O globo, n.31378, 05/07/2019. País, p. 06

 

Bolsonaro: demarcações 'dificultam progresso'

Jussara Gomes 

05/07/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que a interferência de autoridades estrangeiras na demarcação de terras indígenas e quilombolas e a ampliação de áreas ambientais atrapalharam o progresso no Brasil. A afirmação foi feita durante café da manhã com deputados e senadores da bancada ruralista. Bolsonaro também disparou críticas contra o presidente da França, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, com quem se encontrou na semana passada em Osaka, no Japão, durante a cúpula do G20, o grupo dos países mais industrializados do mundo.

De acordo com o presidente, as conversas com os dois líderes europeus confirmaram o que ele pensava “no passado” sobre a interferência estrangeira na questão ambiental.

—Esses dois, em especial, achavam que estavam tratando com governos anteriores, que após reuniões como essa, vinham pra cá, demarcavam dezenas de áreas indígenas, demarcavam quilombolas e ampliavam área de proteção. Ou seja, dificultavam cada vez mais nosso progresso aqui no Brasil —disse.

SEM CACIQUE

Aos parlamentares, Bolsonaro afirmou ter dado um “rotundo não” ao presidente da França que, na ocasião, pediu que as questões ambientais fossem tratadas em reuniões com o cacique Raoni, líder da etnia kayapó. Aos 87 anos, o cacique se tornou uma referência internacional nas últimas décadas em sua luta pela preservação dos povos indígenas e da Amazônia. Bolsonaro disse que não conhece Raoni como autoridade.

— O senhor Macron queria que eu, ele, ao lado do Raoni, viesse anunciar decisões para nossa questão ambiental. Dei-lhe um “rotundo não” —contou o presidente, minimizando a importância de Raoni no país.

— Não reconheço o Raoni como autoridade aqui no Brasil. Ele é um cidadão como outro qualquer, que nós devemos respeito e consideração — pontuou.

Bolsonaro voltou a afirmar que convidou Macron e Angela Merkel para sobrevoarem a Amazônia e ver de perto o que o Brasil está fazendo para a preservação do meio ambiente. No encontro com o presidente francês, o brasileiro confirmou que manteria o país no Acordo de Paris, o que ainda provoca desconfianças de autoridades.

—Eu sobrevoei a Europa duas vezes e também lhes disse que não encontrei um quilômetro quadrado de floresta naquela região. Eles não têm autoridade para vir discutir essa questão conosco. Mudou a maneira do Brasil se portar perante o mundo — relatou o presidente.

Desde a campanha eleitoral, no ano passado, Bolsonaro critica as demarcações de terras feitas por governos anteriores e afirma que não pretende decidir pela criação de novas áreas.