Correio braziliense, n. 20506, 13/07/2019. Mundo, p. 12

 

Caçada aos ilegais

 

 

 

 

 

Rodrigo Craveiro

13/07/2019

 

 

 

Mineiro da cidade de Gonzaga, Daniel chegou aos  Estados Unidos em 30 de julho de 2001. Hoje, mora na Filadélfia (Pensilvânia), onde trabalha aos fins de semana como entregador de bebidas. “A coisa vai pegar por aqui. Estão dizendo que haverá várias batidas neste fim de semana. O pessoal está tudo assustado, isso causou um medo geral por aqui”, afirmou ao Correio, sob condição de não ter o sobrenome divulgado. “Quando faço as entregas, tenho de subir na janela e bater no vidro, para que os brasileiros saibam que sou eu”, acrescentou o mineiro, cuja filha, de 10 anos, nasceu nos EUA. Segundo ele, os estrangeiros ilegais que não comparecem às audiêncas no tribunal correm risco maior. Portador de uma carta de deportação, Romeu teme pelo futuro. “A pessoa com a carta vive com medo e sempre se mudando, não consegue se estabilizar no país”, desabafou o também mineiro, que mora em Newark (Nova Jersey) desde 1988 e trabalha no ramo da construção civil. “Quando gente como eu é procurada e encontrada, acaba deportada imediatamente. Você não sabe o que te espera, né?”.
A apreensão envolve brasileiros e milhares de estrangeiros em situação irregular nos Estados Unidos. O presidente Donald Trump confirmou, ontem, que uma operação de grande envergadura da ICE (Imigração e Alfândega dos EUA, em português) deve ocorrer neste fim de semana. “Eles vieram ilegalmente. Nós vamos devolvê-los legalmente. É muito simples. Vamos expulsar as pessoas e levá-las de volta para seus países”, declarou o magnata republicano. “Não é uma coisa que eu goste de fazer, mas pessoas vieram ilegalmente para o nosso país.” Ao ser perguntado por jornalistas sobre como ficam as famílias dos imigrantes, ele desconversou: “Sabe de uma coisa? Sabe de uma coisa? Eles entraram ilegalmente. Eles têm de sair”.
Segredo
Trump lembrou que milhões de pessoas “fazem fila para se tornarem cidadãos” norte-americanos. “Elas passaram por testes, estudaram, aprenderam o inglês, esperaram sete, oito, nove anos (…) Algumas aguardam até 10 anos para virem. Não é justo que baste alguém atravessar a fronteira para obter a cidadania (americana)”, afirmou. O presidente negou que esteja alertando os imigrantes ilegais sobre as batidas da ICE. “Não há nada secreto sobre isso. Eles sabem sobre as batidas da ICE, que é a aplicação da lei. Eles (agentes da Imigração) são grandes patriotas e têm um trabalho duro. Se a ordem é sair, então que saiam”, acrescentou. A onda de detenções e expulsões marcada para este fim de semana foi anunciada em 21 de junho por Trump e adiada por duas semanas. O jornal The New York Times informou que a operação da ICE deverá capturar 2 mil pessoas em 10 cidades e pode incluir “deportaçlões colaterais”.
Também na Filadélfia, o cimenteiro Lagares, 33 anos, teme ser deportado hoje ou amanhã. “A gente vive com muito desassossego. Na empresa onde trabalho, a maioria dos funcionários disse que não trabalhará amanhã (hoje). As autoridades dizem que as batidas ocorrerão a partir de 14 de julho, mas elas costumam ocorrer antes ou depois”, disse o mineiro, que trocou Gonzaga pelos EUA há três anos e meio. “Soube de um grupo de 15 brasileiras que retornaram ao Brasil com medo da prisão e da deportação. Eu também estou com medo. Acho que, do jeito que Trump definiu, ninguém escapará  dessa situação. Tudo está muito tenso aqui”, admitiu ao Correio. Logo que chegou aos EUA com as filhas, Lagares contratou uma advogada e iniciou os trâmites para a solicitação de asilo.
“Vai começar no domingo, e nós expulsaremos as pessoas e as devolveremos aos seus países. Ou elas se tornarão criminosas, serão colocadas na prisão, ou nós as colocaremmos nas prisões dos países de onde vieram. Estamos focados nos criminosos o máximo que pudermos, antes de fazermos qualquer outra coisa”, explicou Trump. “Estamos especificamente procurando por jogadores ruins, mas estamos também buscando pessoas que entraram em nosso país não por meio de um processo, apenas passaram por cima de uma linha (fronteira). Elas têm de sair.”
Crianças
Um relatório divulgado pelo Comitê de Supervisão e Reforma da Câmara dos Deputados revelou que pelo menos 18 crianças e bebês foram separados de seus pais migrantes na fronteira com o México, como parte da política de “tolerância zero” de Trump, incluindo nove crianças com menos de 1 ano de idade. Os pequenos foram mantidos longe dos pais em um prazo que variou de 20 dias a seis meses. Desde abril de 2018, 2.600 crianças foram retiradas das famílias depois da travessia.
"Eles vieram ilegalmente. Nós vamos devolvê-los legalmente. É muito simples”
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
100.000
Número de migrantes em situação ilegal detidos em junho na fronteira entre EUA e México, segundo o Departamento de Segurança Interna

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Secretário do Trabalho se demite

13/07/2019

 

 

 

Alexander Acosta, secretário do Trabalho dos Estados Unidos, apresentou sua renúncia, em meio a críticas por oferecer tratamento favorável ao bilionário Jeffrey Epstein em um caso de abuso infantil quando ele era procurador há uma década. “Eu telefonei para o presidente esta manhã e disse a ele que  achava certo renunciar”, declarou o secretário, durante uma aparição na Casa Branca, ao lado de Donald Trump. Na quarta-feira, Acosta saiu em defesa do acordo que ofereceu ao magnata Epstein, condenado a apenas 13 meses de prisão por abuso sexual de menores.
Em uma reunião com jornalistas, Acosta negou ter sido parcial em um acordo judicial considerado demasiadamente favorável a Epstein, em 2008, quando o agora ex-secretário era procurador federal. Epstein, 66 anos, amigo de Trump, do ex-presidente Bill Clinton e de várias figuras poderosas, foi acusado novamente, na segunda-feira, de abusar de dezenas de menores de idade. Por esses crimes, ele poderá ser sentenciado a 45 anos de prisão.
Depois de defender Acosta após a prisão de Epstein, Trump descreveu-o como um “tremendamente talentoso” e um “grande secretário do Trabalho”. O republicano assegurou que Patrick Pizzella, o vice de Costa, “fará o trabalho”. “Ele foi altamente recomendado por Alex e vai estar agindo. Já foi informado.”
De acordo com os promotores, Epstein explorou sexualmente dezenas de garotas adolescentes menores de idade em suas casas em Manhattan e Palm Beach, Flórida, entre 2002 e 2005. Algumas tinham 14 anos. Na quarta-feira, Acosta respondeu a perguntas de repórteres sobre a gestão do caso de Epstein por seu gabinete quando ele era procurador federal na Flórida. O acordo alcançado com Epstein exigia que ele admitisse uma única acusação estadual de solicitar prostituição de um menor e registrar-se como ofensor sexual.

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Protesto por regularização em Paris

13/07/2019

 

 

 

Várias centenas de migrantes sem documentos ocuparam brevemente o monumento parisiense do Panteão, necrópole das grandes personalidades francesas, para pedir sua regularização e um encontro com o primeiro-ministro. De acordo com os participantes, 700 migrantes e simpatizantes ocuparam, ao meio-dia, o imponente edifício no centro de Paris.
A ação foi organizada por coletivos dos “coletes amarelos” — cujo nome faz referência ao movimento de protesto social contra o governo — e “A capela em pé”, que apoia os imigrantes ilegais. O local emblemático foi desocupado sem incidentes por volta das 17h45 (11h45 em Brasília) pela saída traseira do edifício, constaram jornalistas da agência France-Presse.
Os ocupantes permaneceram depois no exterior, cercados pelas forças de segurança, gritando lemas como “Coletes pretos! Coletes pretos!”, nome de um coletivo de migrantes que vivem em casas de acolhida ou na rua na região de Paris. As forças de ordem atacaram e dispararam bombas de gás lacrimogêneo para fazer recuar alguns dos manifestantes. Várias pessoas foram transferidas pelos serviços médicos, com ferimentos ou mal-estar.
Em um comunicado, eles se apresentam como “sem papéis, sem voz, sem rostos para a República francesa” e reivindicam “papéis e moradia para todas e todos”. “Já não queremos ter que negociar com o ministro do Interior. (…) Queremos falar com o premiê, Edouard Philippe, agora!”.
Sem direitos
“Muitas pessoas vivem sem direitos há anos. Ocupamos (o Panteão) para reivindicar ao primeiro-ministro uma regularização excepcional. Não houve regularizações excepcionais desde a chegada ao poder de (François) Mitterrand (em 1981). É hora de haver uma”, explicou à agência France-Presse Laurent, membro de um coletivo, que participou em apoio aos manifestantes no exterior do prédio. “O Panteão é um símbolo dos grandes homens. No interior, há símbolos da luta contra a escravidão. Estamos lutando contra a escravidão do terceiro milênio”, explicou. O coletivo “coletes pretos” costuma realizar ações de choque em apoio aos migrantes sem documentos.