O Estado de São Paulo, n. 45779, 18/02/2019. Política, p. A4
Interino, general vira o 8° militar no ministério
18/02/2019
Crise. Bebianno deve ser exonerado hoje e oficial deve assumir a Secretaria-Geral da Presidência; setor do governo vê oportunidade para enxugar quantidade de pastas
Reação. Planalto foi avisado de que Bebianno prepararia ‘chumbo grosso’ contra Carlos Bolsonaro, pivô de sua queda
O presidente Jair Bolsonaro convidou o general da reserva Floriano Peixoto a assumir interinamente o ministério ocupado por Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), que deve ser exonerado hoje, após entrar na mira do seu filho, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC). Se executado, o plano vai reforçar a presença dos militares no Planalto. O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, será o único civil entre os quatro ministros que despacham no palácio.
No sábado à tarde, Bolsonaro chamou ao Palácio da Alvorada, residência oficial dos presidentes da República, Floriano Peixoto e o também general Maynard Santa Rosa, que atuam na equipe de Bebianno. Na ocasião, explicou a eles seus motivos para afastar o ministro e os convidou a permanecer. Assim como Peixoto, Santa Rosa também aceitou ficar na Secretaria de Assuntos Estratégicos, cargo subordinado à Secretaria-Geral. A opção por Peixoto foi revelada pelo Estado ontem.
Peixoto assumirá interinamente porque um setor do governo vê na saída de Bebianno uma oportunidade para Bolsonaro reduzir o número de ministérios, hoje em 22. Sua promessa de campanha era ter apenas 15. A Secretaria-Geral tem entre suas atribuições modernizar a administração do governo e tocar os grandes projetos.
A escolha de Floriano Peixoto conta com o apoio de Onyx Lorenzoni, que trabalha para que ele seja efetivado no ministério. Com isso, ele evitaria dividir o comando do núcleo político com alguém do PSL. Por outro lado, Onyx viraria uma vidraça fácil. Ele já foi alvejado no início do governo por suspeitas de caixa 2 e não conta com a simpatia de Carlos Bolsonaro.
Interlocutores do presidente relataram que Bebianno perdeu as chances de continuar no cargo após chegar a Bolsonaro a informação de que ele deixou vazou mensagens de áudio com ordens que recebeu de Bolsonaro. A estratégia tinha o objetivo de desconstruir a versão de Carlos Bolsonaro de que o ministro e o pai não se falaram enquanto ele estava internado no hospital Albert Einstein.
Por ter afirmado ao jornal O Globo que havia conversado três vezes com Bolsonaro, Carlos o chamou de mentiroso. Antes disso, o nome de Bebianno foi citado em esquema de desvio de dinheiro do Fundo Partidário do PSL, o que ele nega.
O ato de exoneração do ministro foi assinado por Bolsonaro ainda no fim de semana e deve ser publicado no Diário Oficial da União de hoje. O objetivo foi ganhar tempo para construir uma saída política para o caso e evitar que Bebianno “saia atirando” contra desafetos.
‘Chumbo’. O Planalto foi avisado de que está sendo preparado “chumbo grosso” contra Carlos Bolsonaro, a quem Bebianno só se refere com adjetivos que desqualificam sua capacidade intelectual. Em conversas, o ministro diz que o “ciúme exacerbado” que Carlos tem do pai foi posto acima do País.
O empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), passou as últimas horas em Brasília ao lado de Bebianno e resumiu: “O melhor seria que cada filho se ocupasse de suas funções parlamentares em vez de ficar o dia inteiro na internet”.
O episódio ajudou os militares a advertirem Bolsonaro sobre os problemas que os filhos podem causar para o governo. O Planalto está paralisado desde sua volta a Brasília. Os militares, que não estão acostumados com troca de farpas por redes sociais, evitavam o tema família com o presidente. “Não dá mais para prosseguir isso”, desabafou um deles, justificando que a crise atrapalha a governabilidade e cria situações insustentáveis. “É muita confusão. Nunca imaginei que seria assim”, observou
MILITARES NA ESPLANADA
Augusto Heleno Ribeiro
Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
General da reserva do Exército
Bento Albuquerque
Ministério de Minas e Energia
Almirante de esquadra
Carlos Alberto dos Santos Cruz
Secretaria de Governo da Presidência
General da reserva
Fernando Azevedo e Silva
Ministério da Defesa
General da reserva e ex-chefe do Estado-Maior
Floriano Peixoto
Secretaria-Geral da Presidência
General da reserva
Marcos Pontes
Ministério da Ciência e Tecnologia
Tenente-coronel da reserva
Tarcísio Gomes de Freitas
Ministério dos Transportes
Formado pelo Instituto Militar de Engenharia
Wagner de Campos Rosário
Ministério da Transparência
Graduado em Ciências Militares pela Academia das Agulhas Negras (Aman)