O Estado de São Paulo, n. 46032, 29/10/2019. Política, p. A10

 

'Leão' Bolsonaro derrota 'inimigos'

Mateus Vargas

29/10/2019

 

 

Nas redes / Montagem com o presidente como rei da selva sendo atacado por hienas com nomes de STF, ONU e partidos é apagado após repercussão negativa

Viagem oficial. Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, em Doha

Um leão encurralado e prestes a ser atacado por hienas. Foi assim que o presidente Jair Bolsonaro foi representado ontem em um vídeo postado em suas redes sociais, compartilhado por ele e apagado aproximadamente duas horas depois, após muita polêmica. Na lista das hienas que atacam o leão Bolsonaro, estão o Supremo Tribunal Federal (STF), a Organização das Nações Unidas (ONU), o seu partido PSL e siglas de oposição – entre as quais o PT e o PC do B –, além da imprensa.

No filme, o rei da selva se alia a outro leão, chamado “conservador patriota”, parte para o contra-ataque e vence seus inimigos. “Vamos apoiar o nosso presidente até o fim. E não atacá-lo. Já tem a oposição para fazer isso!”, dizem os letreiros sobrepostos às imagens da fuga.

A montagem se encerra com a transição de imagens da bandeira do Brasil para a de Bolsonaro de braços abertos. A trilha sonora épica dá espaço a uma gravação do presidente repetindo o seu lema de campanha: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Feita sobre um vídeo real de uma disputa de leões e hienas, a montagem foi apagada do perfil do presidente após forte repercussão negativa. A Secretaria de Comunicação da Presidência disse que não fez a postagem e não comentou a publicação. Bolsonaro está em Riad, na Arábia Saudita, onde cumpre agenda de viagens pela Ásia e Oriente Médio.

“Carluxo”. Nos bastidores, a autoria do vídeo foi atribuída ao vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho zero dois do presidente, que gerencia as publicações do perfil do chefe do Executivo, nas redes sociais.

No último dia 17, o vereador se desculpou por comentário na conta do pai sobre julgamento que pode mudar entendimento do Supremo a respeito da prisão após condenação em segunda instância.

O vídeo também esquentou a crise no PSL. Ex-líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (SP) rebateu a produção, questionando se a ideia era dispensar votos e ajuda do “maior partido da base e que mais ajudou o governo”. “Deus limitou só a inteligência. A burrice é ilimitada”, disse ela no Twitter. Bibo Nunes (PSL-RS), por sua vez, saiu em defesa de Bolsonaro. Na sua avaliação, a peça era obra de “algum militante”. “Em viagem de negócios pelo mundo, (Bolsonaro) não estaria se ocupando com vídeos. Por favor!!!”, escreveu Nunes.

Crise vizinha. Além de citar os confrontos domésticos, o vídeo também fez referência à instabilidade política na América Latina. “Chile, Argentina, Bolívia, Peru e Equador. Mais que a vida, a nossa LIBERDADE. Brasil acima de tudo! Deus acima de todos”, dizia uma legenda da publicação. Os países listados tiveram recentemente eleições e protestos.

A Argentina elegeu para a Casa Rosada, no domingo, o peronista Alberto Fernández derrotando o aliado de Bolsonaro, Mauricio Macri. O presidente brasileiro disse que não irá cumprimentar o vencedor. Bolsonaro também ficou incomodado com uma imagem publicada por Fernández, horas antes do resultado, em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O primeiro ato do Fernández foi ‘Lula livre’, dizendo que está preso injustamente. Já disse a que veio”, afirmou Bolsonaro.

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Em crise com PSL, Bolsonaro sugere criar novo partido

Julia Lindner

Camila Turtelli

29/10/2019

 

 

Em crise com o PSL, o presidente Jair Bolsonaro disse ontem que planeja criar a sua própria sigla e até já tem um nome de batismo para a legenda: Partido da Defesa Nacional (PDN). Bolsonaro afirmou, no entanto, que não fará qualquer voo político arriscado e adotou um discurso de paz e amor.

“Eu nunca saltei de paraquedas sem ficar com um paraquedas reserva”, argumentou ele, ao destacar que não tomará qualquer decisão sem construir primeiro um acordo. Após dizer na semana passada que poderia até mesmo ser um presidente sem partido, Bolsonaro observou que “por enquanto” não pretende deixar o PSL. “Mas todas as possibilidades estão na mesa. Eu não teria dificuldade em criar um partido”, comentou, pouco antes de deixar Abu Dhabi, com destino ao Catar.

O presidente chegou a afirmar que seria preferível uma separação entre ele e o PSL. “O ideal agora é como se fossem gêmeos xifópagos (ligados entre si por uma parte do corpo). É separar. Cada um segue seu destino”, declarou Bolsonaro.

Ao avaliar que a situação do PSL é “grave”, Bolsonaro afirmou, ainda, que continuará exigindo “transparência” nas contas da sigla.

Apesar de falar sobre separação, Bolsonaro afirmou, em outro momento, que gostaria de ver “tudo pacificado” com o PSL. Questionado se ir para o Patriota seria uma opção, o presidente respondeu que, apesar de gostar da legenda e de ter cogitado se filiar antes do processo eleitoral, seria melhor formar um novo partido. Foi aí que mencionou a sigla PDN.