O globo, n. 31306, 24/04/2019. País, p. 8

 

Bolsonaro fala em 'ponto final', mas filhos atacam Mourão

Gustavo Maia

Jussara Soares

Rayanderson Guerra

24/04/2019

 

 

Carlos volta a publicar série de críticas nas redes, e vice-presidente afirma: ‘Quando um não quer, dois não brigam’

Um dia após o presidente Jair Bolsonaro divulgar nota dizendo que declarações recentes do ideólogo de direita Olavo de Carvalho contra o vice-presidente, Hamilton Mourão, não contribuem para os objetivos do governo, novos ataques ganharam ontem as redes sociais. Olavo rebateu declaração de Mourão, enquanto o filho do presidente e vereador, Carlos Bolsonaro, manteve a ofensiva com tuítes contra o vice. As críticas foram replicadas pelo irmão, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSLSP). Já o presidente pediu um “ponto final” na briga entre Carlos e Mourão, mas disse que seu filho estará sempre ao seu lado.

Olavo rebateu a afirmação de Mourão de “se limitar à função de astrólogo”. No Facebook, disse que tentar arranhar sua reputação o chamando de astrólogo “é coisa de moleque analfabeto”.

Já Carlos, que ao longo do dia postou novos ataques a Mourão ignorando pedido do pai para que a briga chegasse ao fim, voltou a criticar Mourão à noite. Em uma nova publicação no Twitter, Carlos acusou o vice, chamado por ele de “o tal de Mourão”, de ter dito que a facada sofrida por Bolsonaro durante a campanha era uma “vitimização.”

“Naquele fatídico dia em que meu pai foi esfaqueado por ex-integrante do PSOL e o tal de Mourão em uma de suas falas disse que aquilo tudo era vitimização. Enquanto um homem lutava pela vida e tentava impedir que o Brasil caísse nas garras do PT, queridinhos da imprensa opinavam”, escreveu Carlos, reproduzindo cópia de uma reportagem do G1.

A reportagem citada por Carlos, no entanto, não é do mesmo dia em que o presidente sofreu o atentado durante ato de campanha. Bolsonaro foi golpeado por Adélio Bispo dos Santos no dia 6 de setembro. A declaração de Mourão à imprensa foi dada cinco dias depois, em 11 de setembro, em Brasília, ao defender que a campanha não explorasse o atentado.

“Esse troço já deu o que tinha que dar. É uma exposição que eu julgo que já cumpriu sua tarefa. Ele (Bolsonaro) vai gravar vídeo do hospital, mas não naquela situação, não propaganda. Vamos acabar com a vitimização, chega”, afirmou o vice na ocasião.

"Filho é filho, né?"

Mourão esteve ontem cedo no Palácio da Alvorada para uma reunião ministerial com Bolsonaro. No fim do dia, em sua primeira manifestação pública sobre os ataques diretos do filho do presidente, o vice citou um ditado popular para tentar diminuir a temperatura na relação com o vereador.

—E usei de todas as perguntas que vocês querem fazer, ma sé o seguinte: calma, todo mundo emite sua opinião, tal e coisa, né? A minha mãe sempre dizia uma coisa: quando um não quer, dois não brigam, tá certo? Então é essa a minha linha de ação, vamos manter acalma —afirmou, na saída de seu gabinete, no início da noite.

Ao responder se Bolsonaro deveria ou não repreender seu filho como fez na última segunda-feira ao divulgar nota dizendo que declarações recentes de Olavo “não contribuem” para o governo, ele preferiu deixar a resposta para o chefe do Executivo.

—O presidente é o presidente,né? Então ele tema forma de lede pensar. Aguarda, né? Filho é filho, né? Minha filha tava aqui, pô — disse.

Mourão disse que não falou sobre o tema com Bolsonaro.

Tentativa de apaziguar

Após os novos ataques, o porta-voz Otávio Rêgo Barros, disse que o presidente quer colocar um “ponto final” naquilo que o Planalto classificou como uma “pretensa discussão” entre Mourão e Carlos. No pronunciamento lido, o presidente reforça que o filho estará sempre ao seu lado.

Opinião do GLOBO

Mais atenção

O PRESIDENTE Bolsonaro fez bem ao criticar os termos com os quais o ideólogo Olavo de Carvalho atacou seu governo, em especial os militares.

MESMO QUE tenha sido em sua própria rede que as críticas foram postadas. Falta, então, o presidente controlar melhor a administração de suas páginas na internet.

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Presidente é alertado sobre base criada por partido do vice

Bela Megale

24/04/2019

 

 

Líder do PRTB, Levy Fidelix teria apoio de cem deputados para votações

O presidente Jair Bolsonaro foi alertado por uma aliada de que Levy Fidelix, presidente do partido ao qual o vice-presidente Hamilton Morão é filiado, o PRTB, tem atuado na construção de uma base no Congresso. A interlocutores, Fidelix já disse que, nos próximos meses, terá apoio de cem deputados nas votações da casa.

O movimento de Fidelix acontece de maneira autônoma e independente do PSL, partido do presidente. Ao receber o alerta, Bolsonaro disse à informante que acompanha com atenção as movimentações de Mourão e da legenda. Nos bastidores, o vice-presidente já vem sendo chamado pelos mais maldosos de “Michel Temer de Bolsonaro”.

O episódio faz parte de mais uma crise do governo, desta vez protagonizada por Mourão e um dos filhos do presidente, o vereador no Rio Carlos Bolsonaro (PSC), que vem dirigindo ataques incisivos ao vice. Carlos é o responsável pela estratégia de comunicação nas redes sociais do pai, que o considera figura central na sua vitória na eleição de 2018.

Panos quentes

O conflito entre Carlos e Mourão ganhou força no último domingo, com a publicação de vídeo no canal do YouTube de Bolsonaro com críticas aos militares. Nele, o ideólogo Olavo de Carvalho dizia que a última contribuição das escolas militares foram as obras de Euclides da Cunha. O filme foi compartilhado por Carlos no Twitter, mas depois foi apagado por Bolsonaro do seu canal oficial.

Pressionado pelos militares, Bolsonaro desautorizou o ideólogo em uma mensagem lida pelo porta-voz do Planalto, mas silenciou sobre aposturado filho, que controla suas contas, principal menteno Youtube e Facebook. Irritado com apressão, o vereador saiu em defesa de Olavo, de quem é admirador assumido, e partiu para cima de Mourão. Em 24 horas foram quatro mensagens de ataque. O vice-presidente, que já teve diversos embates públicos com o guru dos filhos do presidente, tem evitado qualquer crítica a ele, pelo menos em público.

Com o aumento da tensão, os militares mais próximos ao presidente começaram a trabalhar para colocar panos quentes na situação. Sugeriram a Bolsonaro fazer uma declaração pública para separar as suas manifestações das do filho. Também voltaram a aconselhá-lo a ter mais controle sobre suas redes sociais e delegá-las menos a Carlos. Nos dois casos, não foram ouvidos. Para Mourão, a dica foi segurar a boca e tentar se manter o mais discreto possível.

Na noite de ontem, o porta-voz do Planalto leu uma nova mensagem afirmando que o presidente quer colocar fim nos embates entre o vice-presidente e o vereador. Palacianos, porém, avaliam que a crise não cessará enquanto os ataques de Carlos e Olavo persistirem.

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Advogados lançam manifesto de apoio ao Supremo

Sérgio Roxo

24/04/2019

 

 

Em meio a polêmicas envolvendo o STF, grupo vê ‘clima de pressão’ para que Corte se curve ao ‘populismo autoritário’

Um grupo de 500 advogados lançou ontem um manifesto de apoio ao Supremo Tribunal Federal (STF). No documento, os juristas afirmam que há um clima de pressão para que os integrantes da Corte “se curvem ao populismo autoritário”.

Entre os juristas que assinam o manifesto estão os exministros da Corte Eros Grau e Sepúlveda Pertence, além do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.

“Com virulência, escondidos nos subterrâneos das redes sociais e até mesmo, em alguns casos, de forma institucional, autoridades, indivíduos e grupos pretendem constranger e intimidar os Ministros do STF e do Superior Tribunal de Justiça. O objetivo é a construção de um clima de pressão sobre as Cortes e seus integrantes, para que se curvem, definitivamente, ao populismo autoritário”, diz trecho do documento.

O manifesto será entregue para cada um dos 11 ministros do Supremo a partir do próximo dia 3. O grupo também está programando um jantar de desagravo ao tribunal, com a presença do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli.

Ressalvas a Toffoli

A elaboração do manifesto de apoio à Corte foi motivo de tensão entre os advogados, porque muitos têm críticas aos atos de Toffoli à frente do Supremo. O episódio da semana passada, de censura à revista “Crusoé” e ao site “O Antagonista”, determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, também foi mal visto. As reportagens publicaram documento que citava o presidente do STF e o relacionava à Odebrecht. Outra polêmica recente envolvendo o Supremo se refere a um inquérito iniciado recentemente no tribunal que investiga ameaças à Corte.

A avaliação que prevaleceu entre os advogados, porém, foi a de que era necessário redigir o manifesto, porque apoiadores do presidente Jair Bolsonaro estão empenhados em enfraquecer o STF para criar clima para o impeachment de ministros ou para redução da idade máxima de aposentadoria para 70 anos.

Com essas medidas, Bolsonaro poderia construir uma maioria conservadora dentro do Supremo. O manifesto foi organizado pelo tributarista Marco Aurélio Carvalho, pelos criminalistas Alberto Zacharias Toron, Fábio Tofic e Roberto Podval e pelo jurista Lenio Streck.