Título: Abismo social ainda é grande
Autor: Maia, Flávia ; Rodrigues, Gizella
Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2012, Cidades, p. 27

Apesar de ter diminuído nos últimos oito anos, a desigualdade entre algumas regiões administrativas chama a atenção. Enquanto moradores do Lago Sul têm renda familiar de 18.950,96, no Itapoã, essa média não passa de R$ 1.358,96»

Com 5.787,784km² de extensão territorial, o Distrito Federal consegue reunir realidades de países ricos como França, Bélgica e Canadá e, ao mesmo tempo, de africanos mais pobres, a exemplo de Nigéria, Zâmbia e Papua Nova Guiné. Embora o abismo entre ricos e pobres tenha diminuído quase pela metade nos últimos oito anos no DF, a diferença social ainda está acima da média nacional. Segundo os dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), a renda domiciliar no Lago Sul, por exemplo, é 15 vezes superior à da Estrutural, uma das regiões mais pobres da capital do país. Há oito anos, a distorção ocorria entre o Lago Sul e o Itapoã. Uma família do Lago Sul tinha, em média, 27 vezes a quantia de dinheiro mensal do que uma que morava no Itapoã.

A diminuição da diferença social se deu, em parte, pelo incremento da renda nas classes mais baixas. Em 2004, uma família no Itapoã vivia com R$ 403. Em 2011, esse valor subiu para R$ 1.358,96, aumento de 3,3 vezes (330%). No Lago Sul, a renda passou de R$ 11.276 para R$ 18.950,96, crescimento de 68%. Entretanto, mesmo com o incremento da renda das classes C e D, o endereço de uma família no DF mostra a qual grupo social ela pertence. “A pobreza brasileira, de uma forma geral, teve melhora na renda. O desafio do DF é diminuir a desigualdade”, afirma o professor Marcelo Medeiros, sociólogo, professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).

Estratificação Dessa forma, mesmo com o aumento da renda, a estratificação das regiões administrativas do Distrito Federal ainda é uma realidade. Diferentemente de outras cidades, como Rio de Janeiro, que tem Leblon e Vidigal próximos, e no Morumbi, em São Paulo, com casas de luxo e favelas no mesmo bairro, essa realidade não ocorre no DF, onde ricos e pobres não moram na mesma cidade.

A prova disso é o índice de Gini, que mede a diferença entre classes sociais na mesma localidade. A taxa no DF é de 0,51, parecida com a brasileira, que está em 0,54. Porém, quando o índice é detalhado por cidade, fica em 0,323 no Lago Sul, 0,354 na Estrutural e 0,338 no Itapoã. “Significa que não tem diferença social nessas localidades. Se é um lugar de rico, vive só rico. Se é de pobre, só pobre”, explica o sociólogo Marcelo Medeiros.

Para Júlio Miragaya, presidente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), a ocupação histórica do território e o planejamento da cidade contribuem para a segregação espacial das cidades. Por isso, a Pdad consegue separar as cidades brasilienses em quatro grupos: de alta renda, média-alta renda, média-baixa renda e baixa renda.

Na alta renda, está o grupo que ganha, por pessoa, acima de R$ 2.501. É o caso dos lagos Norte e Sul, Sudoeste, Octogonal, Brasília, Park Way e Jardim Botânico. No de média-alta renda, estão cidades como Águas Claras, Guará e Cruzeiro, com rendimento per capita de R$ 1.001 a R$ 2.500. O média-baixa renda incluem cidades como Riacho Fundo, Samambaia e Ceilândia — de R$ 501 a R$ 1.000. E os de baixa renda ganham até R$ 500 por pessoa. Nele, estão moradores do Recanto das Emas, do Paranoá, do Varjão, da Estrutural e do Itapoã.

Medida O Coeficiente de Gini, ou Índice de Gini, é um instrumento usado para medição do grau de concentração de renda em determinados grupos. Foi criado pelo estatístico italiano Corrado Gini, por isso leva seu sobrenome. Numericamente, ele varia de zero a um. O valor zero representa situação de igualdade entre os grupos analisados, isto é, quando todos têm a mesma renda, enquanto o um corresponde à desigualdade entre os conjuntos de pessoas em questão.