O globo, n. 31265, 14/03/2019. País, p. 4

 

A impotência diante da rotina de horror

14/03/2019

 

 

Mais cruel, chacina amplia a lista de tragédias em escolas

O game que inspirou os assassinos e como prepararam o ataque

A história das vítimas e a merendeira que salvou vidas

A segurança nas escolas e a realidade e legislação nos EUA

A repercussão em Brasília e o impacto nas leis de segurança

Há poucas cenas mais cruéis do que carros funerários entrando e saindo de um colégio. Ela se repetiu novamente na manhã de ontem, desta vez na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. Além dos dois assassinos, foram oito vítimas — entre 15 e 59 anos, e 11 feridos.

Não é a primeira chacina contra crianças e adolescentes em escolas do país nos últimos anos. Tragédias deste tipo estão se tornando cada vez mais frequentes, transformando em rotina o horror, e sem que autoridades consigam elaborar saídas para a sensação de impotência e choque que toma o país em dias como ontem.

Numa gradação de catástrofes, o caso de Suzano apresenta-se duplamente mais cruel. Primeiro, pelos requintes de covardia adotados pela dupla de assassinos: os tiros à queima-roupa em meio ao corre-corre dos alunos, sucedidos por golpes de machado contra a cabeça inclusive de quem já havia sido morto.

Também diferencia esta tragédia a abundância de imagens, principalmente as registradas pelas câmeras de segurança de dentro da escola. As cenas de horror se replicaram ao longo da quarta-feira pelas redes sociais e celulares do país, aproximando os brasileiros da desgraça em Suzano.

Além da dinâmica detalhada de como tudo ocorreu na manhã de ontem, outros aspectos do caso vão pautar a busca de explicações e soluções daqui para a frente.

O perfil dos dois algozes indica a inspiração em um jogo de vídeo game para o crime de ódio que vinha sendo planejado há meses.

As histórias de quem morreu, dos sobreviventes e de heróis que evitaram mais mortes dá rosto à lista de vítimas.

E o debate sobre segurança e prevenção a tragédias, quando a reincidência de episódios análogos — “violências como essa não fazem parte da nossa cultura”, disse o presidente do STF, Dias Toffoli —, parece aproximar o Brasil da realidade de países como os EUA.

Prioridade do governo federal, a legislação armamentista passa a ser discutida num cenário afetado pela tragédia. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, responsável por pautar projetos de lei relativos a posse e porte de arma, declarou ontem que considera o porte em áreas urbanas um caminho para a “barbárie”.