Correio braziliense, n. 20419, 17/04/2019. Economia, p. 7

 

Desenvolvimento Humano se mantém estável

Bruno Santa Rita

Maria Eduarda Cardim

Rafaela Golçalves

17/04/2019

 

 

Conjuntura/ Puxado pelo aumento da longevidade e pelos indicadores de educação, índice aferido nos municípios teve aumento discreto entre 2016 e 2017, mas revela queda na renda média. Houve uma pequena redução entre salários de negros e brancos

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) ficou estável entre 2016 e 2017. De acordo com estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), houve um pequeno aumento no indicador, que variou de 0,776 para 0,778, em uma escala de 0 a 1, puxado pelo aumento da longevidade e pela educação, que contrabalancearam o retrocesso na renda.

A longevidade média da população passou de 74,52 anos, em 2012, para 75,99 anos, em 2017, elevando o índicec em 1,6% no período. A redução de 4% ao ano na mortalidade infantil contribuiu para o resultado na dimensão de longevidade. Em 2012, foram registrados 15,69 óbitos a cada mil nascidos vivos. Em 2017, o número caiu para 12,81.

Apesar do subíndice frequência escolar e escolaridade terem avançado, o acesso à educação ainda não é para todos. Em 2017, enquanto 96,7% das crianças de 5 a 6 anos estavam frequentando a escola e 93,2% das crianças de 11 a 13 anos chegavam ao segundo ciclo do ensino fundamental, apenas 69,6% dos adolescentes de 15 a 17 anos tinham concluído o fundamental e 59,3% dos jovens de 18 a 20 anos tinham o ensino médio finalizado.

A queda na renda per capita da população foi de 0,92%. No período, houve redução de R$ 842,04 para R$ 834,31 na renda per capita. Ainda sobre a renda dos brasileiros, o estudo apontou uma discreta redução na diferença entre os salários da população negra e da branca. Mesmo assim, a análise do projeto mostrou que os brancos ainda ganham cerca de duas vezes mais que os negros. A média é de R$ 1.144,76 mensais para brancos contra R$ 580,79 para os negros. O IDHM da população branca caiu de 0,819 para 0,817, e o da população negra subiu de 0,728 para 0,732. De acordo com a pesquisa, o resultado foi possível pela melhoria em todos os quesitos analisados para os negros e pela queda nas dimensões de Renda e Educação para os brancos.

Na avaliação do diretor de Estudos e Políticas Regionais Urbanas e Ambientais do Ipea, Aristides Monteiro Neto, os dados mostram resiliência em relação à crise econômica. “Os indicadores da educação e de saúde são os que mais resistem, inclusive à queda monetária”, disse, o que atribui ao sucesso de políticas públicas.

Para o diretor do FGV Social, Marcelo Neri, os indicadores mostram alguns problemas: uma pequena reversão na dimensão da renda e uma desaceleração na expectativa de vida. Apesar de observar o crescimento da esperança de vida, de 75,72 anos em 2016 para 75,99 anos em 2017, Marcelo chama atenção para a redução que acontece na comparação com números dos anos passados. De 2012 para 2013, a expectativa cresceu 0,32 (anos), de 2013 para 2014 o índice teve variação de 0,3. De 2015 para 2016, o crescimento caiu mais, apenas 0,28. Este ano, 0,27.

O economista da FGV Social (Fundação Getúlio Vargas), e ex-presidente do Ipea, Marcelo Neri, vê saturação e afirma estar preocupado. “A expectativa de vida aumentou metade do que se crescia e teve uma grande desaceleração. Além disso, na dimensão econômica andamos para trás”, analisa. “Quando há aumento da expectativa de vida, é preciso fazer reformas na economia. Houve avanço social sem avanço econômico”, disse. Para ele, “o modelo econômico teve vários avanços, mas chegou a um esgotamento”.

“Quando há aumento da expectativa de vida, é preciso fazer reformas na economia. Houve avanço social sem avanço econômico”

Marcelo Neri, economista da FVG Social