O globo, n.31379, 06/07/2019. País, p. 10

 

Aécio vira réu em São Paulo por corrupção e obstrução da Justiça

Sérgio Roxo 

06/07/2019

 

 

O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) vai responder na Justiça Federal de São Paulo a um processo em que é acusado de recebimento de propina e de tentativa de obstrução da Justiça em relação a inquéritos da Operação Lava-Jato. Em abril do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia aceitado a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Como o mandato dele no Senado acabou, e o crime atribuído pela investigação teria sido cometido naquela época, a Corte enviou a ação para a primeira instância.

De acordo com a PGR, Aécio, quando era senador, recebeu R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, do Grupo J&F. Também são acusados de corrupção passiva a irmã do senador, Andréa Neves, seu primo Frederico Pacheco de Medeiros e Mendherson Souza Lima, assessor do então senador Zezé Perrella.

Como o processo trata de um encontro entre Aécio e Joesley ocorrido no Hotel Unique, na capital paulista, a determinação foi que a investigação tivesse como destino a Justiça Federal de São Paulo. Nesse encontro, registrado em áudio por Joesley, que fechou acordo de delação premiada, foi tratada a quantia de R$ 2 milhões, destinada a pagar advogados.

Mesmo com a eleição de Aécio para a Câmara dos Deputados, no ano passado, o processo deixou o STF porque, em maio de 2018, os ministros decidiram que só devem ficar na Corte as ações que tenham parlamentares como réus por causa de assuntos relacionados ao mandato em exercício.

Os recebimentos foram realizados por Frederico Pacheco e Mendherson Souza. As investigações apontaram que os valores recebidos for amparar na contada empresa Tapera Participações, cujo sócio majoritário é Gustavo Henrique Perrela, filho do então senador Zezé Perrela.

A denúncia também aponta que Aécio “empreendeu esforços para interferir na distribuição dos inquéritos da investigação na Polícia Federal, afim de selecionar delegados que supostamente poderiam aderir ao impedimento” das investigações.

O advogado de Aécio, Alberto Zacharias Toron, disse em nota que “não há nenhum fato novo” na decisão. “A partir de agora as investigações demonstrarão de forma clara que o deputado Aécio Neves foi, na verdade, vítima de uma ação criminosa do Sr. Joesley Batista em parceria com o ex- procurador investigado Marcelo Miller. Ao final restará provada a absoluta correção dos atos do deputado e de seus familiares”.