O globo, n. 31357, 14/06/2019. País, p. 6

 

Legado de Moro 'não tem preço', diz Bolsonaro

Gustavo Maia

14/06/2019

 

 

Em defesa de ministro da Justiça, presidente comenta pela primeira vez conversas sobre a Lava-Jato e afirma que houve ‘invasão criminosa’; Moro diz que era normal receber advogados e procuradores ‘dentro da licitude’

Em suas primeiras declarações públicas sobre a divulgação de mensagens do então juiz Sergio Moro pelo site “The Intercept Brasil”, o presidente Jair Bolsonaro defendeu ontem o ministro da Justiça e exaltou sua trajetória como magistrado federal. Bolsonaro disse que o que Moro fez pelo combate à corrupção no Brasil é imensurável.

— O que ele fez não tem preço. Ele realmente botou pra fora, mostrou as vísceras do poder, a promiscuidade do poder no tocante à corrupção —disse Bolsonaro.

Em entrevista ao jornal “O Estado de São Paulo”, o ministro Moro disse que não pode reconhecer a autenticidade dos diálogos divulgados enquanto o material não for liberado na íntegra, e pede que as conversas sejam entregues sem edição ao STF. Ele afirmou, também, que era normal receber advogados e procuradores e trocar informações com eles, “dentro da licitude”. Moro acredita que o ataque foi uma ação de um grupo criminoso organizado, e não de um hacker isolado, e garantiu que não pensa em se afastar do cargo.

Reportagens do Intercept revelaram mensagens trocadas entre o então juiz e o procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Lava-Jato. Segundo o site, Moro deu orientações ao procurador sobre como atuar em processos da operação, inclusive no caso do tríplex do Guarujá (SP), que investigava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o levou à prisão.

Novos trechos dos diálogos foram divulgados anteontem pelo site (leia ao lado).

Perguntado se acha normal uma conversa entre um juiz e um procurador como as divulgadas, Bolsonaro respondeu com ironia.

—Normal é conversa com doleiro, com bandidos, com corruptos... Isso é normal? —questionou o presidente.

"Quebra criminosa"

Bolsonaro disse ainda que houve uma “invasão criminosa” e chegou a questionar a veracidade das mensagens.

Segundo o Jornal Nacional, uma investigação da Polícia Federal aponta que a possível origem dos ataques hackers a celulares de autoridades ligadas à Lava-Jato foi o celular do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, acessado em abril. A partir do Telegram instalado em seu aparelho, o invasor teria chegado aos grupos de conversas com os procuradores.