O globo, n. 31359, 16/06/2019. País, p. 5

 

‘Confiança 100% só em pai e mãe’, diz Bolsonaro

Amanda Almeida

16/06/2019

 

 

Apesar da ressalva, presidente afirma que credibilidade de Sergio Moro não foi prejudicada por divulgação de conversas envolvendo a Operação Lava-Jato; nas redes sociais, ele fez um apelo pela manutenção da flexibilização do porte de armas

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que só confia 100% em seu pai e sua mãe, ao comentar a situação do ministro da Justiça, Sergio Moro, que teve diálogos com a força-tarefa da Lava-Jato divulgados semana passada pelo site “The Intercept Brasil”. Bolsonaro completou, porém, que na sua avaliação a credibilidade de Moro não foi atingida. O presidente insinuou que as conversas podem ter sido “forjadas”.

— Eu não sei das particularidades da vida do Moro. Eu não frequento a casa dele. Ele não frequenta a minha casa, por questão até de local onde moram nossas famílias. Mas mesmo assim, meu pai dizia para mim: “Confie 100% só em mim e na minha mãe” — disse o presidente, ao sair do Palácio do Alvorada. Questionado sobre um possível abalo à credibilidade do ministro, Bolsonaro o defendeu:

— Quanto à minha pessoa, zero. Mas tem um crime de invadir o celular do caboclo lá. E outra: tem programa a que eu tive acesso em que você forja conversa e ponto final. O que interessa? O Moro foi responsável, não por botar um ponto final, mas por buscar uma inflexão na questão da corrupção, e mais importante: livrou o Brasil de mergulhar em uma situação semelhante à da Venezuela. Bolsonaro ainda citou a demissão do ex-ministro Santos Cruz da Secretaria de Governo ao ser questionado, ainda no contexto da situação de Moro, sobre “ninguém ser inabalável”:

—Muita gente se surpreendeu com a saída do general Santos Cruz. Isso pode acontecer. Muitas vezes, na separação de um casal, você se surpreende: “Mas viviam tão bem!”. Mas a gente nunca sabe qual a razão daquilo. E é bom não saber.

Diálogos de Moro

O site “The Intercept Brasil” publicou mensagens atribuídas ao procurador Deltan Dallagnol e a Moro que indicam que os dois combinaram atuações na Operação Lava-Jato. A reportagem cita ainda mensagens que sugerem dúvidas dos procuradores sobre as provas para pedir a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex do Guarujá, poucos dias antes da apresentação da denúncia. As conversas tornadas públicas indicam também que os procuradores teriam discutido uma maneira de barrar uma entrevista do expresidente, autorizada por um ministro do Supremo Tribunal Federal, antes do primeiro turno da eleição. Ainda segundo o site, Moro teria sugerido aos integrantes do Ministério Público Federal que emitissem uma nota rebatendo a defesa do ex-presidente Lula.

Apelo por armas

Também ontem, o presidente pediu, em uma rede social, que a população cobre dos senadores a manutenção de seus decretos que flexibilizaram o porte de armas. Na semana passada, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado votou pela revogação dos atos do presidente. A decisão ainda precisa ser referendada pelo plenário da Casa.

O governo foi derrotado na CCJ, na última quarta-feira, por 15 votos a nove. Senadores aliados do presidente admitem preocupação com a possibilidade de o resultado ser mantido no plenário. A votação seria na própria quarta-feira, mas o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), em acordo com os líderes, decidiu adiá-la. Decreto assinado em maio pelo presidente amplia o porte para 20 profissões, como políticos eleitos, servidores que trabalham na área de segurança pública, advogados em atuação pública, caminhoneiros, oficiais de Justiça, profissionais de imprensa que atuam em coberturas policiais e agentes de trânsito. Também são contemplados moradores de propriedades rurais e donos e dirigentes de clubes de tiro.

Na sexta-feira, o presidente do Senado anunciou que tomará as “providências necessárias” contra ameaças que estariam sendo feitas a senadores contrários aos decretos sobre as armas. O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), relatou que ele e outros parlamentares foram vítimas de ataques por se oporem à medida.