O globo, n. 31269, 18/03/2019. Mundo, p. 17

 

Brasileiros ilegais são ‘vergonha’, diz Eduardo Bolsonaro

18/03/2019

 

 

Deputado minimiza polêmica mais tarde e acusa imprensa: ‘Não vão conseguir jogar nossa comunidade no exterior contra mim’

O deputado federal Eduardo Bolsonaro minimizou ontem as declarações feitas por ele na noite anterior de que brasileiros ilegais no exterior são uma “vergonha nossa”. Entretanto, em entrevista ao vivo à Record News, o filho do presidente Jair Bolsonaro enfatizou que o Brasil não vai permitir migração irregular em nenhum lugar do mundo.

— A declaração foi para dizer que o Brasil tem responsabilidade com seus nacionais e não vai ficar permitindo que brasileiros entrem, facilitando, melhor dizendo, a entrada de brasileiro em qualquer lugar que não seja da maneira legal — disse Eduardo, eleito na última quinta-feira presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Na noite de sábado, ao ser perguntado sobre a situação dos brasileiros que entram de forma ilegal nos EUA, o deputado respondeu:

— Um brasileiro ilegalmente fora do país é problema do Brasil, isso é vergonha nossa, para a gente. Uma pessoa, um brasileiro que vai para o exterior e comete qualquer tipo de delito, eu me sinto envergonhado —afirmou. —Por exemplo, aqueles traficantes quando foram para a Indonésia e condenados à morte, eu fiquei com vergonha, poxa.

Na entrevista ontem, o deputado atribuiu à imprensa a repercussão negativa de sua declaração, feita quando comentava a possibilidade de o governo brasileiro isentar americanos da exigência de vistos para entrar no Brasil, sem a contrapartida dos EUA para brasileiros.

— Não vejo como um desgaste da minha imagem. E certamente no final do dia as pessoas vão entender o que eu quis dizer—minimizou.

No Twitter, Eduardo publicou o trecho da entrevista, no qual afirma que se referiu a brasileiros que cometem crimes no exterior, citando o caso do carioca Marco Archer, executado pelo governo da Indonésia após ser detido contrabandeando cocaína para o país asiático, em 2004. “Não vão conseguir jogar a comunidade brasileira no exterior contra mim”, afirmou na rede social.

O diplomata Paulo Roberto de Almeida, demitido no início do mês da direção do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), após desavenças com o chanceler Ernesto Araújo e o escritor Olavo de Carvalho — apontado como guru do governo Bolsonaro —, criticou as palavras de Eduardo.

“De fato, é uma vergonha um representante eleito do povo brasileiro atacar de forma vil a comunidade brasileira de trabalhadores ordeiros que se esforçam em atividades dignas nos EUA, porque não tiveram no Brasil a chance de viver à sombra de políticos como certo trumpista vulgar.”

Questionado sobre o pequeno protesto realizado em frente à Casa Branca contra o presidente Jair Bolsonaro, o parlamentar disse que via o ato “com muita felicidade”, uma vez que “estava triste” porque a primeira notícia que recebeu é que não haveria manifestação.

— Ninguém está livre de críticas. Não é nossa pretensão que o governo Jair Bolsonaro seja livre de críticas.