O Estado de São Paulo, n. 46077, 13/12/2019. Política, p. A4

 

Bolsonaro recorre a Skaf para recompor base em SP

Pedro Venceslau

Paula Reverbel

13/12/2019

 

 

Articulação. Presidente se aproxima do chefe da Fiesp, cotado para comandar no Estado o Aliança pelo Brasil, partido que tenta criar; estratégia prevê candidatura de Datena na capital

São Paulo. Bolsonaro e Skaf, durante visita do presidente à Fiesp, em junho; relação entre os dois tem se intensificado

O presidente Jair Bolsonaro se aproximou do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (MDB), e tem delegado ao dirigente empresarial papel estratégico na reestruturação da base de apoio ao Palácio do Planalto no Estado. Além da ponte com empresários – segmento que, segundo as pesquisas, confere a melhor aprovação ao governo federal –, Skaf é visto como um potencial dirigente do Aliança pelo Brasil, partido que os bolsonaristas tentam criar. A ideia é que o presidente da Fiesp assuma o comando do diretório estadual da futura legenda e se cacife como possível candidato ao Palácio dos Bandeirantes em 2022.

O plano dos bolsonaristas também prevê que o apresentador José Luiz Datena seja candidato a prefeito da capital no ano que vem. As conversas com o jornalista estão avançadas e vêm sendo acompanhadas de perto pelo presidente da Fiesp. “Fizemos contato com Skaf e ele simpatiza com a proposta de criação da Aliança”, disse ao Estado o advogado Luís Felipe Belmonte, já anunciado como vice-presidente do futuro partido. O presidente é o próprio Bolsonaro.

O movimento tem o respaldo da bancada bolsonarista na Câmara e o aval dos filhos do presidente, segundo aliados do Planalto. “Acho que qualquer coisa que Bolsonaro escolher nesse sentido a gente vai ficar muito contente. Confiamos no poder de julgamento do presidente”, afirmou a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).

A ruptura com seu ex-partido, o PSL, fez Bolsonaro perder aliados em São Paulo, como a deputada federal Joice Hasselmann (mais informações na pág. A8), e seu filho, o também deputado Eduardo Bolsonaro, foi destituído da presidência do diretório paulista da legenda.

Empresários. O setor empresarial é hoje o que mais apoia o governo. Conforme uma sondagem divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 60% dos empresários consideram o governo “ótimo” ou “bom”. Em outra pesquisa, encomendada pela entidade ao Ibope, os entrevistados aprovaram com altos índices a atual condução da política econômica do governo. Bolsonaro recebeu anteontem o Grande Colar da Ordem do Mérito Industrial da CNI.

Skaf, que já liderou campanhas nacionais contra o aumento de impostos e apoiou o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, ainda resiste a falar sobre sua eventual mudança de legenda. Ele, no entanto, tem dito que é um “incentivador da ideia” de criação da Aliança e acha importante que Bolsonaro tenha um partido. Politicamente, porém, o presidente da Fiesp está cada vez mais isolado no MDB, que se aproximou do governador João Doria (PSDB).

Em outubro, quando ainda vivia uma crise com o PSL, Bolsonaro se reuniu com Datena em São Paulo acompanhado de Skaf. O presidente divulgou nas redes sociais uma foto ao lado dos dois, tratados como “velhos conhecidos”.

A relação entre Skaf e Bolsonaro começou ainda no governo Dilma, quando um deputado de oposição subiu à tribuna da Câmara para criticar o presidente da Fiesp. Em seguida, Bolsonaro, então deputado federal, pediu a palavra e saiu em defesa de Skaf, que logo telefonou agradecendo o gesto.

Antes disso, Skaf já mantinha uma relação estreita com os militares. Ele criou um conselho de defesa na Fiesp e convidou o general Gabriel Esper, ex-comandante militar do Sudeste, para ser assessor na entidade.

Bolsonaro e Skaf têm se falado com regularidade pelo telefone. O emedebista costuma dizer que se dá “pessoalmente” muito bem com o presidente da República. Neste ano, os dois se encontraram publicamente oito vezes, entre cerimônias, jantares e audiências. Dez ministros e 15 secretários estiveram 40 vezes na Fiesp em 2019 em eventos oficiais.

Em junho, o presidente da entidade promoveu um jantar para Bolsonaro em sua residência com 45 empresários de diferentes setores. Em outubro eles se encontraram na China, e Skaf integrou a seleta comitiva que participou da audiência de Bolsonaro com o presidente Xi Jinping. Duas semanas de depois, quando ocorreu em Brasília a 11.ª Cúpula dos Brics, o líder chinês ofereceu um jantar para Bolsonaro e Skaf foi o único presente que não era do governo.

A colaboração do líder da Fiesp com o presidente vai além do campo empresarial. Após a demissão, nesta semana, da então secretária do Audiovisual, Katiane Gouvêa – suspeita de cometer irregularidade em sua campanha eleitoral a deputado federal em 2018 –, Skaf organizou um jantar com representantes do setor e o secretário especial da Cultura, Roberto Alvim. Foi nessa ocasião que o ex-secretário municipal de Cultura de São Paulo, André Sturm, foi convidado e aceitou ocupar a vaga de Katiane.

Desde que decidiu entrar na política, Skaf sempre esteve próximo de governos, exceto na gestão Dilma. Ele foi do PSB, partido da base governo, na gestão Luiz Inácio Lula da Silva, e migrou para o MDB de Michel Temer em seguida. O presidente da Fiesp já se candidatou três vezes ao governo de São Paulo – e em todas foi derrotado. Em 2010, concorreu pelo PSB. Em 2014, pelo MDB, ficou em segundo lugar no pleito em que Geraldo Alckmin (PSDB) foi reeleito em primeiro turno. Em 2018, também pelo MDB, Skaf disputou e ficou em terceiro.

Procurado, o presidente da Fiesp não quis se manifestar.

Conversas

“Fizemos contato com Skaf e ele simpatiza com a proposta de criação da Aliança (pelo Brasil).”

Luís Felipe Belmonte

ADVOGADO ANUNCIADO COMO VICE-PRESIDENTE DO NOVO PARTIDO

“Acho que qualquer coisa que Bolsonaro escolher nesse sentido a gente vai ficar muito contente. Confiamos no poder de julgamento do presidente.”

Carla Zambelli (PSL-SP)

DEPUTADA FEDERAL

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'Se aparecer (corrupção), boto no pau de arara o ministro

Lailton Costa

13/12/2019

 

 

Ao discursar em Palmas, Bolsonaro diz que usaria técnica de tortura em auxiliares envolvidos em desvio de conduta

Para uma plateia de prefeitos e agropecuaristas, o presidente Jair Bolsonaro disse ontem, no Tocantins, que vai colocar “no pau de arara” ministros de seu governo que se envolverem em casos de corrupção.

Durante o discurso, em Palmas, ao se dirigir especificamente aos prefeitos, Bolsonaro admitiu que é possível que existam casos de corrupção em municípios ou em governos sem que o chefe do Executivo saiba. No entanto, afirmou que atos como esse não serão tolerados.

“O Brasil está mudando, pode ser que haja corrupção. Onde há desgoverno pode ser que haja corrupção. Se aparecer, boto no pau de arara o ministro, se tiver responsabilidade, obviamente”, afirmou o presidente. Pau de arara é o nome pelo qual ficou conhecido um método de tortura.

Denúncia. Em outubro, a Procuradoria Eleitoral de Minas Gerais apresentou denúncia – acusação formal – contra o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, pelo uso de candidaturas de fachada (laranjas) para desvio de recursos públicos do fundo eleitoral nas eleições de 2018.

Naquele ano, Álvaro Antônio era presidente do PSL mineiro e se candidatou a deputado federal. O PSL foi o partido pelo qual Bolsonaro se elegeu. O ministro, que nega as acusações, continua no cargo. À época da denúncia, Bolsonaro disse que manteria o ministro na pasta e aguardaria “o desenrolar” do processo. Caso a denúncia seja aceita pela Justiça, Álvaro Antônio se tornará réu no processo.