O globo, n.31451, 16/09/2019. Rio, p. 15

 

Imagens mostram que evacuação do Badim pode ter demorado 

16/09/2019

 

 

Gravações exibidas pelo ‘Fantástico’ revelam que oito minutos após curto no gerador ainda não havia retirada de pacientes

Imagens de câmeras de segurança do Hospital Badim revelam que, oito minutos após o primeiro sinal de curto-circuito no gerador, ainda não havia movimento para a retirada dos pacientes ou de alerta aos funcionários sobre a situação de risco na unidade, no Maracanã. As gravações da tarde do incêndio, na última quinta-feira, foram exibidas ontem com exclusividade pelo “Fantástico”, da TV Globo.

De acordo com o presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais, José Ricardo Bandeira, que analisou para o programa imagens registradas por nove câmeras — cinco no térreo, onde ficava a emergência, e quatro no subsolo —, o tempo levado até que o hospital tomasse medidas para a sua evacuação é considerado excessivo.

— Em caso de incêndio, em caso de uma fumaça tóxica, em sete, oito minutos você poupa muitas vidas. É um tempo excessivo para que você tome as medidas de contingência, faça a devida

contenção do incêndio e a evacuação do prédio. Então, em sete, oito minutos, você evacuaria um prédio, desde que os funcionários estivessem preparados para executar essa função — afirmou Bandeira ao “Fantástico”.

A tragédia terminou com 11 pessoas mortas. No momento do incêndio, havia 103 pacientes, sendo 41 pessoas na UTI. Ontem, 57 permaneciam internadas em outras unidades e duas receberam alta, de acordo com o Badim. No sábado, a polícia terminou a perícia no prédio, levando parte do gerador que sofreu o curto-circuito para análise.

Câmeras mostraram a movimentação no subsolo do hospital, onde estava o gerador. Além do equipamento, há quatro tanques com capacidade para 250 litros de óleo diesel cada um. Não se sabe quanto havia nos recipientes. As imagens revelam ainda que, enquanto muitas pessoas na área da emergência não tinham ideia do que estava acontecendo, um homem aparece carregando um extintor de incêndio até o subsolo. Para Bandeira, a cena indica que não haveria um equipamento do tipo próximo ao gerador.

— Eles começam a trazer de outros andares os extintores, então é possível que próximo ao gerador não existissem extintores suficientes pra poder combater aquele incêndio. Isso chama bastante a atenção — acrescentou o especialista.

Ele levanta a hipótese de o extintor usado no combate às primeiras chamas ter sido do modelo com CO2, e não com pó químico, indicado para esse tipo de fogo.

— Se eles utilizaram o extintor errado, em vez de apagar o incêndio eles conseguiram abafar o incêndio naquele gerador. O extintor usado de forma errada abafa, e você tem a falsa sensação de que apagou o incêndio. Mas aquilo vai aquecendo, vai aquecendo e, num determinado momento, renasce o incêndio, e já fora de controle — disse o especialista, após imagens mostrarem que o comportamento calmo de funcionários no subsolo parecia indicar que o combate ao fogo teria terminado.

DÚVIDA SOBRE BRIGADA

Enquanto a situação parecia controlada no local, uma das câmeras mostrava que havia muita fumaça negra no almoxarifado. Segundo a reportagem, a perícia já havia constatado que os dutos de ar passavam por cima do gerador, o que pode explicar a fumaça de cima para baixo na sala da tesouraria.

Outros problemas foram observados por José Ricardo Bandeira. O hospital afirma que tem brigada de incêndio, mas o especialista destacou que, nas imagens, não é possível identificar a presença de bombeiro civil, geralmente caracterizado por uniforme na cor azul com detalhes em vermelho ou branco.

Procurado pelo GLOBO, o Hospital Badim explicou que as respostas sobre o que levou a fumaça a ter tomado conta de todos andares do prédio e sobre o fato de o exaustor não tê la jogado para fora ainda dependem da perícia. Acrescentou que apura se houve dois picos de energia elétrica.

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Cinco enfermeiras estão internadas em estado grave

Flávia Junqueira 

Lucas Altino

16/09/2019

 

 

Dos 77 pacientes ligados ao Hospital Badim atualmente internados, 20 são familiares, cuidadores e funcionários que inalaram fumaça ou sofreram algum outro problema relacionado ao incêndio durante a evacuação da unidade. Na lista, há enfermeiros e técnicos de enfermagem que, em atos heroicos, quase se sacrificaram para salvar pacientes. Segundo o Sindicato dos Enfermeiros do Rio, há dez profissionais hospitalizados, sendo cinco em estado grave.

No sábado, a técnica de enfermagem Cristiane Ribeiro pediu notícias dos doentes do Badim por meio de um bilhete. “Os pacientes, como estão?”, escreveu ela em um bloquinho usado para se comunicar. “Estou preocupada. Peço a Deus que todos estejam bem”, anotou Cristiane, que ajudou a retirar pacientes durante o incêndio e não está mais sedada, apesar de permanecer em estado grave, segundo o sindicato.

Pela lista( não há todos os sobrenomes ), as cinco enfermeiras e técnicas de enfermagem em estado grave são Mariane Lavandeira, Fabiana e Heloísa Helena, as três internadas no Quint aD’ Or;e Rejane e Cristiane Ribeiro, que estão no Caxias D’Or. Além delas, os outros internados são Ygor Oliveira, no Caxias D’Or; e Carla, Aldineide, Angela e Odimar, que estão no Quinta D’Or. Procurada, a Rede D’Or respondeu que não poderia confirmar as informações.

Além do sindicato, o Conselho Regional de Enfermagem vem acompanhando os casos dos internados. Mas as entidades reclamam da falta de informações fornecidas pelo Badim. Diretora do sindicato, Líbia Bellusci diz que a direção do hospital será cobrada, inclusive pelo cumprimento de obrigações trabalhistas.

— Não sabemos, por exemplo, se foi feita a abertura da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Vamos cobrar isso — afirma Líbia, que passou os últimos dias em busca de informações sobre os enfermeiros hospitalizados.

— Alguns já tiveram alta, mas há outras pessoas que sentem sintomas se agravarem, como falta de ar, e estão in doem busca de atendimento só agora.