Valor econômico, v.20, n.4744, 07/05/2019. Brasil, p. A3

 

Brasil sai da lista de mercados mais confiáveis para investir 

Naiara Bertão

07/05/2019

 

 

O Brasil deixou, pela primeira vez, a lista dos 25 países mais confiáveis para se investir na visão de grandes multinacionais. É o que revela a pesquisa de 2019 do Índice Global de Confiança para Investimentos Estrangeiros (FDI Global Index) da consultoria americana A.T. Kearney. Em 2018, o Brasil já estava na lanterna, na 25ª posição, uma queda de nove lugares em relação a 2017, quando ficou em 16º, e bem maior em comparação a 2016, quando esteve em 12º.

Em 2012 e 2013, quando a economia local estava em pleno vapor, o Brasil chegou a ficar em terceiro lugar entre os destinos preferidos para investimentos estrangeiros diretos (IED), aqueles que são feitos em aquisições de empresas e ativos, expansão de parque fabril ou aumento do portfólio de produtos. A consultoria não divulga para qual posição o Brasil caiu, pois só abre os 25 países primeiros.

"A grande incerteza com a política nos últimos anos, com impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a própria eleição de outubro e as questões envolvendo a Operação Lava-Jato criaram, juntas, um ambiente negativo na percepção dos estrangeiros", explica Mark Essle, sócio da A.T. Kearney no Brasil. "Agora deixamos a lista. Isso reforça a ideia de que viver apenas de commodities é perigoso", analisa.

A pesquisa, feita a partir de entrevistas com dezenas de empresários de grandes companhias, com mais de R$ 1 bilhão de receita anual, mostrou que o Brasil não foi o único a ser rebaixado - Portugal também deixou o top 25.

A confiança e disposição das multinacionais a investir em países desenvolvidos aumentou, apesar de os empresários terem apontado riscos crescentes em alguns locais. Prova disso é a queda da posição dos emergentes e o fato de, dos 25 mercados, 22 serem desenvolvidos.

Os Estados Unidos ocuparam, pelo sétimo ano seguido, o primeiro lugar. A Alemanha subiu uma posição e retomou a segunda colocação, enquanto o Canadá caiu para terceiro. Os países que mais avançaram no ranking em relação a 2018 foram Dinamarca (seis), Espanha (quatro), Áustria (três) e Bélgica (três).

Em geral, os emergentes se deram pior. Pela primeira vez na história do índice, as cinco primeiras posições são ocupadas por economias desenvolvidas. A China, mesmo com a crescente economia, saiu da terceira posição em 2017 para a quinta no ano passado e sétima neste ano. A Índia despencou. Passou de oitava há dois anos, para 11ª em 2018 e 16ª em 2019. A América Latina só conta agora com um representante, o México, mas o país está na berlinda - caiu do 17º lugar para último (25º).

O índice é apurado desde 1998 - em alguns anos, porém, não foi feito. O mais interessante do FDI Global Index é que, diferentemente de outras pesquisas, ele mostra a intenção futura das grandes companhias multinacionais em investir.

A partir disso, uma das principais conclusões vistas neste ano foi, por exemplo, que a confiança e predisposição para investir continuam altas, a despeito das previsões menos animadoras para o Produto Interno Bruto (PIB) mundial. No início de abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou de 3,5% para 3,3% a projeção para o crescimento da economia global.

De cada 100 entrevistados, 62 responderam que estão mais otimistas do que no ano anterior, especialmente para investir em alguns países da Ásia e Europa. Vale ressaltar, porém, que esta mesma resposta foi dada por 68% das pessoas na pesquisa do ano passado. Entre os motivos que mais pesam na hora de escolher onde colocar o dinheiro, estão o sistema tributário (14% das respostas), capacidade tecnológica e de inovação (14%), ambiente seguro (13%) e transparência regulatória e livre de corrupção (12%).

Outra conclusão importante foi que quase 80% dos entrevistados disseram que suas companhias vão aumento o nível de investimento estrangeiro direto nos próximos três anos.

Apenas 5% diminuirá significativamente os aportes. A disponibilidade de ativos de qualidade, o ambiente macroeconômico e a disponibilidade de recursos são os três principais fatores para o aumento do IED.

No caso do Brasil, o principal entrave, na opinião de Essle, da A.T. Kearney, é a falta de competitividade, especialmente em vender produtos que tragam valor agregado, fugindo das commodities.

"A proteção cambial mais efetiva para multinacionais é exportar para a África, Ásia, Estados Unidos. Mas, para isso, é preciso ser competitivo e isso só vai acontecer quando o governo desonerar as importações", diz o executivo.