Título: Atrás do glamour perdido
Autor: Valadares , João
Fonte: Correio Braziliense, 20/08/2012, Política, p. 5

As eleições municipais, pródigas em revelar novos nomes na política, também podem ser a única oportunidade para alguns que já tiveram destaque nacional recuperarem o prestígio e o glamour que desfrutavam tempos atrás. Acostumados a debater políticas macroeconômicas e projetos de envergadura nacional e internacional, terão que discutir agora buracos nas ruas, filas nos postos de saúde e ausência de postes em algumas quadras esportivas.

Arthur Virgílio (PSDB-AM), que teve uma carreira fulminante no Congresso, é um exemplo. Líder do governo Fernando Henrique Cardoso, desfrutou de gabinete no Palácio do Planalto: secretário-geral da Presidência. Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente, Arthur chegou ao Congresso como senador. Transformou-se numa das principais vozes da oposição, tendo sido preponderante para a maior derrota de Lula na Casa — o fim da CPMF.

Rancoroso, Lula trabalhou junto ao governo Eduardo Braga (PMDB-AM) para a composição de uma chapa capaz de alijar o tucano do parlamento. Conseguiu. Virgílio lidera as pesquisas eleitorais para a prefeitura de Manaus, com 29% das intenções de voto na chapa "A esperança é agora". Curiosamente, demorou a decolar no cenário local — nas eleições para o governo do Amazonas, em 2006, teve apenas 5,5% dos votos — por espremer-se entre um debate nacional e uma questão paroquial: parte do PSDB, principalmente a ala paulista liderada por José Serra, era contra a prorrogação dos subsídios da Zona Franca de Manaus, o que só aconteceu durante o governo Lula.

César Maia (DEM-RJ) foi prefeito fluminense por três vezes. Na primeira delas, em 1996, quando não havia ainda o instituto da reeleição, conseguiu emplacar seu sucessor Luiz Paulo Conde. Teórico econômico do partido, herdeiro dileto do brizolismo, Maia reconheceu que perdeu projeção política nacional. E não se constrange em ter de pedir votos para vereador, seu novo objetivo nas disputas de outubro. "Até eu fico impressionado. Afinal, um ciclo de administrações a nível municipal me deu informações sobre a cidade e sobre a prefeitura que tornam a campanha muito prazerosa", declarou ele, ao Correio.

Uma confluência de fatores impede planos mais ambiciosos para César Maia. O DEM entrou em um inferno astral e definha a olhos vistos, com lideranças consideradas importantes, como o ex-senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), pilhadas em escândalos de corrupção e parlamentares migrando para o recém-criado PSD. Maia acredita que o estrago político só poderá ser medido em 2014. Já no Rio de Janeiro, a política passou a ser dominada pelo PMDB do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes. Fato que levou o ex-prefeito a patrocinar uma aliança com um dos seus grandes desafetos, o deputado Anthony Garotinho, para lançar a chapa Rodrigo Maia—Clarissa Garotinho para a prefeitura do Rio.

De ministro a vereador

Raul Jungmann já foi ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, deputado federal por duas vezes consecutivas, candidato a senador e a prefeito. "Pense grande" continua sendo o slogan de campanha, mas o pernambucano de 60 anos, agora, tenta uma modesta vaga na Câmara de Vereadores do Recife. Ele explica: "Sou um animal político e preciso de uma tribuna. Ficar quatro anos fora do debate é fatal", resume.

A candidatura para vereador foi emulada por uma carta assinada por um grupo de intelectuais — dentre eles Fernando Henrique Cardoso e o poeta Ferreira Goulart. Ele diz que percebe o estranhamento de parte do eleitorado. "Alguns amigos estranharam. Um deles disse que eu não cabia na Câmara de Vereadores. A verdade é que sempre fui um quadro nacional, mas sou um parlamentar de opinião. Distribuo ideia e preciso da tribuna", admitiu.

Doadores identificados

LEANDRO KLEBER

Pela primeira vez na história das eleições brasileiras, o eleitor terá a chance de conhecer o nome dos doadores de cada candidato e o valor recebido pelos políticos antes do dia da votação. A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, decidiu, baseada na Lei de Acesso à Informação, divulgar quem são as pessoas físicas e empresas que já estão doando recursos para as campanhas que acontecerão em 7 de outubro.

O TSE vai tornar público também o valor repassado por cada uma das empresas que financiam políticos e quem são esses candidatos e partidos que estão recebendo o dinheiro. Em princípio, os dados serão disponibilizados no site do TSE em formato bruto. Não haverá consultas a informações específicas ou cruzamento de dados. Desde sexta-feira, técnicos do tribunal trabalham para colocar as informações no ar, que podem aparecer a qualquer momento hoje ou nos próximos dias.

Pela lei eleitoral, sancionada em 1997, os candidatos, comitês financeiros e partidos políticos somente são obrigados a indicar os nomes dos doadores e os respectivos valores após a realização das eleições. "A omissão dos nomes dos doadores impede que os eleitores tomem ciência prévia de quem são os responsáveis pelo custeio da campanha, dado imprescindível para a tomada da opção eleitoral", defende Jovita José Rosa, diretora executiva do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.

O que diz a Lei

Os partidos, as coligações e os candidatos são obrigados, durante a campanha eleitoral, a divulgar, na internet, nos dias 6 de agosto e 6 de setembro, relatório discriminando os recursos que tenham recebido para financiamento da campanha e os gastos que realizarem. A indicação dos nomes dos doadores e os respectivos valores doados, porém, só é exigida na prestação de contas final, que ocorre em 6 de novembro, depois da realização das eleições. Com a Lei de Acesso à Informação, que regula desde maio deste ano o acesso a dados públicos por parte do cidadão, o TSE decidiu divulgar os nomes dos doadores e quanto foi doado por cada um deles já durante a campanha.