O globo, n. 31340, 28/05/2019. Rio, p. 13

 

Crivella diz que impeachment contra ele 'já morreu'

Saulo Pereira Guimarães

28/05/2019

 

 

Declaração provoca reações de vereadores, que exigem retratação e dizem que prefeito ainda não tem os votos necessários para a sua absolvição no processo aberto na Casa. Ontem, foram ouvidas quatro testemunhas

O prefeito Marcelo Crivella, alvo de uma investigação na Câmara Municipal que pode levá-lo até a perda do cargo, disse ontem que o processo de impeachment contra ele “já morreu” e “só falta ser enterrado”. A declaração, feita durante a inauguração de um tomógrafo no Hospital municipal Miguel Couto, repercutiu mal entre os parlamentares, que agora cobram uma retratação.

— Olha, eu acho que o impeachment já morreu. Só falta ser enterrado. Porque as testemunhas queia mm e acus arme defenderam. Sem pé, sem cabeça, não tem o menor sentido nem discutir isso aqui. É um ato meramente político, que será varrido para o lixo da história —disse Crivella durante a cerimônia.

Constrangimento

Reunidos ontem na comissão que analisa as denúncias contra Crivella — acusado de ter renovado de forma irregular e sem licitação um contrato para exploração de propaganda no mobiliário urbano —, vereadores rebateram o prefeito.

—A comissão vem fazendo um trabalho sério, respondendo a muitos questionamentos. Podem ter certeza de que esse processo não está morto — afirmou Willian Coelho (MDB), presidente da comissão, durante a sessão, em que seria tomado o depoimento do secretário de Fazenda, Cesar Barbiero.

Relator do grupo, o vereador Luiz Carlos Ramos Filho (Podemos) também mostrou-se irritado:

— Não passei fins de semanas e feriados estudando esse processo por brincadeira.

Ex-chefe da Casa Civil de Crivella, Paulo Messina (PRB) afirmou que a assessoria de comunicação do prefeito poderia orientá-lo melhor.

— Isso acaba por constranger os membros da comissão numa eventual absolvição —disse.

Reimont (PT) sugeriu à Mesa da Câmara que as sessões da comissão sejam transferidas para o período da noite e abertas ao público. As mudanças permitiriam que mais pessoas acompanhassem as discussões. Nos últimos dois encontros da comissão, havia menos de 30 pessoas no plenário.

— Uma fala como essa é muito ruim para a democracia. O prefeito não pode enganar as pessoas e passar a sensação de que já sabe o resultado do impeachment. Ele ainda não tem os 18 votos necessários na Casa. Quem decide é o plenário. O impeachment não está morto. Morto está é o governo dele — afirmou o vereador Paulo Pinheiro (PSOL), acrescentando que a Casa deveria cobrar uma retratação pública de Crivella.

Segundo a defesa de Crivella, as críticas do prefeito foram para “o pedido” de impeachment, e não para os membros da Casa que conduzem a análise.

O processo de impeachment apura se houve improbidade administrativa por parte de Crivella que prorrogou, sem licitação, uma concessão, de 1999, que autoriza dois grupos de agências de publicidade a usarem para propaganda 34 locais públicos, como pontos de ônibus e relógios de rua.

Ontem, foram inquiridos pela comissão, além do secretário Barbiero, o subsecretário de Patrimônio Marcus Vinícius Belarmino e Ana Célia Biondi Rodrigues e Humberto Gomes Pereira, representantes das empresas JC Decaux e Adshell, respectivamente. As companhias assinaram os contratos que originaram o pedido de afastamento do prefeito.

Barbiero afirmou que a prorrogação dos contratos foi uma solução para o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão.

— Não havia outra alternativa a não ser a extensão do prazo — afirmou o secretário aos vereadores.