O globo, n. 31355, 12/06/2019. País, p. 6

 

Contenção de danos

Amanda Almeida

Bruno Góes

Daniel Gullino

Jailton de Carvalho

Natália Portinari

12/06/2019

 

 

Pressionado, Moro toma iniciativa de ir ao Senado, e Maia tenta esfriar crise na Câmara

Em uma tentativa de estancar a crise, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, seguiu conselho do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e marcou para a próxima quarta-feira, dia 19, uma ida à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa para dar explicações sobre as supostas mensagens trocadas por ele, ainda como juiz na Lava-Jato, e o procurador Deltan Dallagnol, reveladas pelo site The Intercept Brasil.

Pressionado pela divulgação das conversas, Moro considerou que ir espontaneamente ao Congresso é um desgaste menor do que ser convocado, e, assim, pretende tornar o ambiente menos hostil. O ministro está preocupado com a superexposição e com os desdobramentos do caso. Parte do receio se deve à desarticulação da base do governo Jair Bolsonaro. Moro repete que não cometeu nenhuma ilegalidade.

Em outra frente, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), desencorajou o centrão a embarcar em um pedido de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) proposto pela oposição.

A reportagem do The Intercept mostrou mensagens trocadas entre Moro, então juiz, e Dallagnol. Segundo o site, Moro deu orientações ao procurador sobre como atuar em processos da LavaJato, inclusive em um que investigava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A estratégia para que Moro se oferecesse para ir ao Senado foi traçada pelo próprio presidente da Casa, o líder do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE),

e outros senadores em reunião na noite de anteontem. Alcolumbre agiu para tentar afastar a crise do Congresso, evitando convocações e a pressão por uma CPMI. O ministro ouviu o conselho e assentiu.

Coube ao líder do governo no Senado formalizar a iniciativa, por meio de um ofício. “Manifestamos a nossa confiança no ministro Sergio Moro, certos de que esta será uma oportunidade para que ele demonstre a sua lisura e correção como juiz federal, refutando as críticas e ilações a respeito de sua conduta à frente da Operação Lava Jato”, escreveu Bezerra.

Moro almoçou ontem com senadores do bloco formado pelo DEM, PR e PSC. O encontro já estava marcado antes do caso vir à tona. Ao entrar e sair do gabinete, evitou a imprensa. Aos senadores, criticou a forma como as mensagens foram obtidas, chamando de “ataque criminoso” e se disse aberto a falar sobre o tema, ressalvando não ter certeza se as mensagens são reais.

Na Câmara, Maia recomendou a líderes do centrão que não tomassem atitudes imediatas. O pedido foi reforçado especialmente em relação ao embarque em uma CPI sobre o tema. Líderes estavam reunidos na residência oficial do presidente da Câmara quando o site publicou as reportagens no fim da tarde de domingo. Deputados do MDB, PP, PSDB, PRB, PR, DEM, PTB, Patriota e PSC se debruçaram sobre seus respectivos celulares.

Alguns liam trechos em voz alta. O que provocou maior indignação foi uma mensagem atribuída a Moro em que ele fala sobre “limpar o Congresso”.

Reação imediata

Imediatamente, segundo presentes na reunião, já se cogitou a criação de uma CPI. Coube a Maia recomendar parcimônia. Ele defendeu aguardar para medir a repercussão do caso. Desde então, líderes do centrão foram cautelosos. Não se manifestaram contra Moro e defenderam que é preciso aguardar para conhecer todo o material que o site promete publicar.

— Os fatos são graves e precisam ser investigados. Mas precisamos ver a íntegra do material antes de tomar qualquer atitude —disse ao GLOBO o líder do PR, Wellington Roberto (PB).

Os líderes do MDB, Baleia Rossi (SP), e do DEM, Elmar Nascimento (BA), foram na mesma linha. A oposição, por outro lado, já se movimentou para pedir uma CPI. Na manhã de ontem, PT, PCdoB, PSOL, PDT e PSB se reuniram para articular uma estratégia conjunta.

Para o presidente do PSB, Carlos Siqueira, a equipe de procuradores está“comprometida” e as decisões tomadas por eles não seriam legítimas.

— Acho que outros partidos e mesmo pessoas de diferentes partidos poderão se aglutinar em torno da defesa do Estado democrático de direito, que foi ferido coma atitude do Moro e dos procuradores—disse Siqueira.

Ontem, o corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Humberto Martins, determinou o arquivamento de um pedi dopara investigara conduta de Moro, apresentado pelo PDT,com a justificativa de que ele não pode mais ser alvo de um procedimento do órgão porque abandonou a carreira de magistrado.

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Perguntado sobre diálogos, Bolsonaro encerra coletiva

Leo Branco

Gustavo Maia

12/06/2019

 

 

Mais cedo, presidente chegou em solenidade em Brasília acompanhado do ministro da Justiça, que permaneceu ao seu lado

O presidente Jair Bolsonaro interrompeu uma entrevista coletiva ontem, na capital paulista, ao ser questionado sobre o vazamento de diálogos privados atribuídos ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e ao procurador Deltan Dallagnol , coordenador da Operação Lava-jato em Curitiba.

Depois de um encontro como governador de São Paulo, João Do ria( PSD B ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, no aeroporto de Congonhas, o presidente conversou com jornalistas sobre o andamento da proposta de reforma da Previdência.

Após responder algumas perguntas sobre o tema, Bolsonaro foi questionado sobre o vazamento das conversas, que ocorreram quando Moro ainda era juiz em Curitiba. Irritado, o presidente apenas respondeu:

— Está encerrada a entrevista.

Na sequência, ele deixou a sala de autoridades onde concedia a entrevista e seguiu para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde recebeu a Ordem do Mérito Industrial de São Paulo.

Pela manhã, em Brasília, Moro foi se encontrar com Bolsonaro no Palácio da Alvorada pela primeira vez após a divulgação das mensagens. Pouco depois, os dois embarcaram em uma lancha no Lago Paranoá, nos fundos da residência oficial do presidente, rumo a um evento da Marinha.

Eles chegaram juntos ao Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília para participar da cerimônia de comemoração do 154º Aniversário da batalha naval do Riachuelo, uma das mais importantes da Guerra do Paraguai, e da entrega das condecorações da Ordem do Mérito Naval. Tanto na embarcação quanto durante a solenidade, Moro ficou ao lado de Bolsonaro, em sinal de prestígio junto ao chefe. No evento, foi condecorado junto com outros ministros.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni , fez uma série de postagens ontem no Twitter exaltando a atuação de Moro como magistrado e o chamou de “um herói para os brasileiros”.

Ex-comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas também publicou um texto defendendo o ex juiz. O militar, que hoje é assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), expressou “o respeito e a confiança” em Moro. No dia anterior, o ministro chefe do GSI, Augusto Heleno, já tinha divulgado mensagem semelhante.