Título: Agnelo Queiroz: Valeu a pena lutar
Autor: Colares, Juliana; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 25/11/2012, Política, p. 8

Aliviado com o resultado das investigações da CPI do Cachoeira, que o apontaram como vítima do bicheiro goiano, o governador do DF diz que ainda enfrenta grupos poderosos, como no setor de transporte

“Estou com a alma lavada”. Essa foi a frase mais repetida pelo governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, desde a última quarta-feira, quando a CPI do Cachoeira o isentou de qualquer envolvimento com a quadrilha comandada pelo bicheiro goiano. A frase foi repetida mais de 30 vezes no dia da divulgação do relatório da comissão, todos os secretários a ouviram pelo menos uma vez. Ao Correio, o governador disse que sempre teve certeza de que esse seria o resultado. O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), concluiu que a quadrilha não conseguiu se infiltrar no GDF e armou um plano para derrubar o governador do cargo, com data marcada para a “degola”.

“A lição dessa história é que vale a pena lutar. Se você está fazendo o correto, se tem a vida limpa, o crime não prevalece sobre a verdade”, disse o governador. Ao falar em luta, Queiroz deixou claro que ainda precisa lidar com outros “enfrentamentos” no GDF. “Hoje eu enfrento grupos com outras características. Há, por exemplo, um grupo da área de transporte que está há 50 anos (atuando no DF) e eu vou enfrentá-lo para conseguir ter um transporte público de qualidade”, afirmou.

Durante a CPI, Agnelo Queiroz abriu seus sigilos bancário, fiscal e telefônico dos últimos 10 anos à comissão. “Eu tinha absoluta certeza de que a gente não tinha relação com esse grupo criminoso. Além de não ter conseguido entrar no governo, esse grupo articulou até a minha perda de mandato, com pedido de impeachment”, disse. O próprio relatório de Odair Cunha classificou a abertura de sigilos do governador como uma “atitude bastante inusitada para um agente político”.

Em um trecho do documento final da CPI, o relator Odair Cunha afirmou: “A análise que fazemos do conjunto de conversações entre os integrantes da organização criminosa e os depoimentos colhidos por esta comissão indicam que o governador Agnelo Queiroz foi vítima, e não mandante ou partícipe, ou mesmo beneficiário, das interceptações ilegais praticadas no Distrito Federal, inclusive pela organização criminosa de Carlos Cachoeira”. O governador acredita que o resultado da CPI irá cicatrizar os arranhões que as denúncias causaram a sua imagem. “Ataques sempre desgastam muito. Mas, quando eu estive na CPI, tive a oportunidade de colocar o que estava acontecendo. Ficou provado claramente. Isso (a reputação), a gente recupera”.

Bilhetagem Para se chegar às conclusões de que Agnelo não tinha envolvimento com o esquema de Carlinhos Cachoeira, a comissão reconstituiu diálogos telefônicos interceptados pela Polícia Federal, durante a Operação Monte Carlo. A intenção do grupo, segundo analisou a CPI, era monopolizar alguns setores do GDF, principalmente em atividades consideradas essenciais, como o controle da coleta e fiscalização dos serviços de lixo, a prestação de serviços de bilhetagem eletrônica, aquisição e edificação de empreendimentos imobiliários, entre outros.

O grupo também pretendia fazer interceptações telefônicas clandestinas dentro do próprio GDF para monitorar jornalistas e autoridades públicas. A montagem de todo o esquema, segundo a comissão, começou antes mesmo da posse de Agnelo no governo, conforme análise dos grampos feitos pela PF. A investigação também indicou que a quadrilha queria, ainda, acompanhar as nomeações para cargos importantes e considerados estratégicos para a atuação da organização, como os postos de comando das polícias Civil e Militar e a presidência do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Porém, nenhum nome desejado pelo grupo ficou com cargos.

“Há um grupo da área de transporte que está há 50 anos (no DF) e eu vou enfrentá-lo para ter um transporte público de qualidade” Agnelo Queiroz, governador do DF