Valor econômico, v. 18, n. 4458, 09/03/2018. Política, p. A7

 

PSDB e MDB negociam aliança eleitoral

Raymundo Costa 

09/03/2018

 

 

Apesar de ter deixado o governo Michel Temer e das eventuais trocas de farpas entre os dois partidos, o PSDB tem conversado com o MDB sobre uma aliança eleitoral na sucessão de 2018. O pré-candidato do partido, Geraldo Alckmin, entende que algumas das atuais candidaturas vão se desmanchar, a campanha vai se afunilar e o PSDB terá todas as condições de passar para o segundo turno, se estruturar eficientemente o partido e a campanha eleitoral.

Um interlocutor do mercado financeiro que recentemente esteve com o governador contou que ele costuma usar a seguinte metáfora: o céu está cheio de aviões, inclusive o dele, que permanece no ar enquanto outros, por vários motivos, estão sendo obrigados a pousar ou abatidos em pleno ar.

Pelo lado do MDB, as conversas envolvem o presidente do partido, Romero Jucá (RR), com o aval de Temer. O presidente ainda guarda mágoas do comportamento de Alckmin nas duas vezes em que sua cabeça esteve a prêmio no Congresso, mas é pragmático o suficiente para tentar entrar em 2019 com um aliado no Palácio do Planalto. A permanecer a legislação vigente, no dia 1º de Janeiro de 2019 o presidente perde o foro especial. Ele e os ministros do primeiro escalão que respondem à Justiça.

Se a aliança vingar, o vice de Alckmin pode ser do PMDB, muito embora hoje o nome mais cotado para a função seja o do ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM) - ACM Neto, prefeito de Salvador, está inclinado a cumprir o mandato até o fim. O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) poderia ser o vice de Alckmin, mas ele só cogita a Presidência e hoje já se fala no governo que o mais provável é que continue como ministro. A decisão será tomada nos próximos dias.

Alckmin se prepara para uma guerra clássica de posições. Para tanto quer engrossar o máximo possível o tempo de rádio e televisão do PSDB, na campanha. Atualmente, o governador tem garantidos o PSD e o PTB, além de uma articulação bem encaminhada com o DEM, que ontem lançou a pré-candidatura do deputado Rodrigo Maia (RJ), presidente da Câmara dos Deputados, à sucessão.

A grande cartada seria a atração do MDB para a coligação, tendo em vista o tempo de televisão do partido, que é o maior de todos. Acertando com o MDB de Michel Temer, o tucano levaria de roldão o DEM, o PP, o PR - e talvez o PRB - para uma aliança capaz de unificar o centro político. O MDB é a chave para trazer esses partidos médios que, em outra circunstância, também poderiam aderir, mas a um preço mais alto. Além disso, são os partidos com os quais o Planalto conta para a "candidatura do governo" anunciada no início da semana pelo ministro Wellington Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).

O potencial da candidatura Alckmin, caso consiga unificar o centro, pode chegar a oito partidos. Já o maior desafio é o desempenho pífio do governador nas pesquisas eleitorais. Empresas de consultoria com prestígio no mercado, caso da LCA, já começaram a fazer simulações para seus clientes sobre a hipótese de uma disputa em segundo turno entre Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro, em trânsito para o PSL.

Nos bastidores, Alckmin tem se mostrado um articulador eficaz, mas ainda muito voltado para São Paulo e o PSDB. O governador já fechou a chapa João Doria-Gilberto Kassab (para o governo do Estado). O empresário Paulo Skaf é figura fundamental em qualquer acordo a ser feito, podendo mesmo ser candidato ao governo com algum outro aliado da super-coligação. Para o PSB, partido do vice-governador Marcio França, a prioridade virou a reeleição do governador Paulo Câmara, de Pernambuco, que está levando o partido de volta para os braços do PT.

O tempo de televisão é ainda mais importante porque seus eventuais adversários, à exceção do PT, PDT e PSB - se tiver candidato, o que é cada vez mais improvável - terão de se contentar com aparições-relâmpago na televisão. O caso de Marina Silva (Rede) é o mais dramático: se ela não recuperar deputados durante a janela partidária de março, nem sequer poderá participar dos debates da televisão, o que exige o partido ter um mínimo de cinco candidatos, a menos que os demais concordem.

A ideia de unificar o centro é praticamente consensual no espectro político do centro para a direita, mas tem esbarrado em desavenças que vão desde distribuição de cargos até a reforma da Previdência. Na origem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também defendeu a união de centro. A dispersão, mesmo com a saída de Lula, segundo as pesquisas, não apresentou uma solução que pudesse ser chamada de natural. Pior - para o centro - jogou sobre a mesa um segundo turno que pode ser disputado por Ciro e Bolsonaro.

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Maia se lança com promessa de combater "velha política"

Marcelo Ribeiro

Fabio Murakawa

09/03/2018

 

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse ontem, durante a convenção nacional do DEM na qual lançou sua pré-candidatura à Presidência, que assumiu o desafio de romper "com o que há de velho e atrasado". O parlamentar tentou descolar da sua imagem o presidente Michel Temer e os escândalos que rondaram o Palácio do Planalto desde que o emedebista assumiu a Presidência.

"Assumo o desafio de romper com o que há de velho e atrasado na política. Assumo o desafio de renovar o Estado brasileiro, de combater a burocracia atrasada, o corporativismo e a ineficiência do Estado. Assumo o desafio de diminuir despesas, de fazer um verdadeiro ajuste fiscal como única forma eficaz para diminuir impostos e retomar investimentos públicos", comprometeu-se Maia. "Assumo o desafio de fazer o Brasil crescer de forma consistente e assim garantir empregos de qualidade para mudar a vida dos brasileiros, para que todos possam pagar seus carnês, seus boletos em dia, principalmente, os nossos jovens. Aceito, sim, o desafio de ser candidato à Presidência".

Ciente do movimento de Maia para dissociar sua imagem da do governo, Temer pediu que auxiliares fizessem um aceno à pré-candidatura do deputado do DEM. Cada vez mais consciente de que o MDB pode não emplacar uma candidatura própria para sucedê-lo, o presidente quer manter a porta aberta caso lhe reste como alternativa compor a chapa presidencial com o DEM. Na avaliação de auxiliares do Palácio do Planalto, "não há candidatura forte sem o apoio do MDB na chapa", em função da capilaridade da legenda e do tempo de televisão que o partido pode oferecer. "Onde estiver o MDB estará o governo", disse o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.

Durante seu discurso na convenção nacional do DEM, o presidente nacional do MDB, senador Romero Jucá (RR) disse "estender a mão" à legenda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e pediu "união" entre as duas siglas. "Nós temos que buscar a maior e melhor construção política para darmos ao país o seguimento de um rumo que já tomamos agora".

Maia negou os rumores de que sua pré-candidatura pode ser retirada nos próximos meses e seria apenas uma estratégia para aumentar o poder de fogo do partido no momento de negociar alianças.

"Minha candidatura vai decolar, pode escrever. Não tem plano B, pode escrever aí", disse. Nas pesquisas mais recentes, Maia parece com 1% das intenções de voto.

Para atribuir consistência às pretensões eleitorais, o presidente da Câmara listou os feitos conquistados por ele desde que assumiu a presidência da Câmara. "Votamos e aprovamos reformas importantes para o país, como a reforma trabalhista e a do ensino médio. Ainda assim, há alguns que julgam tarefa impossível construir uma candidatura competitiva para mudar o Brasil", lamentou Maia.

Mais aplaudido do que o próprio Maia, o novo presidente nacional do DEM, o prefeito de Salvador ACM Neto disse que não há um "deadline" estabelecido para que a pré-candidatura do presidente da Casa engrene.

Na avaliação dele, há espaço e tempo para que o parlamentar suba nas pesquisas de intenção de voto. "A eleição está aberta e indefinida. Ainda estamos no ponto de partida. Trabalharemos para que a candidatura ganhe musculatura".

Reconhecido por sua capacidade de aglutinar apoio de partidos da base e da oposição, Maia afirmou que não será "só o candidato do DEM". Ele afirmou que vai trabalhar para costurar alianças e ter o apoio de outros partidos. "Quero ser o candidato dos que compreendem a necessidade de renovação política. Serei candidato a mudar o Brasil. Um candidato que saberá ouvir a todos, dialogar com todas as correntes do pensamento, porque nossa tarefa passa a ser construir, até as convenções partidárias, um projeto consistente e viável para o Brasil". Também estavam presentes à pré-convenção os presidentes nacionais do PP, PRB, PSC, SD e representantes do PSDB e PR.

Apesar do perfil conciliador de Maia, aliados do presidente da Câmara admitem que há um longo caminho a percorrer e não descartam a possibilidade de ele desistir da corrida presidencial para tentar a reeleição. Segundo apurou o Valor, o DEM decidirá até junho se mantém a candidatura de Maia ou se vai compor a chapa com algum outro presidenciável. Tudo dependerá do desempenho do parlamentar nas pesquisas. Caso não chegue aos 7% nos levantamentos até o meio do ano, Maia deve recuar e se candidatar à reeleição. Se esse for o desfecho, o DEM deve passar a integrar a chapa de Alckmin.

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Presidente da Câmara garante palanque para seus projetos

Fernando Exman 

09/03/2018

 

 

Decidido a ampliar seu papel na cena político-eleitoral, o DEM lançou ontem a pré-candidatura ao Palácio do Planalto do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. No momento em que a disputa presidencial está indefinida e há espaços a serem ocupados, sobretudo ao centro, o DEM não tem nada a perder. Maia também não: além de se projetar nacionalmente, consolida-se como referência no deteriorado quadro político do Rio de Janeiro e, no mínimo, aumenta as chances de se manter entre os principais nomes do Congresso Nacional na próxima legislatura.

O movimento do DEM é justificável. As recentes pesquisas de intenção de voto apontam um grande número de indecisos ou eleitores que buscam alguma novidade na disputa presidencial. Ao centro, nenhum candidato empolgou até agora o eleitor nem despontou nas sondagens. O próprio Maia não ultrapassa o patamar de 1%.

Maia e seus aliados dizem que a pré-candidatura não é de governo, mas também não terá como ser de oposição. Ele não terá como escapar do desafio de se dividir entre a defesa de ideias que ajudou o governo Michel Temer (MDB) a colocar em prática e fazer acenos aos críticos do governo federal. Em seu discurso de hoje, o próprio Maia citou realizações do seu partido à frente do Ministério da Educação, mas afirmou, por outro lado, que buscará romper o que há de "velho e atrasado" na política, colocando sua pré-candidatura como um instrumento de mudança.

Vestido agora com a roupa de pré-candidato à Presidência da República, o deputado destacou a necessidade de renovação do Estado, do combate ao corporativismo e das ineficiências no funcionalismo público e no setor produtivo. Prometeu fazer o ajuste fiscal e defendeu uma reforma da Previdência, proposta que não colocou em votação no mês passado depois que o governo fracassou na obtenção dos votos necessários.

Com a candidatura de Maia ao Palácio do Planalto, o DEM tenta escrever um novo capítulo da sua história. Na convenção nacional desta quinta-feira, muitos de seus líderes lembraram a ideia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de acabar com o partido. Outros recordaram o processo de desidratação pelo qual a legenda passou com a saída de diversos de seus integrantes para o PSD, de Gilberto Kassab.

O partido se ressente de ter virado um satélite do PSDB nas últimas eleições presidenciais. No governo Temer, porém, passou a comandar o Ministério da Educação e a ter influência no Ministério das Cidades. Conquistou a presidência da Câmara dos Deputados após a queda do ex-deputado Eduardo Cunha - com o apoio do Centrão, a simpatia do Palácio do Planalto e articulações com setores da oposição. Hoje, dirigentes do SD, PP, MDB, PHS, Avante, PSC, PRB, PSDB, PPS e PR foram ao evento prestigiar o lançamento da pré-candidatura de Maia.

O partido pode até não ver seu projeto presidencial decolar e se consolidar, mas ganha força para negociar, por exemplo, a vaga de vice na chapa a ser encabeçada pelo governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin. No mínimo, Maia fortalece seu projeto original: buscar a reeleição e permanecer na presidência da Câmara no próximo biênio. Até mesmo para conseguir levar adiante esse projeto ele deverá manter uma distância regulamentar de Temer e seu impopular governo, uma vez que precisaria novamente de votos de deputados da oposição para se reeleger em fevereiro.

Diferentemente de seus adversários, Maia entra na disputa no exercício da presidência da Câmara. Seja qual for o desfecho, terá poder e disposição para se manter em evidência até que o período de pré-campanha chegue ao fim, em meados do ano. A dúvida que persiste é qual o impacto do lançamento de sua pré-candidatura sobre a pauta da Câmara dos Deputados e a agenda legislativa de interesse do governo até lá.

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Alckmin releva declarações de deputado e diz que DEM merece "desconto"

Fernando Taquari 

09/03/2018

 

 

Com a expectativa de conquistar o apoio do DEM na eleição presidencial, o governador paulista, Geraldo Alckmin, procurou ontem relevar as críticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), ao PSDB. O tucano afirmou que diante da boa relação entre os dois partidos era preciso dar um "desconto" aos aliados.

"A gente tem que dar um desconto. Acho que [as declarações] não diminuem o respeito e a estima que temos pelos Democratas. Foram nossos parceiros no Estado esses anos todos", disse Alckmin no lançamento da campanha "trabalho sem assédio sexual", para conscientizar os servidores públicos do respeito mútuo, especialmente a mulher, no ambiente de trabalho.

Ao jornal "Folha de S. Paulo", Maia declarou que o PSDB não tem chance de vitória na corrida presidencial e classificou como negligência política uma eventual aliança nacional com os tucanos. Alckmin, porém, evitou polemizar com Maia no dia em que o parlamentar foi alçado pelo DEM a condição de candidato ao Palácio do Planalto.

De olho na possibilidade de um acordo no futuro, o tucano disse que a aspiração do DEM era legítima e que Maia tem feito um bom trabalho na Câmara e representa um "grande quadro" do partido aliado. Além disso, pregou a continuidade do diálogo entre as duas siglas ao lembrar que tinha telefonado no dia anterior para o senador Agripino Maia (RN) para parabenizá-lo pelo trabalho à frente do DEM.

Agripino foi recentemente substituído no comando da legenda pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, a quem Alckmin prometeu procurar para garantir a permanência da parceria entre DEM e PSDB. A despeito das observações de Maia, que ainda apontou a rejeição aos tucanos na sociedade como um fardo para a campanha do governador, o tucano repetiu o discurso de que tem o que mostrar aos eleitores.

"O que nós vamos discutir é o futuro do Brasil. Eu tenho o que mostrar. Muitas vezes na política, entre o falar e o fazer existe um abismo. Nós fizemos aqui em São Paulo e em um período muito difícil", disse o governador, acrescentando que vai "suar a camisa" para chegar ao segundo turno. Questionado se Maia também teria o que apresentar na eleição, Alckmin se limitou a dizer que o presidente da Câmara é uma boa liderança da nova geração.

Sem a garantia de apoio do DEM e com o PSB cada vez mais distante, Alckmin negocia acordos com outras legendas. Na quinta-feira, o tucano deve participar, ao lado do aliado e deputado estadual Campos Machado (PTB), do lançamento da Associação de Prefeitos Petebistas no Instituto dos Engenheiros. No ato, que deve contar com a presença de Roberto Jefferson e de 160 petebistas, entre prefeitos e ex-prefeitos, a sigla vai reiterar a promessa de apoio ao presidenciável do PSDB.

Segundo Campos Machado, o PTB tem mobilizado os pré-candidatos a deputado federal e estadual no Norte e Nordeste do país em favor da pré-candidatura do tucano. "Estamos trabalhando para fazer com que ele [Alckmin] seja mais conhecido nestas duas regiões", afirmou o parlamentar. Em outra frente, a sigla discute uma união de forças com sindicatos ligados à UGT com vistas às eleições presidenciais.