrônica, e de depredação do patrimônio se repetem há anos em todas as travessias das asas Norte e Sul. O atual projeto de revitalização das estruturas também não é o primeiro a surgir na capital federal, e as ideias de reconstrução dos espaços nunca saíram do papel.

A situação precária das passarelas levou, em 2007, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) a desenvolver um plano de repaginação das estruturas. Elas seriam ampliadas e ganhariam comércio, semelhante à Galeria dos Estados. O plano, contudo, não se concretizou, pois o Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan) entendeu que as mudanças feririam o projeto urbanístico de Brasília.

Sobre o novo projeto em avaliação pelo governo, a previsão era que o início das obras ocorresse em agosto ou em setembro. Até agora, porém, nem sequer foi lançada a licitação para contratar a empresa responsável pela remodelação das travessias subterrâneas. A ideia era entregar uma passarela a cada 15 dias.

O incremento na segurança é outra promessa antiga do GDF. Em 2006, a Administração Regional de Brasília, a Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan) e a Polícia Militar anunciaram projeto de instalação de 80 câmeras de vigilância nas passagens. Até hoje, no entanto, nenhuma filmadora foi colocada nas estruturas.