Valor econômico, v. 19, n. 4600, 29/09/2018. Brasil, p. A2

 

Despesa com swap pressiona conta de juros e aumenta a dívida bruta

Isabel Versiani

Alex Ribeiro

29/09/2018

 

 

As perdas do Banco Central nas operações de swap cambial têm impedido uma redução das despesas totais do setor público com juros, mesmo com a Selic em seu menor patamar histórico. Em agosto, os gastos com juros mais do que dobraram em relação ao mês anterior e somaram R$ 60 bilhões, maior valor mensal em quase três anos. O swap respondeu por uma fatia de R$ 28,6 bilhões desse total, em um mês em que a desvalorização cambial de mais de 10% gerou prejuízos para o BC na liquidação dessas operações, que correspondem à venda de dólar no mercado futuro.

No ano até agosto, as despesas acumuladas com juros subiram R$ 17,7 bilhões na comparação com o mesmo período do ano passado. Se não fossem os swaps, a conta teria caído em R$ 28 bilhões.

Os gastos com swaps e o resultado primário deficitário do setor público em agosto, de R$ 16,9 bilhões, contribuíram para o aumento da dívida bruta do governo central no mês, segundo dados divulgados pela autoridade monetária. A alta — de R$ 5,186 trilhões para R$ 5,224 trilhões, o equivalente a 77,3% do PIB — se deu a despeito de um abatimento no débito federal, no mês, de R$ 70 bilhões em virtude do pagamento antecipado feito pelo BNDES ao Tesouro Nacional em antecipação do valor total da dívida que a instituição tem com o governo federal.

Ao comentar os números, o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, destacou o efeito cambial sobre as contas em agosto, mas afirmou que, enquanto as contas primárias (que não levam em conta despesas com juros) do setor público forem negativas, a dívida vai continuar subindo. “Para que a dívida bruta e líquida se estabilize e passe a se reduzir, é preciso que o setor público faça superávits primários em magnitudes necessárias. Enquanto isso não acontecer, a tendência geral das dívidas é de crescimento.”

Alberto Ramos, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas para América Latina do Goldman Sachs, disse que, diante da expectativa de que o país siga registrando déficits pelos próximos três anos, sua estimativa é que a dívida bruta baterá em 80% do PIB antes de se estabilizar. “Isso deixa o ambiente fiscal, e a economia em geral, vulnerável a choques domésticos e externos adversos”, afirmou em nota distribuída a clientes.

Com a alta do dólar em agosto, a dívida líquida, que considera também os ativos do setor público, recuou no mês. Isso porque a desvalorização cambial eleva o valor das reservas internacionais em reais. Em agosto, as reservas aumentaram em R$ 136,643 bilhões, mais do que compensando as perdas com os swaps no período. No acumulado de janeiro a agosto, as receitas em reais aumentaram em R$ 253,830 bilhões

A pressão do swap sobre as contas públicas deve arrefecer em setembro, mês em que o BC tem obtido ganhos com o derivativo, como resultado do recuo do dólar. Até o dia 21, a autoridade monetária acumulava uma receita de R$ 6,798 bilhões com as operações no mês.

No ano, a conta ainda estava negativa em R$ 29,6 bilhões. Os saldos dos próximos meses dependerão essencialmente do comportamento do dólar. O BC oferece esse contrato ao mercado como forma de oferecer proteção aos investidores em momentos de grande volatilidade. A última vez em que a autoridade monetária ofereceu novos contratos do derivativo foi em 30 de agosto, quando, após um jejum de quase dois meses, foram fechados contratos equivalentes à venda de à venda de US$ 1,5 bilhão no mercado futuro. O estoque de contratos em mercado soma US$ 68,9 bilhões.