Valor econômico, v. 18, n. 4457, 08/03/2018. Política, p. A8

 

Bolsonaro relativiza apoio às privatizações

Marcelo Ribeiro

Fabio Murakawa

08/03/2018

 

 

Com o plenário 2 do setor de comissões da Câmara cheio de militantes e entusiastas de sua pré-candidatura ao comando do Palácio do Planalto, o deputado Jair Bolsonaro oficializou na noite de ontem a sua filiação ao PSL. Em seu discurso - que durou cerca de 40 minutos e foi interrompido em mais de uma oportunidade com aplausos e gritos de "mito, mito" -, o parlamentar do Rio de Janeiro admitiu não entender de economia, mas destacou que vem buscando conhecimento em conversas com especialistas e viagens ao exterior. Bolsonaro evitou dizer ser contrário a privatizações, mas destacou que o que é considerado estratégico para o país precisa ser preservado.

"Reconheço que não entendo de economia e é um mérito dizer que eu não sei. Melhor reconhecer do que fazer errado. Estive nos Estados Unidos para trazer ensinamentos", afirmou Bolsonaro.

Quando o assunto é privatização de estatais brasileiras, Bolsonaro preferiu relativizar e sinalizar que cada caso é um caso. "Uma coisa é comprar a galinha da sua casa, a outra é comprar o galinheiro. Tem país que está comprando terras agricultáveis no Brasil, o nosso subsolo. Não podemos entregar nossas riquezas minerais, nossas terras agricultáveis, nosso subsolo, as nossas linhas de transmissão, nossas hidrelétricas para um país estrangeiro. Sou pelas privatizações, sim, mas o que é estratégico tem que ser preservado. Não é em todos os casos que devemos partir para a privatização".

Em reação ao apoio de eleitores de Roraima que estavam presentes, o pré-candidato do PSL lamentou pelo fato de o presidente Michel Temer não tratar o Estado como prioridade em um momento em que venezuelanos migram para a região. "Roraima é um Estado esquecido porque não tem densidade eleitoral. Nós temos projetos para Roraima. Se eu fosse rei de Roraima, em 20 anos a nossa economia seria próxima a do Japão".

Após se apresentar como um deputado "fora da curva", o político eleito pelo Rio de Janeiro ressaltou que tem "o norte bem definido", o que, em sua avaliação, pode contribuir para que o país retome a credibilidade no ambiente internacional.

"Temos que, no futuro, ser recebidos sem a manta da desconfiança. Nós perdemos a confiança do mundo graças aos péssimos governos que nós tivemos", disse.

Sobre seu preparo para ser presidente, ele ironizou: "Bote na mesma sala Lula, Dilma e eu. Aplique-nos uma prova do Enem. Se eu não tirar uma nota maior do que a dos dois juntos, eu não estou preparado".

Para mudar esse clima de desconfiança dos investidores internacionais em relação ao Brasil, Bolsonaro aposta que o caminho seja a política. Um dos seus cotados para assumir o ministério da Fazenda, caso seja eleito, é o economista Paulo Guedes, que, segundo o parlamentar agora do PSL, saberá como tirar o país da situação em que se encontra. "Caso nós venhamos a ocupar o Palácio do Planalto, temos que negociar com o Parlamento sem o toma lá da cá atual. O que precisamos? De parlamentares que sejam honestos, corretos, respeitosos", disse.

Ao falar sobre seu eventual governo, o deputado do Rio de Janeiro disse que pretende formar um ministério com militares e civis. "Aqueles que me chamam de ditador esquecem que nós militares sempre fomos amantes da liberdade e da democracia. [...] Só tem uma maneira de essa bandeira ficar vermelha: com meu sangue", alfinetou Bolsonaro, fazendo referência à bandeira vermelha do PT.

O parlamentar criticou a maneira com que o governo Temer trabalha para manter a "governabilidade", que, segundo ele, é baseada na "entrega de cargos em ministérios, bancos e estatais a grupelhos políticos". Ele aproveitou ainda para criticar o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que teve um de seus líderes, Guilherme Boulos, lançado como pré-candidato à Presidência pelo Psol. "Eu não sou bom não, mas os outros são muito ruins. A violência se combate com energia e, se for o caso, com mais violência. Nosso parlamento tem que tipificar como terrorismo as ações do MST [na verdade, MTST]. Eles estão tão ousados que terão um candidato a presidente."

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Ainda sem assumir candidatura, Doria lança PPP de R$ 6,9 bilhões

Vandson Lima

08/03/2018

 

 

O prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) anuncia hoje, às 11h, o resultado da licitação da parceria público-privada (PPP) da iluminação pública de São Paulo. Estimada em R$ 6,9 bilhões por todo o período de contrato, a PPP prevê a instalação de 650 mil lâmpadas de LED na cidade. "É a maior PPP de iluminação do mundo", afirmou Doria ontem em Brasília, após almoçar com deputados federais de São Paulo. O Consórcio FM Rodrigues/CLD deverá ser declarado o vencedor da licitação. O Consórcio Walks, que também disputava a PPP, foi excluído do processo porque uma das empresas participantes do consórcio, a Quaatro, é controladora da Alumini, declarada inidônea pelo Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU).

Cumprimentado como "governador" pelos deputados que o acompanharam em almoço em um tradicional restaurante da capital federal - todos fizeram questão de tirar fotos separadamente com ele -, Doria de início desconversou: "O pessoal aqui é bem humorado, né? Reina o bom humor e simpatia. Não sou candidato ainda". Foi rebatido de imediato pela deputada Bruna Furlan (PSDB-SP). "Mas é a nossa vontade".

Doria então afirmou estar ciente de que o prazo está se esgotando. "O relógio já está contando. Percebo a intenção e desejo dos parlamentares, mas temos quatro semanas para essa decisão".

Pela legislação, é preciso se desincompatibilizar do cargo de prefeito para concorrer ao governo até o dia 7 de abril, daqui a exatamente um mês. Para além do calendário, o prefeito ainda precisará enfrentar a contrariedade de parte de seu partido. O PSDB conta com, pelo menos, três outros postulantes e realizará prévias entre os dias 18 e 25 deste mês.

Doria afirmou conduzir conversas com possíveis aliados, incluindo o DEM e o MDB, seja em prol da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República, seja dele próprio como candidato ao governo paulista. "Temos de buscar o maior número possível de grandes e bons partidos. As conversas evoluem no plano nacional e regional", disse Doria. O provável lançamento hoje da candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) como concorrente de Alckmin, para Doria, tende a ser revisto futuramente. "Eu entendo o desejo do presidente Rodrigo Maia de lançar sua candidatura. Mas o tempo é o senhor da razão. O PSDB continuará de portas abertas para construir alianças".

Provável adversário de Doria na prévia do PSDB para a escolha do candidato tucano ao Palácio dos Bandeirantes, o cientista político Luiz Felipe d'Avila também tem se articulado com outras lideranças políticas de olho na construção de alianças. Ontem, ele conversou com o deputado federal Rodrigo Garcia (DEM) sobre a formação de uma chapa conjunta.

"A ideia é estreitar os laços. Até para representar aos militantes que vão votar na prévia um contraponto em relação às especulações de que o ministro [Gilberto] Kassab será o vice do Doria", disse d'Avila. Garcia, no entanto, negou qualquer acerto com vistas à formação de uma chapa com o cientista político e reiterou a intenção de concorrer na sucessão estadual. "Gosto do Felipe [d'Avila]. Porém, sou candidato a governador pelo DEM", declarou.