O globo, n. 31269, 18/03/2019. País, p. 6

 

Bebianno pode voltar à cena nas eleições de 2020

18/03/2019

 

 

Ex-secretário-geral da Presidência conta que voltou a conversar por áudio de WhatsApp com Bolsonaro, e diz não ter mágoa do presidente. Ex-ministro vai tirar período sabático e tem convites de outras siglas para sair do PSL e concorrer no Rio

Um mês após deixar o governo de Jair Bolsonaro, o ex-ministro Gustavo Bebianno diz que não tem raiva do presidente e avalia que entrou em rota de colisão com o Palácio do Planalto por “buscar um tom mais equilibrado”. Apontado como homem-bomba em consequência de sua conturbada demissão, ele afirma estar desarmado. Mas não descarta voltar à política — e não necessariamente pelo PSL.

O advogado recebeu O GLOBO em seu flat em Brasília. Na última quinta-feira, ele fez o check-out definitivo no hotel Golden Tulip, nos arredores do Alvorada, seu endereço em Brasília nas sete semanas em que esteve à frente da Secretaria-Geral da Presidência. Foi embora dizendo que “momentos de raiva” e “a mágoa” ficaram para trás.

Bebianno diz ter sido sondado por outros partidos com propostas para as eleições municipais no Rio. Hoje, o deputado estadual Rodrigo Amorim, que quebrou a placa de Marielle Franco, apresenta-se como o précandidato do PSL carioca:

— Nesse desfecho ruim, eu fiquei muito exposto. Será que devo usar de alguma forma essa exposição para uma carreira política? É um ponto de interrogação. A única coisa que eu sei é que preciso de um período sabático. Preciso me distanciar, curtir minha família, olhar para a minha saúde. Meu primeiro projeto é emagrecer 20 quilos. Daqui a alguns meses pode ser que haja alguma decisão de cunho político —diz Bebianno.

O ex-ministro planeja se dividir, nos próximos seis meses, entre a Praia do Leblon, na Zona Sul da cidade, e um sítio na Região Serrana do Rio, num período de “desintoxicação” e “higienização mental”.

Bebianno conta que, desde que deixou o cargo, falou com o presidente Jair Bolsonaro uma vez, pelo WhatsApp, para avisar que não cobrará honorários nos cerca de 300 processos judiciais em que o representa.

— Nós nos falamos uma vez após minha saída. Foi uma conversa tranquila, na verdade uma troca de áudios de WhatsApp em que eu disse ao presidente que não se preocupasse porque ele não me devia nada — conta o ex-ministro.

Primeira baixa

A situação que culminou na primeira baixa do governo se deu após o então ministro afirmar ao GLOBO que havia falado três vezes com Bolsonaro num mesmo dia em meio a rumores de que seria protagonista de uma crise no governo. A declaração fora feita para negar que vivia um desgaste no Planalto com as suspeitas de candidaturas laranjas no PSL.

O vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, desmentiu Bebianno nas redes sociais. Em seguida, Jair Bolsonaro replicou a publicação.

Após a saída do então secretário-geral, o presidente, em áudio publicado pelo GLOBO,relatou preocupação com o custeio das ações judiciais em que era representado por Gustavo Bebianno.

Sem citar Carlos Bolsonaro, o ex-ministro defende que as redes sociais do presidente sejam geridas por uma equipe profissional e “menos improvisada”. Segundo ele, polêmicas geradas por pautas de costumes, como o vídeo obsceno divulgado por Bolsonaro no carnaval, tiram o foco das propostas do governo.

— Acabam gerando um desgaste desnecessário, polêmicas em torno de assuntos que não deveriam ser prioridade —diz.