Título: Advogados apontam contradições do MPF
Autor: Abreu , Diego
Fonte: Correio Braziliense, 09/08/2012, Política, p. 4

Os advogados dos réus do chamado núcleo financeiro do mensalão sustentaram ontem versões semelhantes e desqualificaram as acusações feitas pelo Ministério Público Federal (MPF). Primeiro a falar, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, representante do ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado, apontou contradições nas alegações finais do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e responsabilizou uma única testemunha pela inclusão de Salgado no rol de réus do mensalão. Bastos acusou Carlos Godinho, ex-funcionário "de terceiro escalão" do Banco Rural, de ter prestado falso testemunho. Segundo o advogado, Godinho lançava mão de uma política extremamente agressiva em entrevistas e depoimentos. "Para tentar escapar dos riscos que ele imaginava correr pela sua atuação, saiu para a agressão. Foram 30 testemunhas de acusação. Nenhuma citou José Roberto Salgado. Só esse Carlos Godinho, que lançou intrigas e fofocas", frisou o ex-ministro.

A defesa acrescentou que Salgado atuava na área internacional do Banco Rural, tendo assumido a vice-presidência da instituição somente em meados de 2004, após a morte de José Augusto Dumont, e que, portanto, não teve qualquer responsabilidade sobre a concessão e a renovação de supostos empréstimos ilegais. Bastos apontou ainda que a denúncia fez 21 referências ao antecessor, mas em nenhuma apontou "qualquer referência individualizada" a Salgado.

Márcio Thomaz Bastos classificou a acusação de "construção mental" e se dirigiu aos 11 ministros do Supremo para pedir "duplo cuidado" para julgar os réus, já que o julgamento se dá em instância única. Ele se referia ao pedido que fez na semana passada para que o caso fosse desmembrado a fim de que os acusados sem foro privilegiado fossem julgados pela Justiça de primeiro grau.

Representando a ex-vice-presidente do Banco Rural Ayanna Tenório, o advogado Antônio Mariz de Oliveira argumentou que nenhuma prova foi apresentada contra ela pelo MPF. O defensor também culpou Godinho por contar inverdades. "Ela está sendo responsabilizada pelo organograma. É a responsabilidade de papel, não é a responsabilidade de conduta", afirmou. Segundo ele, a ré não participava da gestão do setor financeiro do banco. "Nenhuma conduta é imputada a Ayanna, nenhum fato."

O advogado do ex-diretor do Banco Rural Vinícius Samarane, Maurício Campos, destacou que o Banco Rural não causou prejuízo a nenhum correntista e lembrou que o réu só virou diretor em abril de 2004, depois da concessão dos empréstimos questionados pela PGR. "As operações tão criticadas foram tratadas por José Augusto Dumont, não irresponsavelmente, como quer dizer a acusação."